Por João Sena
O selecionador nacional Roberto Martínez teve a melhor estreia possível e continua sem perder em fases de apuramento para o Campeonato da Europa. Já Portugal teve o melhor início de sempre numa fase de qualificação com seis pontos e dez golos marcados nos dois primeiros jogos. Pode dizer-se que eram adversários de menor qualidade, mas tempos houve em que os opositores não eram de modo a assustar e Portugal perdeu, como foi o caso da derrota em casa frente à Albânia (0-1), no apuramento para o Euro 2016, que motivou a saída de Paulo Bento e a entrada de Fernando Santos, que viria a levar Portugal ao título europeu. A caminhada para o Mundial de 2018 começou mal com a derrota na Suíça (0-2) e o início da qualificação para o Euro 2020 não foi melhor, com dois empates caseiros frente à Ucrânia (0-0) e Sérvia (1-1). A mesma Sérvia que viria a impor novo empate (2-2) a Portugal na segunda jornada da qualificação para o Mundial de 2022. Cumpria-se a triste sina lusitana.
Só que desta feita as coisas foram diferentes. Estádio cheio a apoiar, um adversário de segundo plano e uma goleada (4-0) a abrir a fase de apuramento para o europeu contribuíram para a festa. Da partida com o Liechtenstein ficam os três pontos e a novidade de Portugal jogar num esquema tático com três centrais, já que em termos de futebol propriamente dito, o opositor era demasiado fraco para se tirar grandes ilações sobre a nova forma de jogar da equipa portuguesa. Fica também o facto de Cristiano Ronaldo ter ultrapassado o kuwaitiano Al-Mutawa e ser o jogador mais internacional da história do futebol, depois do jogo com o Luxemburgo leva já 198 jogos com as quinas ao peito. Uma equipa onde o mais experiente conseguiu um recorde pessoal e o jovem Gonçalo Inácio teve uma belíssima estreia só mostra que há muita qualidade na seleção nacional.
Portugal entrou num novo ciclo e qualquer mudança necessita de tempo para a consolidação. Na dupla jornada europeia, Roberto Martínez teve a possibilidade de conhecer os jogadores em ambiente competitivo de modo a tirar o máximo de cada um. O plantel teve a possibilidade de assimilar em curto espaço de tempo as novas ideias e métodos de trabalho do técnico, e isso é importante para não haver surpresas no apuramento para o europeu, que se realizará na Alemanha no próximo ano. “O primeiro estágio e os jogos foram importantes para os jogadores trabalharem com a equipa técnica e nós trabalharmos com eles. Foi um ponto de partida muito positivo, os jogadores mostraram uma vontade incrível, mas temos de trabalhar mais para continuar a crescer como equipa”, salientou o selecionador.
Nova forma de jogar A seleção não estava habituada a jogar num sistema com três defesas centrais plantados no meio-campo adversário, com dois laterais avançados no terreno a fazer de extremos, dois médios criativos e mais dois jogadores a dar apoio ao avançado, e a experiência resultou em pleno perante adversários simpáticos. Com Palhinha, Bruno Fernandes e Bernardo Silva a jogarem pelo interior, Portugal torna-se uma senhora equipa. Contudo, quando enfrentar adversários mais agressivos na recuperação da bola vai ser interessante ver como os vários setores vão reagir. Curiosamente, muitos dos internacionais jogam neste sistema nos seus clubes o que veio facilitar o trabalho do selecionador. Portugal tem uma geração de jogadores de elevada qualidade e quando há talento a adaptação é mais rápida e permite jogar em qualquer sistema tático, como bem referiu Bernardo Silva. “O jogador de hoje habitua-se de forma muito rapidamente a qualquer sistema. No meu clube começamos o jogo com cinco defesas e a meio podemos mudar para quatro”, explicou.
A seleção foi séria e competente e houve compromisso para não deixar os adversários complicar o jogo. Na partida frente ao Liechtenstein, faltou mais velocidade em determinados períodos, com a equipa a perder disciplina tática e a revelar algum individualismo, o que não agradou ao treinador, que fez questão de afirmar isso mesmo na conferência de imprensa no final do jogo. Há muitas coisas a melhorar para ser grande na Europa. A equipa tem de crescer em jogos com outro grau de dificuldade. Não é preciso defrontar a poderosa Argentina, campeã do mundo, para mostrar o que vale, mas estes adversários não são do mesmo campeonato de Cristiano Ronaldo e companhia.
As opções do primeiro jogo foram já a pensar no encontro contra o Luxemburgo, que tem muitos jogadores a atuar nas ligas alemã e suíça. O selecionador fez alterações nas laterais, pois foram os jogadores que tiveram maior desgaste na partida anterior, e quis ver em ação o central António Silva. Portugal foi competente e ainda mais eficaz. As oportunidades que criou acabaram em golo, em 30 minutos marcou quatro vezes. “O Luxemburgo joga habitualmente com muita intensidade e tem um futebol dinâmico, e era importante evitar isso. O nosso início foi forte e parámos a transição do adversário. Estou satisfeito pela reação à perda de bola, pela forma como jogámos como equipa, pelas oportunidades criadas e por manter a baliza a zero. Foi um jogo foi muito completo. É esta a matriz de jogo que eu quero. Gosto da flexibilidade tática da equipa, o ponto de partida é positivo, mas ainda há muito para fazer”, afirmou Roberto Martínez.
Em relação ao sistema de jogo utilizado na dupla jornada europeia, explicou: “É importante jogar como equipa. Um jogador que tem a bola precisa de largura e de ter linhas de passe. Esse é o trabalho no treino, de entender o que pretendemos fazer”. Sobre Cristiano Ronaldo, foi claro: “É um jogador único a nível mundial, é o que tem mais internacionalizações. A experiência dele no balneário é muito importante. Todos os jogadores têm um papel importante. Os jovens com vontade de jogar e demonstrar o que valem e os mais velhos trazem experiência. É muito importante ganhar jogos como uma equipa e não a nível individual. Tenho 35 jogadores de alto nível e todos podem jogar”, lembrou o selecionador nacional.
Acabou o passeio Concluída a segunda jornada da fase de qualificação para o Campeonato da Europa, Portugal lidera o seu grupo, sendo que os dois primeiros classificados têm apuramento direto para a fase final. Os próximos dois jogos contra a Bósnia e Herzegovina, o primeiro no Estádio da Luz, dia 17 de junho, e na Islândia, dia 20 de junho, vão colocar, seguramente, outras dificuldades à equipa nacional. Em teoria, Portugal e os próximos adversários são os principais candidatos a marcar presença no Euro 2024, significa isto que há três seleções para apenas dois lugares.
A equipa portuguesa está num patamar superior pela qualidade dos seus jogadores e não seria de admirar se ganhasse todos os jogos do apuramento, mas vai encontrar pela frente seleções determinadas a tirar pontos à equipa mais forte do grupo. Acabaram-se as facilidades para a equipa das quinas.