Em julho do ano passado, o Banco Central Europeu (BCE) acabou com as taxas de juro zero ou negativas para combater a subida galopante da inflação. Os efeitos, como reflete a Allianz Trade, acionista da COSEC – Companhia de Seguro de Créditos, no estudo recente Rates, not Roses, “fizeram-se sentir nos vários atores económicos, assim como nas várias economias, incluindo Portugal”.
O estudo revela que as famílias na zona euro “estiveram entre os atores económicos que perderam com as taxas de juro negativas.”, acrescentando que, apesar das taxas para os novos depósitos e empréstimos para as famílias “estarem também a subir, o ritmo comparado com o que está a ser aplicado pelos bancos centrais é muito mais lento”.
“Analisando se as mudanças nas taxas de juro já chegaram realmente à economia, percebemos que, para os agregados familiares, a resposta é sim e não”, diz Arne Holzhausen, Head of Insurance, Wealth and Trend Research da Allianz Trade.
E explica: “A taxa de juro média ponderada dos novos empréstimos já escalou em alguns países: o aumento ao longo de 2022 (janeiro a novembro) varia, indo desde os 24 pontos-base em França, aos 97 pontos base na Alemanha. Já a média na Zona Euro ascende a 58 pontos-base. Embora seja percetível este aumento acompanha a alteração nas taxas de juro de referência. O retrato no que diz respeito aos novos depósitos é muito parecido, com os aumentos a irem desde os 5 pontos base em Portugal e os 106 pontos base na Finlândia”.
No entanto, no caso dos empréstimos para as empresas, “a subida das taxas de juro de referência ainda não tiveram impacto”.
Fazendo as contas, em média, no ano passado e na Zona Euro, as taxas de juro caíram mais devido a taxas de juro fixas a longo prazo. “Apenas em dois países, de acordo com os especialistas da acionista da COSEC, – Portugal e a Finlândia – tiveram aumentos de mais de 20 pontos base nas taxas de juro médias para empréstimos a companhias, algo que pode dever-se ao número de créditos com taxa variável”.
Setor público
Com a evolução das taxas de juro, por parte do BCE, “o setor público na área do euro, que se financia sobretudo no mercado, já começa a sentir os efeitos”. E que efeitos são esses? “O pagamento de juros subiu quase 20% para 207 mil milhões de euros no ano passado, o que representa o valor mais elevado desde 2017. Ainda assim, é possível dizer que o setor público na Zona Euro continuou a ser um dos vencedores da política de taxas de juro negativas: as variações anuais nos pagamentos de juros líquidos levaram à geração de uma poupança total de 405 mil milhões de euros”.