Desafiar as leis da física a todo o ‘gás’

Os melhores pilotos do mundo aceleram, este fim de semana, em Portugal, perante mais de 80 mil espetadores. É o início de uma longa temporada com 42 corridas! Miguel Oliveira mudou de equipa e tem muito para mostrar.

por João Sena

A ‘montanha-russa’ de Portimão abre as hostilidades do MotoGP 2023. Os pilotos não vão ter descanso esta época: aos 21 grandes prémios juntam-se as provas de sprint, pelo que haverá 42 corridas entre março e novembro. O campeonato começa em Portugal, dá a volta ao mundo e termina em Espanha, com passagem por dois novos países no continente asiático: Cazaquistão e Índia. O mundial de motociclismo é disputado pelas categorias MotoGP (1000 cc), Moto2 (765 cc), Moto3 (250 cc) e MotoE (motor elétrico). Miguel Oliveira continua a ser o único piloto português em pista.

Como as corridas sprint valem pontos para o campeonato, os pilotos vão mudar profundamente a sua atitude ao longo do fim de semana, e a categoria principal ganha maior adrenalina. Esta novidade tem também implicações na forma das equipas trabalharem. Como têm menos uma sessão de treinos, são obrigadas a ser muito mais assertivas na afinação das motos.

Com o abandono da Suzuki, o Mundial vai ser disputado por 11 equipas, de cinco construtores (Aprilia, Ducati, Honda, KTM e Yamaha), sendo que a RNF (a nova equipa da Miguel Oliveira) trocou a Yamaha pela Aprilia. Também a Ducati, Honda e KTM têm equipas satélites em pista. Há sete pilotos que trocaram de cores, entre os quais três vencedores de corridas: Miguel Oliveira (RNF), Enea Bastianini (Ducati) e Jack Miller (KTM). O campeão de Moto2, Augusto Fernández (GASGAS), faz a sua estreia na categoria rainha.

 

Ducati sem rivais

As equipas trabalharam intensamente no desenvolvimento das motos para 2023. Os testes de Portimão serviram para validar as novas afinações de motor e encontrar o melhor acerto para as fantásticas, complexas e potentes motos de 270 cv, capazes de atingir 360 km/h. Já os pilotos aproveitaram ao máximo para experimentar as novidades.

O campeão Francesco Bagnaia quer revalidar o título, mas a concorrência não descola, nomeadamente Fabio Quartararo e a lenda Marc Márquez. Já se percebeu que as Ducati de Bagnaia e Bastianini são o alvo a abater. A moto deste ano foi construída ao gosto de Bagnaia e parece ser perfeita para o estilo de condução do campeão do mundo. Não admira que tenha batido o recorde do circuito algarvio – se é assim em testes, quando for a sério… Nos seis dias de treinos realizados na pré-época foram sempre mais rápidas. Por aquilo que se viu em Portimão, as performances, fiabilidade e estabilidade da moto deixaram a equipa bastante otimista.

A Honda quer recuperar o estatuto de candidata ao título com uma equipa de campeões do mundo: Marc Márquez e Joan Mir, mas os testes não deixaram os pilotos muito confiantes, pelo que dificilmente conseguirá grandes resultados nas primeiras corridas. A moto deste ano tem novidades a nível de motor para satisfazer a vontade de Márquez, que está ansioso por voltar a ganhar e melhorar o seu impressionante palmarés, onde já constam oito títulos mundiais.

A Yamaha trabalhou bastante a nível de motor para ganhar velocidade de ponta e potência, e melhorou outros elementos da moto da Fabio Quartararo e Franco Morbidelli. Os tempos realizados por Quartararo mostram que a equipa evoluiu com o motor de 2023 e o package aerodinâmico do ano passado.

Aleix Espargaró e Maverick Viñales vão dispor de uma Aprilia completamente revista, com motor mais evoluído, novos escapes e soluções inovadoras a nível aerodinâmico concebidas por Marco de Luca, que já trabalhou nesta área na Fórmula 1 com a Ferrari e a Benetton. No ano passado ficou em terceiro lugar entre os construtores e o objetivo para 2023 é terminar em segundo, já que dificilmente conseguirá lutar pelo título. Alguns desses melhoramentos vão chegar à moto de Miguel Oliveira de modo a aumentar a sua competitividade.

A KTM estreou um novo motor, mas a falta de aderência do pneu traseiro continua a ser um problema para Brad Binder e Jack Miller. A equipa austríaca tem de trabalhar bastante para encontrar o melhor acerto da moto, até agora os engenheiros e a eletrónica têm estado em registos diferentes.

 

O desafio de Miguel Oliveira

Na quinta época no MotoGP, o piloto português vai alinhar na RNF, equipa satélite da Aprilia, com o duplo desafio de se adaptar à nova equipa e demonstrar que é rápido com uma moto de 2022, embora melhorada. Vencer em Portugal é o seu primeiro objetivo, mas acredita que pode fazer mais. «Em teoria, temos tudo para fazer uma boa época», disse. Nos testes de Portimão realizou o 11.º tempo, logo atrás da Aprilia oficial, fez bastantes quilómetros com a nova moto e está confiante para a primeira corrida. «Senti-me bem na moto. Consegui manter um ritmo rápido ao longo de todo o dia, o que é bom, embora gostasse de estar um pouco mais acima na classificação. Infelizmente, durante o time attack tive uma pequena queda, estava a puxar e não havia nada a fazer. Temos algum trabalho a fazer, só preciso de começar o fim de semana de corrida para ver onde estamos», concluiu o piloto.

 

Corridas Sprint

A grande novidade desta época são as corridas sprint, que se vão realizar sábado à tarde e têm 50% da distância total do grande prémio. Vai ser um novo desafio para os pilotos, que vão procurar a performance pura, já que não têm de se preocupar com a gestão dos pneus e com o consumo de combustível como acontece na prova principal, o que vai tornar as corridas bastantes disputadas. A grelha de partida para a corrida sprint e para o grande prémio é definida pela qualificação de sábado. Na corrida sprint pontuam os nove primeiros classificados, pontos esses que contam para o campeonato e podem ter uma importância decisiva na atribuição do título.

 

Invasão de pista

Outra novidade acontece já depois da corrida principal terminar. A cerimónia de pódio vai ser mais longa e espetacular, e é permitida a invasão de pista pelos fãs para assistirem de perto à cerimónia. «Depois dos sacrifícios incríveis que fizemos para manter o campeonato no período do covid, é altura de dar maior exposição ao MotoGP na televisão, mas também aos espetadores», referiu o português Jorge Viegas, presidente da Federação Internacional de Motociclismo. Antes da corrida principal, os pilotos vão circular pelo circuito durante 30 minutos fazendo vários pit stops para contactar com o público que está nas bancadas.