Por Alexandre Faria
As últimas semanas de março trazem consigo a primavera, o Dia Internacional da Felicidade e os interessantes resultados do Relatório Anual da Felicidade Mundial. Pesquisando seis temas fundamentais, onde se incluem rendimento, apoio social, esperança de vida com saúde, liberdade, generosidade e perceção de corrupção, os países nórdicos permanecem como os líderes mais felizes do mundo, mesmo no período entre 2020 e 2022, a exigente altura da pandemia de covid-19.
Do 34.º lugar em 2019, Portugal caiu para o 56.º na média dos últimos anos, em virtude de uma fraca generosidade e pela crescente perceção de corrupção. A Finlândia continua na frente da lista, destacando-se por os seus cidadãos se sentirem bem tratados, com elevadas sensações de segurança perante o planeamento urbano e preocupação pelas políticas nacionais com o ambiente.
Muito se especula sobre as discrepâncias verificadas entre as nações. Atendendo aos longos e frios invernos nórdicos, não serão as temperaturas médias, mas talvez se encontrem motivos culturais e sociais para justificar os resultados, não sendo irrelevante que as instituições políticas as ponderem, de modo a proporcionarem modelos mais eficientes para restabelecer a confiança entre eleitos e eleitores.
À ancestral falta de assertividade portuguesa, imbuída nos traumas de nunca se reconhecer satisfeita, bem expressa nas típicas e recorrentes respostas populares do ‘cá vou andando’ ou ‘estou mais ou menos’, parecem existir países com estratégias mais radicais para, supostamente, recuperarem os índices de satisfação.
Em 19.º lugar e com aspirações de subida, a metodologia seguida pelo Reino Unido tende a assentar numa tolerância imposta à força, vilipendiando impunemente as obras de diversos escritores, como se o mundo se alterasse pela censura.
Ao permitir que sejam retiradas das prateleiras de bibliotecas públicas as edições originais de Enid Blyton, autora dos livros para crianças e adolescentes como ‘Noddy’ e os ‘Cinco’, disponibilizando versões alteradas onde foram removidas expressões consideradas ofensivas, não se está apenas a limitar o serviço público, mas a condicionar uma sociedade no seu livre pensamento e liberdade de escolha.
Neste fundamentalismo, onde a revisão de obras literárias pretende tornar a linguagem menos datada e mais inclusa, nem escapam ao crivo do censor escritores como Roald Dahl, Ian Fleming ou Agatha Christie, com reedições já promovidas de Charlie e a Fábrica de Chocolate, de diálogos na série 007 ou de certas frases de Hercule Poirot e de Miss Marple, respetivamente.
Faz sentido eliminar do léxico atual expressões ofensivas, mas alterar obras antigas, não. Que o nosso país não caia na tentação do absurdo e se concentre na recuperação da confiança dos seus cidadãos. As tentativas de reescrever a história, descontextualizando autores e procurando que as suas obras se adaptem a outras épocas, nunca trouxeram bons resultados. Sem se impor à custa de fanatismos, a tolerância implica liberdade e a felicidade de um povo não se constrói sobre mentiras.