Há músicas atemporais. Não é difícil imaginar a sala de espetáculos mais emblemática do país esgotada, com milhares de pessoas a cantar em coro «As saudades que eu já tinha/ Da minha alegre casinha». Mantendo exatamente as mesmas circunstâncias – o local e a canção – mas pensar nesta hipótese perante um público exclusivamente jovem, das duas uma: poderia dar-se o caso de adaptação rápida da letra para termos mais adequados, caso de quartinho ou camarata, ou tratar-se apenas de um sketch. Mas o problema da habitação é caso sério e os relatos são prova do desespero, com ofertas impossíveis de acompanhar ou espaços comparáveis a Contentores. Sim, sim, Para Ti Maria, João, Manuel, Carolina… No final do leilão, para o que conseguir adiantar mais meses de renda. Mas calma, ainda há esperança. O Governo aciona o modo À Minha Maneira e chega-se à frente com o pacote de medidas para a habitação. E de repente lá se foi a esperança, fica apenas a Esperança, que continua à procura de casa para arrendar com mais quatro colegas. Não, não é a Única, Não É a Única a olhar o céu, a ver os sonhos partirem…
Os jovens continuam a Remar, Remar e assim as manifestações pelo direito à habitação ganham cada vez mais eco. O descontentamento é geral, com a participação nas ruas a evidenciar-se cada vez mais como uma constante – da luta dos professores, com o novo fôlego do STOP, ao movimento Vida Justa.
O ideal seria acreditar na possibilidade de resolver os problemas na mesa de negociações. Mas o ideal também já se provou utópico.
Encontrar soluções e acordos viáveis torna-se urgente, porque «a vida vai torta/jamais se endireita». A vida e o seu Circo de Feras, com a escalada da insatisfação a ocupar cada vez mais espaço… Mas Xutos & Pontapés só mesmo numa sala de espetáculos – e, já agora, com razão para se cantar A Minha Casinha.