Um ano perdido…

Volvido um ano de governação socialista, apertou-se mais o cerco à classe média, com a convergência da tenaz fiscal e do congelamento do salário médio…

Um ano depois, o segundo Governo liderado por António Costa – respaldado numa confortável maioria absoluta caída do céu -, somou um invulgar conjunto de ‘ativos tóxicos’, desde ministros em ‘roda livre’ de asneiras – ou ideologicamente obcecados -, até a ‘ajudantes’ a contas com a Justiça.

Tal como Sócrates, Costa repetiu os ‘clichés’ e os ‘power point’, preparados por gurus regiamente pagos, e devidamente encenados para impressionar a audiência dos telejornais à hora de jantar. 

Ultimamente, o guião socialista incluiu, ainda, a normalização das relações institucionais com Belém, enquanto o Governo assinalou o primeiro aniversário com uma girândola de eventos, desde o chamado ‘pacote da Habitação’, até ao anúncio, com fanfarras, de um acordo para o cabaz de compras, com IVA zero.

Neste caso, os mais atentos aperceberam-se da flagrante contradição, quer do primeiro-ministro, quer do ministro das Finanças, que antes se mostraram adversários da medida, quando confrontados com experiências idênticas em curso na Europa, a começar aqui ao lado em Espanha. Mas que importa?…

O fundamental é anestesiar a opinião pública, com a cumplicidade mediática, à volta do ‘pacote da habitação’ e do IVA zero, em particular quando sobem de tom as manifestações de rua, já partilhadas, aliás, por algumas células de violência urbana.

O certo é que volvido um ano de governação socialista, apertou-se mais o cerco à classe média, com a convergência da tenaz fiscal e do congelamento do salário médio (Portugal tem o 10.º salário médio mais baixo da União, quase metade da média europeia). 

Ou seja, acentuou-se o processo de empobrecimento do país, embora se procure negar essa evidência, através do reforço do assistencialismo, o que é uma forma de alargar a dependência do Estado.

 

A realidade é que em 2022, Portugal foi ultrapassado no PIB per capita pela Estónia e Letónia (e em breve pela Roménia), segundo dados preliminares do Eurostat, caindo no ranking europeu. 

Neste ranking, Portugal continua longe do topo, ocupado pelo Luxemburgo, Irlanda e Dinamarca, bem como da média europeia e de países como Espanha, França, Itália e Alemanha.

A confirmação destes dados foi feita, aliás, pela UTAO, que alertou para a «divergência real estrutural» da nossa economia, face aos países da União Europeia, o que significa que a riqueza dos portugueses vale apenas 74% da média europeia, quando em 2000 o PIB per capita português valia 85% do PIB médio na União Europeia a 27.

Nessa altura, o país ocupava o 16.º lugar na escala dos Estados-membros com maior rendimento real por habitante, enquanto em 2021 desceu para o 21.º lugar. Faz a sua diferença.

 

É este o retrato objetivo de um país ‘pastoreado’ por António Costa desde 2015.

Entretanto – e nunca será de mais repeti-lo – pioraram os hospitais públicos, com intermináveis listas de espera e urgências intermitentes; degradou-se o ensino público, com greves em cascata e escolas fechadas, comprometendo o ano letivo; a Justiça parece bloqueada, legitimando a presunção de que os arguidos ‘de luxo’ nunca chegarão a julgamento; e nem as Forças Armadas escaparam à degradação operacional, cujo exemplo mais recente foi a insubordinação inédita a bordo de um navio-patrulha na Madeira. 

Se juntarmos a estes factos dois ministros tão lastimáveis como Maria do Céu Antunes, na Agricultura, ou João Galamba, nas Infraestruturas, não será excessivo considerar este Governo como um dos piores erros de casting de há muito.

 

O colapso do Estado não é uma figura de estilo, enquanto o PS se assenhoreou das principais alavancas do poder, onde colocou gente de confiança.

As reversões, com as 35 horas do funcionalismo e a renacionalização da TAP à cabeça, foram opções ruinosas que António Costa nunca assumirá, como não assume outras derrapagens em que os seus governos têm sido pródigos, com custos gravosos para o país. 

 

A verdade é que nem o problema da habitação se resolve com arrendamentos coercivos, nem as famílias ‘mais vulneráveis’ conseguem resolver as suas dificuldades com o IVA zero no cabaz alimentar, nem com as migalhas do Governo. 

Se a economia continuar estagnada – perseguindo-se, até, no turismo, as pequenas empresas de alojamento local -, é fácil deduzir que, tão cedo, o país não descola do pântano do qual Guterres fugiu.

Foi um ano perdido com muito dinheiro deitado à rua.

Nota em rodapé: Confirmou-se que a Parque Escolar, uma invenção de Sócrates, que se distinguiu por várias polémicas na reabilitação de escolas publicas, ainda sob investigação – e sem contas aprovadas desde 2018 -, foi escolhida em Conselho de Ministros para a construção de habitação pública no país, no âmbito da ‘bazuca’. Uma vergonha. E Marcelo Presidente, que diz acompanhar tão de perto o PRR, não tem nada a dizer?