O bom rapaz que escolheu ser ‘bad boy’

Muitos apontam Ja Morant como uma potencial futura estrela da NBA mas, nos últimos meses, o base All-Star esteve envolvido em polémicas que resultaram no seu afastamento da liga. Recordamos o seu percurso, desde a sua emergência, como uma das estrelas mais amáveis da NBA, ao ‘bad boy’ com problemas com a lei.

O bom rapaz que escolheu ser ‘bad boy’

O desenvolvimento da época dos Memphis Grizzlies, equipa da NBA, e da estrela da sua equipa, Ja Morant, o melhor jogador e estrela do plantel, tem sido altamente inesperado.

Ainda há um ano, esta jovem equipa, com uma média de idades de 24.3 anos, estava a confirmar o seu grande potencial, terminando a temporada em 2.º lugar e alcançando as meias-finais dos play-offs enquanto praticavam um dos mais atrativos estilos de jogo da liga, com atletas rápidos e atléticos e uma defesa quase impenetrável, a 4.ª melhor da NBA.

Tornaram-se uma das equipas mais divertidas e fáceis de gostar da melhor liga de basquetebol do mundo, enquanto eram liderados por Morant, um atleta que parecia ter tudo para ser o futuro rosto da prova.

A escolha número dois do draft de 2019 foi construindo a reputação de ser um dos mais esforçados atletas da liga, especialmente depois de ter sido desconsiderado pelos olheiros durante o seu período como jogador na escola secundária. Seja pelo estilo de jogo incansável dentro de campo, uma vez que apresenta um alto nível de intensidade, seja a correr em contra-ataques que terminam em ‘afundanços’ que são regularmente virais nas redes sociais ou a saltar para fazer blocos que parecem inacreditáveis.

No entanto, na presente época, os Grizzlies tornaram-se personas non gratas da NBA, depois de jogadores como Jaren Jackson Jr., a âncora defensiva da equipa – que este ano foi, pela primeira vez, escolhido como All-Star – menosprezar os seus adversários, ou Dillon Brooks, apontado como o novo ‘vilão’ da NBA, que regularmente provoca os seus adversários dentro de campo e já foi acusado de fazer diversas faltas agressivas e escusadas.

De um momento para o outro, as danças que a equipa de Memphis fazia no início e no final das partidas para assinalar as suas vitórias deixaram de ser vistas como «divertidas» e passaram a ser apenas «impertinentes».

Apesar de Brooks ter adquirido a fama de um dos jogadores mais odiáveis do basquetebol, o rosto desta transformação dos Memphis Grizzlies é Ja Morant. Longe estão os dias em que este levava a sua filha para o campo e se apresentava como um atleta esforçado e exemplar para os mais novos, abrindo caminho para uma controversa personalidade que culminou no seu afastamento da liga e uma suspensão de 8 jogos.

Problemas

O primeiro caso em que Morant se viu envolvido aconteceu em setembro do ano passado, depois de relatos de que tinha agredido um jovem de 17 anos, que teve de ser levado para o hospital, e que levou a sua mãe a apresentar queixa numa esquadra da polícia contra o atleta.

Mais tarde, em março deste ano, foi revelado que, após as agressões, Morant terá ido a sua casa buscar uma arma e mostrado esta ao jovem em tom de ameaça.

Este ano, durante um jogo com os Indiana Pacers, depois de Morant se ter envolvido numa troca de palavras mais intensa com os seus adversários, foi reportado que «associados» do atleta que venceu o Prémio de Melhor Rookie do Ano, em 2020, confrontaram agressivamente membros dos Pacers perto do autocarro da equipa.

O mais grave deste episódio aconteceu quando o carro onde Morant se encontrava passou e alguém apontou um laser vermelho para o autocarro, com membros da equipa de segurança a afirmar que este devia estar ligado a uma arma. Um dos membros da comitiva dos Pacers afirmou que se sentiu em «grande perigo», reportou o The Athletic.

Como se estas histórias não estivessem já a manchar a reputação de Morant, que este ano foi escolhido, pela segunda vez consecutiva, para o jogo de All-Stars, a gota de água que contribuiu para que o atleta fosse suspenso aconteceu no início deste mês, quando fez um direto no Instagram, onde se encontrava numa discoteca no Colorado e exibiu uma arma.

A equipa considerou estes atos inadmissíveis e suspendeu Morant durante dois jogos e, pouco tempo depois, o próprio publicou um comunicado a afirmar que iria abandonar a equipa durante um «tempo indefinido» de forma a encontrar melhores recursos para lidar com o stress, a ansiedade e o seu bem-estar geral.

Pouco tempo depois, Morant afirmou que iria começar a frequentar um programa de aconselhamento.

Morant já abandonou esta organização e reuniu-se com o comissário da NBA, Adam Silver, e vários outros executivos da liga de forma a perceber como é que iria funcionar o seu regresso à competição. Foi entretanto anunciado que Morant teria de cumprir uma suspensão de 8 jogos sem remuneração, no entanto, este castigo iria cobrir também os seis jogos que o atleta já tinha falhado, ou seja, teve de cumprir apenas mais dois jogos de ausência, com o seu regresso a acontecer no passado dia 20 de março.

Depois de expressar «arrependimento e remorso», segundo Silver, Ja Morant está oficialmente de volta e pretende continuar a conduzir os Memphis Grizzlies às vitórias. Neste momento, a equipa encontra-se em 2.º lugar, na Conferência Oeste, e, depois das diversas acusações que foram feitas à equipa ao longo da época, estes esperam limpar a sua imagem nos play-offs, que terão início no dia 15 de abril.

Morant não é caso único

Esta não é a primeira vez que a NBA tem problemas com jogadores e armas. Em 2009, o (agora retirado) atleta dos Washington Wizards, Gilbert Arenas, então um dos marcadores mais prolíficos da modalidade, foi acusado de levar diversas armas de fogo para o balneário da sua equipa e de ter apontado uma delas contra um dos seus colegas de equipa (que fez o mesmo de volta) devido a uma discussão sobre dívidas financeiras.

Arenas foi acusado de porte de arma sem licença e declarou-se culpado deste crime. Acabou por ser suspenso durante o resto da época, foi condenado a dois anos de liberdade condicional pela polícia e a Adidas terminou o contrato com o atleta.

Agent Zero, como era conhecido, chegou a regressar à NBA, fazendo ainda mais uma época nos Wizards, mas acabou por ser transferido para os Orlando Magic, onde jogou como suplente, sendo depois dispensado e tendo assinado pelos Memphis Grizzlies. A sua última época como profissional foi nos Shanghai Sharks, em 2013, ano em que se reformou.

Mais recentemente, em março deste ano, a antiga estrela dos Seattle Supersonics, Shawn Kemp, foi preso pela polícia de Tacoma, em Washington, por estar envolvido num tiroteio.

Segundo as autoridades, o ex-jogador de 53 anos esteve envolvido num confronto com outro carro no estacionamento de um centro comercial. Kemp foi acusado de disparar contra o outro veículo e este crime pode resultar numa pena até 10 anos de prisão.