Uma companhia aérea de bandeira transporta consigo uma identidade própria, uma cultura e uma língua, para além de heranças e legados ancestrais, correspondendo às especificidades territoriais e continentais de cada país. No caso português, tem um significado e uma relevância inigualáveis, insuscetíveis de se perderem, seja em que circunstância for, tendo em conta os superiores interesses do espaço lusófono onde Portugal se insere, a par das suas ilhas atlânticas e das comunidades de emigrantes espalhadas pelo mundo.
Nas asas da TAP, não voam apenas portugueses ou turistas à procura da luminosidade e das praias nacionais. São transportados diariamente cidadãos da Lusofonia e viabilizados interesses económicos da maior relevância, respeitando compromissos internacionais, garantindo acessos frequentes às ilhas e realizando voos humanitários, de evacuação ou de fornecimento de bens de primeira necessidade, junto dos países com quem Portugal reparte uma história incomparável.
Membro da Star Alliance, a maior aliança global de companhias aéreas do mundo, a TAP serve 7 deslocações domésticas e voa para 81 destinos internacionais em 33 países, assegurando, até à data, as condições mínimas exigíveis à sua importância, através das ligações ainda existentes.
Numa altura em que se prepara uma nova privatização da TAP, desta vez por imposições europeias, que se retirem todas as ilações da anterior entrega a privados, envolta num processo pouco claro e despachado à pressa nos últimos dias de governo de Passos Coelho. Para que sejam disponibilizadas as rotas mais rentáveis e apetecíveis, geradoras de um enorme lucro e apenas possibilitadas pelo facto do nosso país ser quem é no panorama internacional, terá de existir o firme compromisso de manter as conexões com os países de expressão portuguesa, com os Açores e a Madeira face às circunstâncias da insularidade, e com as diversas comunidades portuguesas, num equilíbrio sustentável e cumprindo os mais rigorosos critérios de qualidade e de regularidade.
Chegou o momento de aprender com os erros do passado. Tal como a missão e a responsabilidade social da TAP se deterioraram substancialmente durante a última gestão privada, a exemplo de outras privatizações de serviços públicos que prejudicaram gravemente as populações, o novo concurso público para a privatização da companhia aérea nacional não pode deixar de contemplar, como obrigações contratuais impostas aos futuros acionistas, as condições acima referidas e a manutenção da sede de operações em Lisboa.
As recentes notícias acerca da anterior e da atual gestão da TAP, cujas responsabilidades devem ser apuradas, não podem desviar o foco da opinião pública sobre as exigências para o futuro, porque Portugal tem de honrar as suas obrigações junto de quem fala português.