Só a morte não tem alternativa!

A manutenção do ‘status quo’ que o Presidente Marcelo inequivocamente defende só contribui para atrasar o país, qualquer que seja o prisma por onde se olhe…

1. As audições da Comissão de Inquérito deixaram-nos perante uma realidade confrangedora, ou melhor, perante várias constatações que só podem deprimir todos aqueles que se preocupam com o atual Estado da Nação.

Para começar, o nível médio dos nossos políticos é preocupante, não só do partido do Governo como da oposição. Os do Governo, provêm, na sua maioria, das escolas das ‘jotas’ e estão formatados para exercer o poder a qualquer custo. O que escasseia em qualidade sobra em arrogância, quantas vezes autocrática, para esconder a impreparação. A oposição, perante a oportunidade de marcar a diferença, desperdiça ‘penaltis’ e vulgariza-se em berrarias estéreis que só conduz ao sentimento de que, entre estes e os outros, ‘tanto faz’.

Entretanto, o Presidente Marcelo vai dando ‘uma no cravo, outra na ferradura’. Se por um lado faz críticas ásperas e contundentes, sempre com um sorriso desarmante para Costa, por outro, ampara Costa porque deixa transparecer, ou por frases ditas ou por ‘fontes de Belém’, que não acredita existir presentemente alternativa a este Governo desnorteado e esgotado (exclusivamente por culpa própria, acrescente-se!).

Aqui chegados, temos que decidir: ou continuamos neste torpor ruidoso que mina a democracia e afasta os eleitores da política, beneficiando os partidos extremistas que combatem a democracia por dentro, ou procuramos alternativas para esse problema. Não há mais escolhas!

A manutenção do status quo que o Presidente Marcelo inequivocamente defende só contribui para atrasar o país, qualquer que seja o prisma por onde se olhe. A educação está numa guerra onde todos perdem, sobretudo os que hoje estudam. A saúde está gravemente enferma, incapaz de reerguer o SNS, onde já não chega o profissionalismo de quem o aguenta. A justiça, envolvida num emaranhado de leis ou falta delas, autobloqueia-se de uma forma nada inocente. 

Ah, pois… falta falar no PRR, donde sabemos que os atrasos são descoroçoantes, tendo originado diversas picardias entre o Presidente Marcelo e o Governo, este bem avisado por aquele sobre as consequências, ao responsabilizar inequivocamente alguns dos seus membros. Dir-me-ão que se o Governo cair agora, seguramente que o país irá desaproveitar milhares de milhões e, mal por mal, aguardemos por 2024 para provocar eleições. A minha resposta é simples: se o principal é majorar o recebimento dos fundos do PRR, autonomize-se a sua gestão, não se condicionando a política a esse objetivo. Subcontratem-se ‘ontem’ profissionais de excelência para ajudar a gerir o PRR e deixem esta gente trabalhar com Pedro Dominguinhos (presidente da Comissão Nacional de Acompanhamento do PRR). O importante agora é virar rapidamente a página, porque o continuar das lamúrias a nada conduz. 

Entretanto, as sondagens referem que a ‘direita’ tem a maioria, incluindo o Chega. Compete, nestas circunstâncias, a Montenegro ter a iniciativa, enquanto líder do maior partido de oposição, e pronunciar-se a dizer o que faria. Se o fizer, além de instabilizar o PS que sentiria uma oposição que desde há muito não tem, seguramente que ajudaria imenso o Presidente Marcelo, porque permitiria a realização de sondagens que sustentassem a existência (ou não) de alternativa. Então, se anunciasse uma coligação com a IL e o CDS, acredito perfeitamente que a direita democrática ganharia um élan que, criando uma dinâmica de vitória, poderia captar uma parte significativa de muitos dos desiludidos com este status quo que hoje votam no Chega e Marcelo ganharia a convicção de que poderia destituir o Governo. 

Claro que, independentemente do que acima refiro, existe uma outra alternativa possível, entre a hecatombe de manter este Governo em estado vegetativo e a convocação de eleições antecipadas: Marcelo chamar Costa e dizer-lhe amigavelmente: «Remodela lá esse Governo, aproveitando o 25 abril, com gente boa e credível, com passado que se veja e respeite, que te dê o fôlego para o resto da legislatura e até pode ser que voltes a ganhar eleições em 2026, ou, perante este descalabro governamental, remodelo-te eu agora e convoco eleições». 

Uma certeza eu tenho: o tempo escasseia, não se compadece com hesitações e há que tomar decisões, até porque elegemos os nossos políticos para assumirem responsabilidades. Quem não serve, tem que ser substituído. Deixar tudo como está é que não é solução. Na prática, estão a prestar um péssimo serviço ao país ao pactuar com este descalabro, porque ‘pior que uma decisão errada é nada decidir’.

 

2. O dossier da TAP parece não ter fim. Por sucessivas afirmações que os seus responsáveis têm feito, sabemos que o Governo pretende privatizar a empresa, mas esta sucessão de dislates que a Comissão Parlamentar de Inquérito nos tem trazido, em sucessivas ondas qual agueiro a afundá-la, faz pensar duas vezes. 

Será que existe um interesse real na privatização ou toda esta esquerda que abomina a iniciativa privada mais não pretende do que afastar concorrentes do concurso internacional que se antecipa? Se realmente o objetivo é ficar com a TAP pública por inexistência de interessados, estão a fazer um trabalho verdadeiramente excecional.