Após vários dias de intensas batalhas, o chefe do grupo paramilitar russo Wagner revelou, na quarta-feira, que as tropas tinham tomado «toda a parte oeste» da cidade ucraniana de Bakhmut.
«As unidades de Wagner tomaram toda a parte oeste de Bakhmut, tudo o que fica a leste do rio Bakhmutka», disse Yevgeny Prigozhin, através de uma mensagem áudio.
A pressão tem aumentado no campo de batalha enquanto as forças ucranianas tentam defender Bakhmut, enfrentando os avanços russos e a ameaça de cerco. Contudo, a situação esteve longe de ser fácil para o grupo russo.
O líder da Wagner reclamou da falta de munição fornecida por Moscovo.
Prigozhin enviou um vídeo onde revelava «temer» que as suas tropas estivessem a ser «armadas» para assumirem as culpas caso a Rússia perdesse a guerra com a Ucrânia, acrescentando que sem o grupo Wagner a linha de frente da Rússia entraria em colapso em Bakhmut.
«Se recuarmos, entraremos para a história como as pessoas que deram o passo principal para perder a guerra», afirmou o líder do grupo paramilitar, citado pela BBC. «Se o Grupo Wagner abandonasse Bakhmut, toda a frente que construímos iria desmoronar-se», acrescentou.
Além deste «alerta», o chefe do grupo mercenário sugeriu ainda que os seus homens podiam estar a ser alvo de uma possível «traição» depois de ter sido reportado um atraso no envio de munições para estas tropas enquanto estavam a defender Bakhmut.
«A três de março, escrevi uma carta ao comandante do agrupamento da operação militar especial sobre a necessidade urgente de reabastecer munições», escreveu Prigozhin no Telegram, citado pela Anadolu Agency.
«Os documentos foram assinados no dia 22 de fevereiro à noite e os pedidos de embarque foram dados em 23 de fevereiro, mas a maior parte da munição ainda não foi enviada. Por enquanto, estamos a tentar descobrir o motivo – a burocracia usual ou uma traição», argumentou.
O Ministério da Defesa da Rússia negou estas acusações, afirmando que os problemas com o fornecimento de munição não eram «factuais» e que todos os pedidos do grupo de mercenários foram respondidos «o mais rápido possível».
Resistência ucraniana
Apesar da grande pressão do Grupo Wagner, as forças ucranianas continuam a defender Bakhmut, algo que, por si só, já está a ser considerado uma vitória.
«Esta é uma vitória. O facto de que os nossos soldados estão a destruir as unidades mais poderosas e profissionais do Grupo Wagner durante vários meses seguidos», disse a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Maliar, citada pelo Al Jazeera.
«O inimigo tem forças superiores em termos de mão de obra e armas, mas nestas condições, os nossos combatentes enfrentam com grande coragem o inimigo de igual para igual», acrescentou.
A batalha por Bakhmut dura há sete meses, com milhares de pessoas mortas e centenas de prédios destruídos. Segundo o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, os poucos civis que ali permanecem estão confinados a caves, sem água corrente, eletricidade ou gás, escreve o Guardian.
Contudo, apesar dos rumores de uma retirada iminente das suas tropas, Zelensky, instruiu o exército a encontrar forças para reforçar a defesa da cidade.
«Disse ao chefe de gabinete para encontrar as forças apropriadas para ajudar as tropas em Bakhmut», cita o jornal inglês. «Não existe parte da Ucrânia sobre a qual se possa dizer que pode ser abandonada», reforçou o Presidente durante o seu discurso noturno à nação.
Autoridades ucranianas afirmam que esta insistência em defender a cidade (onde são reportadas cerca de 100 a 200 baixas por dia) deve-se mais a motivos políticos e simbólicos do que «práticos», uma vez que abandonar, agora, esta cidade, depois de tantos soldados mortos que lutaram para a defender, seria uma realidade «difícil de enfrentar», escreve o Guardian.
O Presidente da Ucrânia afirmou que a retirada de Bakhmut iria «abrir o caminho» para as forças russas atacarem cidades vizinhas controladas pela Ucrânia, nomeadamente, Kostiantynivka e Kramatorsk.
A pressão russa em Bakhmut começou em julho e intensificou-se no outono após Moscovo mobilizar milhares de homens, entre os quais se encontravam prisioneiros russos que se alistaram com a promessa de liberdade após seis meses de serviço.