Por Luís Castro, Jornalista
Antes da invasão do Iraque o Pentágono tinha reconhecido que as guerras do futuro seriam pelos últimos recursos à face da Terra. A comprová-lo, o ministério iraquiano do Petróleo foi o único a não ser bombardeado. Ainda os americanos não tinham chegado a Bagdade e já havia um pipeline montado a bombear petróleo para o Kuwait. Não me contaram, cruzei-me com ele no deserto.
A guerra do Iraque acabaria por deixar seiscentos mil soldados de Saddam na rua, de arma na mão. Acabaram a engrossar as fileiras da Al-Qaeda e depois do Estado Islâmico. Derrubado o ditador iraquiano, os americanos tentaram a queda do déspota sírio. Depois, franceses e ingleses quiseram livrar-se do ditador líbio. Todos invocaram os regimes repressivos e a necessidade de libertar esses povos. Curioso é que estes países tinham, em conjunto, doze por cento das reservas mundiais de petróleo.
Levar a Democracia à lei da bala tornou-se insuportável para os contribuintes americanos e todos acreditámos que a paz mundial seria feita pelo comércio. Os Estados Unidos prometeram esta semana quase dez mil milhões de dólares para reforçar as democracias no mundo, mas, a verdade, é que deixaram demasiados espaços vazios e sempre que os americanos se afastaram de uma parte do mundo, os chineses ocuparam-na. O exemplo claro é o que está a acontecer no médio oriente – Joe Biden criticou os tradicionais aliados sauditas e Xi Jinping sentou-os à mesma mesa com os inimigos iranianos. A China depende do petróleo da Arábia Saudita e do Irão e o comércio entre eles já é superior a cem mil milhões de dólares. Também esta semana, Riade anunciou a vontade de integrar a Organização para a Cooperação de Xangai, um projeto de segurança de contraposição à Nato.
Os americanos sabem que a Europa é o elo mais fraco do ocidente e que a Rússia é uma ameaça, mas também que a China está a passar de um desafio a uma ameaça ainda maior que a russa. Os tambores da guerra ainda não ecoam pelo Pacífico, mas americanos e chineses já medem forças.
A China já tem a maior marinha do mundo, aumentando de trinta e sete para trezentos e cinquenta navios nos últimos vinte anos, contra trezentos vasos de guerra que compõem a marinha americana. Mas os americanos ainda levam vantagem com sete porta aviões nucleares (capazes de projetar mais de mil aviões) contra os dois porta aviões chineses ainda a diesel, para além dos submarinos com propulsão nuclear.
Pequim está mais agressiva e no Pacífico são mais frequentes e tensas as interceções chinesas por mar e no ar. Há poucos dias a China diz ter expulsado um destroyer americano das suas águas. O USS Milius, com mísseis de precisão, terá navegado em águas do Mar do Sul reivindicadas pelos chineses. Nesta categoria de navios de guerra, os Estados Unidos também estão muito à frente, têm setenta para os quarenta e dois equivalentes da China.
Estados Unidos, Reino Unido e Austrália assinaram um acordo para que os australianos recebam submarinos movidos a energia nuclear e assim impedir a supremacia naval chinesa no Indo-Pacífico. Por ali passa metade do comércio mundial e Taiwan está na primeira cadeia de ilhas de países aliados dos americanos, juntamente com Japão e Filipinas, o que bloqueia aos chineses o acesso direto ao Pacífico e a capacidade de controlar essas vias marítimas internacionais.
Pequim voltou a avisar que se os americanos não mudarem de atitude, o confronto será inevitável. Os exercícios militares chineses já simulam confrontos com porta aviões norte americanos. Xi Jinping mandou preparar o Exército de Libertação Popular para a tomada de Taiwan até 2027 e Joe Biden repetiu que a América irá intervir militarmente se Pequim invadir a ilha. A visita da presidente de Taiwan aos Estados Unidos, esta semana, veio aumentar ainda mais a tensão e China ameaça retaliar. A guerra está na Europa, mas a maior ameaça para o mundo vem do Pacífico.