A inflação desacelerou em fevereiro pelo quarto mês consecutivo, mas, mesmo com o abrandamento, o indicador mantém-se num nível historicamente elevado. A taxa foi de 8,2% no mês, o que na prática significa que o índice de preços no consumidor está 8,2% acima do que se verificava no mesmo mês do ano passado, altura em que eclodiu a guerra na Ucrânia, o que agravou a pressão inflacionista na Europa.
Apesar do ligeiro abrandamento da taxa de inflação, o preço dos alimentos continuam a subir e há produtos que estão a ser vendidos nos supermercados portugueses acima dos valores de venda noutros países europeus com economias mais fortes, como Espanha, França ou Alemanha.
O jornal pegou na calculadora e, tendo como referência o cabaz alimentar distribuído no âmbito do Programa Operacional de Apoio às Pessoas, elaborado pela Direção-Geral de Saúde, procurou comparar quanto gastam os portugueses quando vão ao supermercado comprar comida relativamente aos vizinhos europeus.
Para esta análise, reduziu-se o cabaz a uma lista de 17 produtos (foram excluídos produtos específicos da dieta portuguesa, como a bolacha Maria, as conservas de peixe e a marmelada) e foram selecionados produtos de marca branca da única cadeia de supermercados online com presença em Portugal, Espanha e França (Auchan) e de uma das maiores cadeias de supermercados da Alemanha (Aldi). Procurou-se também comparar o preço de produtos com embalagens de quantidades iguais.
O cabaz em análise é composto por leite meio gordo, queijo meio gordo, arroz, massa (esparguete), cereais de pequeno almoço (cornflakes), tostas, feijão em lata, grão de bico em lata, ervilhas em lata, frango inteiro, pescada congelada, tomate pelado em lata, brócolos, espinafres, cenoura, azeite e creme vegetal.
Perante a mesma lista de produtos, foi possível concluir que em Portugal se praticam preços mais elevados em certos produtos relativamente a Espanha (por exemplo, no queijo, na massa, nos enlatados e em certos vegetais como brócolos, espinafres ou cenouras). Já relativamente a França ou à Alemanha os preços em Portugal são na generalidade mais baratos, sendo que as maiores diferenças verificam-se ao nível do preço da carne e peixe, azeite, arroz e tostas.
Contudo, quando comparados os valores dos enlatados e dos vegetais, os portugueses tendencialmente pagam mais que os alemães e franceses.
Ainda assim, é possível comprar os mesmos produtos com a mesma quantidade e pagar menos em Portugal do que em Espanha, França ou na Alemanha. Somando os diferentes valores, um consumidor português pagaria 31,21 euros por este cabaz, um espanhol pagaria mais alguns cêntimos (31,91 euros), um alemão quase cinco euros mais (35,83 euros) e o consumidor francês gastaria cerca de dez euros mais (40,63 euros).
No entanto, apesar de Portugal não ser o país onde o valor total da compra deste cabaz é mais caro, a taxa de esforço na compra destes produtos alimentares é maior, comparativamente com os países analisados, que têm salários substancialmente mais altos.
Tendo em conta os salários mínimos de cada país, o i calculou também que percentagem representa o custo do cabaz alimentar nos rendimentos. No caso português, este cabaz alimentar representa 4,11% do salário mínimo nacional (760 euros). Já no caso espanhol, o preço deste cabaz apenas representaria 2,95% do salário mínimo (1080 euros). Em França, representaria 2,47% do salário mínimo (1645,58 euros) e na Alemanha representaria apenas 1,81% do salário mínimo (1981 euros).
Assim, a taxa de esforço dos portugueses é mais do dobro da dos alemães, uma vez que os salários são substancialmente mais baixos.
Por cá, o Governo prepara-se para avançar com a isenção do IVA no cabaz de produtos alimentares para dar alguma folga à carteira das famílias. A medida insere-se no novo pacote de ajudas para mitigar o aumento do custo de vida. Aqui ao lado, no final de dezembro, o Governo espanhol de Pedro Sánchez eliminou a taxa do IVA em alimentos de primeira necessidade, como o pão, o leite, o queijo, os ovos, a fruta, os legumes e leguminosas, as batatas e os cereais. Mas o aumento dos preços dos alimentos na origem engoliu completamente o alívio dado pelo Executivo espanhol para fazer frente ao custo de vida. Resta saber o que pode fazer o Governo de António Costa para que os mesmos esforços não saiam frustrados, como aconteceu em Espanha.