As chamadas guerras culturais estão transformadas numa nova forma de entretenimento, em que a cada um, segundo as susceptibilidades, é possível escolher uma vertente particular no drama, e estar do lado dos que encontram todos os dias novas formas de se ofenderem, ou também do lado oposto, desses que se chocam e indignam em reacção à reacção, num desastre em cadeia, muitas vezes produzido apenas por mal entendidos que depressa assumem proporções absurdas. Mais do que falar na tempestade num copo de água, é preciso reconhecer que em boa parte todas as bulhas e balbúrdias só são possíveis perante um ambiente de discussão pública em que fomos permitindo que a nuance fosse sacrificada, e a ironia ou até uma atitude de desprendimento dessem lugar a um regime de absoluta literalidade, a uma sinistra nova forma de ortodoxia.
Não passam umas semanas sem que os canais entupam com as notícias seguidas da histeria à volta de algum outro exemplo embaraçoso da tal cultura de cancelamento, e se há brigadas que passam para um lado consternadas com algum tipo de comportamento intolerável, para o outro passam aquelas repetindo o refrão de que “hoje já não se pode dizer nada”. Para quem recua uns passos, e se recusa a assumir uma posição na intriga, parece tudo meio burlesco, meio excessivo, há nas reacções dos actores um patetismo, uma infusão de paixão descabida, e a quase completa ausência de sentido do ridículo. Parecem todos bêbados de uma sensibilidade imbecil, de um moralismo que se esgrime em slogans, que se lança no abismo de mão no peito nuns heroísmos jactanciosos. Andam ali numa histeria a querer convencer-se de que estão a travar alguma batalha decisiva, e normalmente damos sempre pelos mesmos, “qualquer que seja a moral da escada de serviço ou do orador de feira que impregne os discursos dos seus profetas em miniatura” (Ernst Jünger).
Ao fim de uns anos disto, é difícil não ficar com a sensação de que estamos a assistir a uma peça de teatro que se descontrolou um pouco, que se estendeu e eternizou, produzindo esta espécie de purgatório onde parece que estamos todos de castigo, a assistir enquanto umas eminências expõem diante de nós, nos seus parlamentos e outros conciliábulos montados por toda a parte, os seus elevados juízos, concorrem pelos púlpitos disponíveis, nesses congressos que já não tentam afinar ideologias mas preceituários de etiqueta social. Bombardeiam-nos de todos os lados com esse novo romantismo de pacotilha, essas utopias descerebradas, e têm sempre em vista uma percepção do homem que é uma ficção inteiramente de fugir. Querem reformar o homem à pressa e transferi-lo para uma existência absolutamente enfadonha, uma vida sem acontecimentos, amortecida, acenando com uma felicidade em que ninguém acredita. E a imprensa vai a reboque, deixando-se arrastar por essas brigas num reflexo do ambiente de arena das redes sociais, para encarniçar os leitores, dar-lhes matéria que reproduzirem como ranho opinioso enquanto todos nos julgamos com direito a ser emissores. E nisto sufocamos debaixo dessa tilintante bateria de martelos que nos põe o cérebro em migalhas, e que estandardiza e proletariza o pensamento.
Apesar de todo este regime de tensão e conflito, nos momentos em que o silêncio vem saber de nós, parece ter tomado conta de nós uma espécie de melancolia aguada, um sentimento inescapável de frivolidade, como se toda aquela combustão fosse apenas o som e a fúria com que disfarçamos o verdadeiro vazio moral de um tempo que não consegue lidar com as suas próprias contradições e que sente a necessidade de criar todo este frenesi medonho para escapar às coisas que continuam ali a enfrentá-lo mudamente. Na verdade a realidade aterroriza-nos, mas é mais fácil falar da directora de uma escola pública da Florida que se viu forçada a renunciar ao cargo depois do pai de um dos seus alunos ter reclamado por a turma de miúdos de 11 e 12 anos ter sido exposta a exemplos de peças da arte renascentista como a escultura David de Miguel Ângelo que exibe uma nudez de proporções que há séculos encantam quem nela detém o olhar, talvez com margem para uma leve perplexidade em relação a um pénis tão de menino, tão casto, que qualquer folha de figueira faria mais por quem diligenciasse com a imaginação uma vigorosa harmonia com o resto do corpo. Só um nível de puritanismo que em si mesmo denuncia uma mentalidade perturbada poderia encarar uma imagem da célebre estátua, uma das imagens mais icónicas do mundo da arte, estando reproduzida por toda a parte, e desde sempre nos manuais escolares em todo o mundo, para a denunciar como material pornográfico, mas foi isso o que fez o pai de um aluno, e houve ainda outros dois pais que disseram que gostariam de ter sido avisados de antemão sobre a aula. Além de David, a professora e directora da Tallahassee Classical School, Hope Carrasquilla, mostrou ainda imagens da pintura "Criação de Adão", também de Michelangelo, e "Nascimento de Vénus", de Botticelli. Após ter ouvido as queixas dos pais, o presidente do conselho escolar fez um ultimato a Carrasquilla, que renunciou ao cargo. “Entristece-me que o meu tempo aqui [na escola] tenha terminado desta forma”, disse a um jornal local.
Naturalmente, esta polémica que estalou no último sábado, foi recebida com incredulidade em Itália. Um pouco por toda a Europa, era servida de bandeja mais uma oportunidade para se fazer troça dos norte-americanos, e foi uma oportunidade para a Galleria dell’Accademia, o museu onde está exposta a estátua de David, convidar toda a direcção da escola da Florida, os pais dos alunos e o corpo estudantil a visitarem Itália, para presenciarem a "pureza" da escultura. Enquanto aumentava a afluência ao museu, e havia mais um aguilhão para que nas redes sociais surgisse uma avalanche de selfies dos visitantes com a estátua ao fundo, numa entrevista à agência norte-americana Associated Press (AP), Cecilie Hollberg, directora da Galleria dell’Accademia, conteve-se para não chamar estúpidos aos pais que fizeram a reclamação: "Pensar que [a estátua de] David é pornográfica significa verdadeiramente não compreender o conteúdo da Bíblia, não compreender a cultura ocidental e não compreender a arte renascentista", disse. Na mesma reportagem, foi ouvida Marla Stone, directora da faculdade de humanidades da Academia Americana em Roma, que enquadrou este episódio numa “cruzada moral contra o corpo, a sexualidade e a expressão de género”. Em seu entender, este tipo de controvérsias estão relacionadas “com o medo, medo da beleza, da diferença, e das possibilidades contidas na arte”. Também ouvida pela AP, Hope Carrasquilla, disse estar a ponderar seriamente aceitar o convite da cidade italiana, notando que se sentiu “muito honrada” ao recebê-lo e que “adoraria ser convidada de honra do presidente da câmara”.
A partir daqui podemos ir na direcção que nos apetecer, e não seria difícil recolher uma série de outros exemplos que se enquadram de forma mais ou menos flagrante nesta cruzada puritana que não se tem ficado pelo outro lado do Atlântico, sendo que hoje, tudo o que seja de natureza sexual, sobretudo num contexto académico, abre caminho a uma procissão por um terreno minado. E se as universidades parecem ceder terreno e estar cada vez menos comprometidas com a criação e disseminação do conhecimento, preferindo dedicar os seus esforços à promoção do conforto do alunos e a uma constante campanha de sanitização para prevenir potenciais ataques nas redes sociais, não pode deixar de se ver nisto a colonização de um certo regime económico, como bem assinalou Rogério Casanova na sua mais recente crónica: “Se há universidades a ceder às exigências mais absurdas dos seus corpos estudantis, o problema é o wokeismo, ou o facto de os custos e métodos de financiamento terem transformado a educação superior num serviço, em que o cliente sente ter sempre razão, e o fornecedor tenta adequar a oferta aos seus desejos?”
No entanto, se fosse nosso intuito silenciar o ruído de modo a que pudesse surgir com alguma limpidez um discurso mais apropriado aos valores de uma formação clássica, é bom lembrar que a representação de mais de cinco metros do herói bíblico com um realismo anatómico que fez desta escultura de mármore uma das obras mais emblemáticas do Renascimento continua a provocar assombro nos nossos dias. Em 2020, foi noticiado que um médico norte-americano Daniel Gelfman, numa visita a Florença, ao deparar-se com a estátua esculpida entre 1501 e 1504, se deu conta de que o pescoço tinha a veia jugular externa saliente. Ora, num artigo publicado na revista JAMA Cardiology, Gelfman notava que esta característica anatómica não é visível na maioria das esculturas e só foi documentada na literatura médica mais de um século depois de ter sido reproduzida por Miguel Ângelo (1475-1564). É apenas uma curiosidade, essa mesma que não revelam os que estão tão imersos na pia dos seus sacramentos e complexos que não sabem a linha que liga David à representação de Dorífero, escultura das mais conhecidas da antiguidade clássica e que ilustra as regras sobre harmonia e proporções do corpo humano estabelecidas por Policleto no seu tratado teórico intitulado Cânone. E isto leva-nos a um texto como O Nu na Antiguidade Clássica, onde Sophia de Mello Breyner estrutura a sua visão sobre a Grécia, dizendo-nos que “o nu é uma invenção grega” e deixa claro porque é que só um olhar aberrante poderia encarar uma representação nesta linhagem como algo com um conteúdo pornográfico…
“Desde o início o escultor grego, fundamentalmente, coloca-se não em frente do homem vestido com armadura de guerreiro ou vestes de escravo, sacerdote ou príncipe mas em frente da nudez do homem em si. Porque crê que o ser está na physis, o Grego crê que o ser está no mundo em que estamos. Para o Assírio, para o Egípcio, para o Caldeu, a verdade do ser está num outro mundo, no mundo do sagrado exterior ao universo e oculto. Mas o Grego crê no divino interior ao universo. É neste mundo, no estar, no aparecer, na aletheia, que ele busca o ser. A este mundo em que está o Grego chama «kosmos». Mas kosmos, oposto a chaos, não significa apenas mundo, mas mundo ordenado-belo.
Esta ordenação é em si própria criadora e divina; e ao esculpir um corpo o artista grego tenta mostrar a relação do homem com uma ordem que é a íntima estrutura do kosmos, da physis, do mundo do qual o homem brota e se ergue.
O corpo humano para o artista grego não é um modelo mas um módulo. E é fenómeno em que o ser se manifesta, emerge e brilha. É ser, estar, aparecer.
Por isso o canon de Policleto não é um código estético — não se trata de «criar» mas sim de «descobrir». Não se trata de criar uma forma de beleza pois a beleza não é exterior àquilo que manifesta. Trata-se de decifrar a lei do corpo humano, e a proporção — a simetria — que esse corpo manifesta é que o insere na ordem do universo.”
É claro que esta compreensão do nu como a revelação de uma relação de harmonia com a ordem do universo escapa inteiramente a um pai que se serve dos seus valores e, até, possivelmente da sua fé religiosa, para integrar a sua ignorância e se vingar de uma sabedoria que lhe escapa. A este pai não diz nada a noção de que, na antiguidade, as representações do nu eram usadas para exprimir necessidades humanas fundamentais, por exemplo, a necessidade de harmonia e ordem (Apolo) contrapostas à necessidade de sublimar o desejo sexual (Vénus). De resto, toda essa percepção erudita e integradora de um plano mais vasto da experiências e das realizações humanas chega a ser molesta para quem prefere barricar-se num conjunto de preconceitos que permitem sempre manter uma relação de suspeita quanto a essa forma de compreensão das coisas que parece obrigar-nos a uma deslocação para o outro lado da vida, ao desconforto de se abdicar do seu ângulo tão particular que morre para uma série de fenómenos mais complexos e exigentes.
Os fervorosos, os fanáticos, todos esses que vivem bêbados das suas convicções, não têm grande margem para os processos da dúvida, para a nuance ou a ambiguidade que são o balanço essencial a qualquer processo de pesquisa mais séria e empenhada. Aquele “medo da beleza, da diferença, e das possibilidades contidas na arte” contrasta com a esfera pública que tem vindo a ganhar terreno nos nossos dias, essas bolhas alienantes onde cada um apenas refocila naquilo que reforça todos os prejuízos da perspectiva que já trazia. A cultura de cancelamento não é de esquerda nem de direita, nem sequer é uma causa, mas outro sintoma de uma cultura de obstrução, em que em vez de se incentivar a curiosidade e o espírito inquisitivo, se troca a dúvida por conclusões apressadas, rígidas noções ideológicas, teses ou argumentos que se esgotam em 280 caracteres, e que preferem reduzir o universo a uma casca de noz e sufocar ali dentro a ter de permanecer desperto, atento às nuances e ambiguidades.
O certo é que esta esfera pública, esta cultura que vive de um dinamismo odioso entre posições extremadas, num teatro da agressão permanente tem vindo a dominar as próprias instituições, sejam elas universidades, fundações, museus ou órgãos de comunicação de massas. O filósofo e urbanista Paul Virilio, desaparecido há cinco anos, entendeu o efeito desumanizador da velocidade, ele compreendeu como ninguém como a velocidade se tornou a categoria nuclear para se compreender o mundo contemporâneo, e como a sua violência e o seu poder de organização da sociedade continuam a ser largamente subestimados. Inspirando-se no termo grego para corrida: “dromos”, lançou as bases de uma ciência da velocidade, que apelidou de dromologia. A partir daí foi sinalizando a forma como estávamos a ser colonizados pelo tempo das máquinas, o tempo velocíssimo dos computadores que regulam, por exemplo, as transacções bolsistas, um “instantaneísmo” que destronou o tempo humano e nos tornou dependentes de máquinas e algoritmos.
Virilio percebeu que o grande risco deste tempo, que “já não tem nada a ver com o tempo da responsabilidade e da razão”, é o de os meios técnicos permitirem um novo tipo de totalitarismo, “uma opressão sem tirano”. Outro dos efeitos deste processo de aceleração era a aniquilação da geografia, a que ele chamou “géocide”. A sua tese era de que os lugares estavam a desaparecer, e que em substituição da geodiversidade os homens estavam a transferir as suas vidas para o ciberespaço, que funcionava como uma espécie de sexto continente, uma “colónia virtual” onde todos vivemos “uma vida de substituição”. Assim, e com o tempo acelerado como encenador deste novo ritmo de vida que é tão mais dramático quanto mais abdica da responsabilidade e da razão, suspendem-se todas as instâncias que defendem o indivíduo contra os processos avassaladores das massas, essas garantias do estado de direito que colocam uma presunção de inocência do lado de quem é acusado. Mas as redes sociais não têm paciência para os rigores dos processos judiciais, e ali exigem-se cabeças, a retribuição tem de ser célere para que a peça possa prosseguir para a cena seguinte, a controvérsia que manterá o caldo sempre a ferver, e, desse modo, em vez de tribunais com júris, juízes, testemunhas, instituem-se esses comités que reúnem à porta fechada e sentenciam o réu muitas vezes sem que este tenha sequer podido conhecer de que actos era acusado, por quem, e de montar uma defesa.
Estes órgãos administrativos formais e informais que julgam o destino das pessoas, muitas vezes por actos que estão longe de constituir ilícitos de qualquer espécie, muitas vezes apenas por quebrarem códigos sociais ou por terem tido o azar de ser mal interpretados, vendo-se arrastados para processos que fazem o homem sentir-se subitamente metamorfoseado num insecto e enxotado sem mais, tudo isto corresponde à insaciabilidade de uma esfera pública dominada por emoções, turbulenta, caótica, e que não procura já inserir-se harmoniosamente no cosmos, mas responde a algoritmos, os quais estimulam a raiva, o conflito, gerindo os nossos impulsos de forma a garantir as metas dessa economia da atenção que triunfa se conseguir impor um regime de compulsão, de vício, alimentando as tensões sociais e criando um ambiente divisivo, que ameaça explodir a qualquer momento. Daí esse clima de indignação permanente, essa discórdia e intolerância que vai sendo acicatada, essa forma de manipular as consciências segundo uma guerra de facções, engendrando uma sede permanente de sacrifícios a serem oferecidos àqueles que não querem já assistir passivamente, mas se vêem como juízes implacáveis, e que organizam entre si um regime inquisitorial a uma escala até hoje inaudita.
Todo este clima de vigilância e punição, de uma censura que se internaliza, generalizando o receio de se sofrer alguma forma de penalização, com as pessoas a serem forçadas a cometer actos de contrição em público, a virem desculpar-se e a acatarem sacrifícios para tentar apaziguar esses gestores da intriga, tudo isto corresponde a um ambiente próprio de sociedades iliberais com códigos culturais rígidos, reforçados por forte pressão dos pares, como notou Anne Applebaum numa extensa reportagem para a revista The Atlantic em que recolheu o testemunho de várias pessoas canceladas. “Esta é uma história de pânico moral, de instituições culturais que se policiam entre si e se purificam diante de multidões desaprovadoras. E se estas multidões não são literais, como eram em Salem, reúnem-se online, organizam-se via Twitter, Facebook e, às vezes, canais internos das empresas.”
Trata-se de uma forma de violência difusa, um faroeste cibernético, que incentiva as pessoas a organizarem-se em gangues sectários, sabendo que podem tornar-se alvos de um momento para o outro e sem aviso, numa era em que estamos sempre sujeitos a sermos filmados e fotografados, em que as nossas informações podem ser recolhidas e usadas contra nós, as nossas identidades roubadas, os nossos comentários retirados do contexto e distorcidos, os nossos piores momentos podem ser expostos numa forma de assédio ou coacção sem outro propósito que não o de humilhar e enxovalhar para manter entretida essa audiência ociosa e desejosa de sair da sua impotência para aplicar a sua lupa e magnificar um raio de sol perseguindo-nos como a uma formiga. Esses gangues patrulham o sexto continente beneficiando do facto de este ser um mundo sem lei, e as posições ideológicas ou as crenças meros pretextos para aplicar a sua justiça arbitrária. Do périplo destes caçadores de escalpes, como num romance de Cormac McCarthy, damo-nos conta de que, paradoxalmente, o mundo avançado das tecnologias e das redes de informação criou uma espécie de deserto, colocando-nos perante as ruínas das velhas civilizações frente ao engordar da civilização americana. E, ali, cumpre-se uma espécie de epopeia infame, um cenário que de certo modo prenuncia a desolação de uma guerra de todos contra todos. Assim vemos por ali esses “cavaleiros espectrais, pálidos de poeira, anónimos no calor crenulado (…) guiados pelo acaso, primitivos, provisórios, despidos de ordem. Quais seres concitados do seio da rocha absoluta e, sem nome nem nada que os distinguisse das suas próprias miragens, postos a vaguear, vorazes e mudos como gorgónas a percorrer em passo trôpego ermos brutais da Gondwana, num tempo em que não havia nomenclatura e em que cada um era todos.”
E nada melhor para se sentir um calafrio e um certo temor do que traçar o paralelo entre essas multidões das redes sociais e o sobressalto de ver cavalgar na nossa direcção “uma legião de seres horríveis, centenas deles, seminus ou ataviados com trajos áticos ou bíblicos ou enroupados com adereços saindo de um sonho febril”… Bêbados dos seus delírios, partilhando essa perspectiva da figura central de “Meridiano de Sangue”, o juiz Holden para quem a “Guerra é Deus”, lembrando-nos ainda de que “entre os homens de Deus e os senhores da guerra há uma estranha afinidade”.