Com os olhos postos no fim da guerra, o Presidente de França, Emmanuel Macron, viajou até à China, para o encontro de hoje, quinta-feira, com o seu homólogo chinês, Xi Jinping. O principal tema da conversa será o papel que a liderança chinesa pode ter no fim da invasão russa na Ucrânia.
Numa visita oficial que vai durar três dias, onde estará acompanhado pela Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que também se irá reunir com o chefe de Estado chinês, os dois líderes políticos europeus têm duas missões: num primeiro plano, tentar convencer a China a usar a sua influência com a Rússia para devolver a paz à Ucrânia; caso este apelo não resulte, tentar pelo menos impedir que Pequim apoie Moscovo diretamente.
«Ouvimos cada vez mais vozes expressando uma forte preocupação com o futuro das relações entre o Ocidente e a China que, de alguma forma, levam à conclusão de que existe uma espiral inevitável de tensões crescentes», afirmou o Presidente francês, pouco depois de ter aterrado em Pequim.
«A China com a sua relação próxima com a Rússia, que foi reafirmada nos últimos dias, pode desempenhar um papel importante», afirmou Macron, acrescentando ainda que a França está empenhada «na responsabilidade compartilhada pela paz e estabilidade».
Apesar de ter uma posição neutra em relação à guerra, a China já demonstrou apoio à Rússia, a nível económico e diplomático perante as sanções ocidentais. Xi Jinping possui uma forte relação de amizade com o Presidente russo, Vladimir Putin, há mais de uma década.
Em março deste ano, durante uma visita de estado de Xi a Moscovo, assinaram uma parceria estratégica que prevê a construção de um gasoduto que irá transportar gás natural russo para a China.
Macron já tinha apelado, durante a cimeira do G20, em novembro, a que a China desempenhasse um «papel maior na mediação» da guerra, mas, tirando o plano de paz de 12 pontos que foi desconsiderado pela Ucrânia e a comunidade ocidental devido à postura neutra da China, Pequim ainda não deu grandes passos nesse sentido.
«Decidimos desde o início do conflito ajudar a vítima e também deixámos bem claro que qualquer pessoa que ajude o agressor seria cúmplice de violação do direito internacional», disse, agora, o Presidente francês, acrescentando que não é do interesse da China fornecer armas à Rússia na sua invasão à Ucrânia, nem a existência de uma «guerra duradoura».
Segundo o especialista em assuntos asiáticos e investigador do Instituto Taihe, Einar Tangen, a China estará disponível e interessada em iniciar o diálogo entre a Rússia e a Ucrânia.
«Do ponto de vista da China, é necessário iniciar um diálogo e, atualmente, como não existe nenhum, eles pretendem iniciá-lo. Há preocupações reais em Pequim de que a guerra esteja a sair de controlo, num momento que armas nucleares estão a ser mencionadas e posicionadas, este não é o caminho a seguir», disse Tangen ao Al Jazeera.
«Eles estão muito preocupados que, se a Rússia se sentir completamente encurralada, atacará caso não tenha outras alternativas», afirmou o investigador.
Zelensky na Polónia
Enquanto os líderes europeus estão na China a tentar promover o diálogo, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, deslocou-se, na quarta-feira, até à Polónia para a sua primeira visita oficial ao país. Tem encontros marcados com o seu homólogo polaco, Andrzej Duda, e com o primeiro-ministro, Mateusz Morawiecki.
Nestes encontros vão ser debatidos assuntos relacionados com a segurança, relações internacionais e económicas, questões históricas e delicadas entre os dois países. O Presidente da Ucrânia fará um apelo para receber um reforço do seu armamento.
Zelensky e a primeira-dama, Olena Zelenska, foram recebidos na capital polaca, Varsóvia, com honras militares, homenagens e elogios de Duda, que concedeu a Zelensky a mais antiga e mais alta distinção civil da Polónia, a Ordem da Águia Branca, dizendo que o Presidente ucraniano é um «homem único» e que nunca tem «dúvidas de que sua atitude, aliada à bravura da nação, salvou a Ucrânia».
Durante uma uma entrevista conjunta com Zelensky, o Presidente polaco anunciou que iria enviar 14 caças MiG-29 para a Ucrânia.
«Quatro MiG-29 que estavam armazenados foram entregues às forças armadas ucranianas nos últimos meses. Quatro MiGs estão a ser entregues agora, fazendo um total de oito. Estamos prontos para fornecer mais seis que estão a ser preparados. Presumimos que eles possam ser transferidos em breve», informou Duda.
Nas suas declarações, o Presidente polaco também indicou que o seu país vai pedir garantias de segurança suplementar para a Ucrânia no decurso da próxima cimeira da NATO em Vilnius. «Tentaremos obter para a Ucrânia […] garantias de segurança suplementares que reforçarão o potencial militar da Ucrânia, e que reforçarão igualmente o sentimento de segurança do povo ucraniano», afirmou.
Zelensky agradeceu o apoio do líder polaco, ao governo e ao povo por estar «ombro a ombro» com a Ucrânia e por dar abrigo aos ucranianos em fuga.
«Vocês não abandonaram a Ucrânia, têm estado connosco ombro a ombro e estamos-vos muito reconhecidos. Acreditamos que esta é uma relação histórica», confessou Zelensky.
A Polónia já acolheu mais de um milhão de refugiados ucranianos desde o início da invasão russa e, depois de ter sido o primeiro país a entregar caças à Ucrânia, tem desempenhado um papel importante em persuadir outras potências ocidentais a fornecer tanques de guerra e outro material bélico ao país invadido.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas – 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).