O objetivo primordial era claro: pôr fim à incerteza e às divergências sobre o estatuto comercial da Irlanda do Norte. A reunião de segunda-feira entre o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, terminou com a assinatura de um acordo que visa também resolver as tensões causadas pelos acordos pós-Brexit, em 2020, que tiveram um efeito de bola de neve – levaram ao colapso do governo regional da Irlanda do Norte, abalaram o processo de paz de décadas e azedaram os laços entre o Reino Unido e a União Europeia.
«O acordo de hoje está escrito na linguagem das leis e tratados. Mas, na verdade, é muito mais do que isso», disse Sunak. «Trata-se de estabilidade na Irlanda do Norte. É sobre pessoas reais e negócios reais. Trata-se de mostrar que a nossa união que dura há séculos pode e vai perdurar», realçou.
Conhecido como «estrutura de Windsor», este acordo «vai além do esperado», descreve o jornal The Guardian, uma vez que oferece ao governo do Reino Unido um «travão de emergência» nas novas leis da União Europeia aplicadas na Irlanda do Norte caso estas não tenham a concordância dos políticos desta região.
No entanto, Von der Leyen enfatizou que este era um mecanismo de emergência e que o Tribunal Europeu de Justiça teria a palavra final sobre as questões do mercado único.
O acordo criará ainda uma nova rota para os comerciantes, eliminando as restrições comerciais entre a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte. Haverá maior facilidade em relação ao transporte de medicamentos, carnes refrigeradas e animais de estimação no Mar da Irlanda.
Este documento foi a solução encontrada para evitar uma fronteira física terrestre entre a província britânica e a República da Irlanda, país membro da União Europeia, de forma a respeitar os acordos de paz de 1998.
O protocolo deixa a Irlanda do Norte alinhada com as regras do mercado único europeu e impõe controlos aduaneiros sobre os bens que chegam do resto do resto do Reino Unido.
Além da importância para a Irlanda do Norte, este acordo também ajuda a diminuir o clima de incerteza que o Brexit criou no Reino Unido.
«Embora o Reino Unido sofra um impacto duradouro no seu potencial de crescimento após a decisão de aumentar as barreiras comerciais com a União Europeia, o principal fator que impede a economia do Reino Unido desde o referendo tem sido a incerteza», explicou o economista senior da Berenger, Kallum Pickering, à CNN.
«O Reino Unido precisa de toda a ajuda possível», defende um artigo publicado pela cadeia norte-americana, que explica por que pode o acordo trazer uma nova «esperança» à economia do Reino Unido. «Esta é a única grande economia que deve encolher este ano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional, e ainda não recuperou a sua dimensão pré-pandêmico».
Uma relação mais próxima
Segundo especialistas em comércio, este novo acordo acaba com a «ameaça» de uma guerra comercial Reino Unido-União Europeia e aumenta a boa vontade entre os duas partes, o que poderá significar um impulso à confiança empresarial.
O entendimento abre ainda caminho a uma maior cooperação noutras áreas, o que poderia «libertar» o tão necessário investimento no Reino Unido.
«Acho que é um momento importante», disse o diretor do Reino Unido do think-tank European Centre for International Political Economy, David Henig, à CNN.
Apesar de não se esperar um impacto imediato no comércio, este acordo assinala «uma nova etapa» no relacionamento, ao afirmar: «O Reino Unido e a União Europeia estão a tentar fazer mais juntos», disse Henig.