Seguro de saúde. É uma verdadeira alternativa ao SNS?

A subscrição deste produtos tem aumentado nos últimos anos e com a pandemia ganhou maior procura. Mas antes de decidir analise as suas necessidades e, acima de tudo, as coberturas abrangidas. Só depois é que fica a saber se está a fazer um bom negócio.

A falta de médicos de família e a demora por consultas de especialidade são algumas das razões que levam os portugueses a recorrer aos seguros de saúde. Há cerca de quatro milhões de apólices, quando há 20 anos, apenas 14% tinha seguro de saúde. A Associação Portuguesa de Seguradores (APS) tem vindo a revelar que esta subida se deveu às “respostas eficazes” do setor privado face ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Há ofertas para todos os gostos e preços e continuam a surgir neste mercado novas ofertas. E, para muitos consumidores, o seguro de saúde é visto como um importante complemento ao SNS. No entanto, escolher um plano adequado às suas necessidades pode ser uma tarefa complexa. E a explicação é simples: o prémio do seguro a pagar depende das coberturas contratadas. Como tal, esse é um dos critérios a ter em conta no momento de escolher o seguro de saúde.

A dinâmica deste mercado é cada vez maior e, por isso mesmo, é frequente assistirmos à possibilidade de contratar planos de saúde completamente personalizáveis, adaptados à realidade de cada indivíduo, à medida das suas necessidades, construídos pelo próprio segurado (ver caixas ao lado). 

Mas nem tudo são facilidades. Um dos entraves diz respeito ao limite de idade. As seguradoras definem um limite máximo para contratar o seguro – regra geral, 60 anos. Além disso, muitas definem também um limite de permanência a partir do qual a pessoa é excluída (65 ou 70 anos). Algumas companhias prescindem desse limite se o seguro for contratado antes dos 45 anos. Os filhos deixam de estar abrangidos aos 25 anos.

Outro motivo de preocupação prende-se com a condição de não haver risco grave de doença para a contratação de seguro por parte do utente sem que haja aumento do prémio de saúde. Ao mesmo tempo, a duração anual dos seguros pode deixar os consumidores “desprotegidos”. Por exemplo, uma vítima de acidente que requeira tratamentos superiores a um ano pode ver a sua seguradora inviabilizar a renovação da apólice no final desse ano.

Também a maioria das ofertas exclui doenças preexistentes. E exige um período de carência, o que significa que o segurado só pode ativar as coberturas do seguro depois de decorrido este período de carência. Na prática, trata-se de um adiamento do início do seguro, aplicado apenas em caso de doença, e nunca em caso de acidente. O período de carência mais usual é de 90 dias para todas as coberturas, exceto na de parto, que varia entre 365 e 540 dias. A maioria das seguradoras definem períodos de carência mais alargados para determinado tipo de despesas. 

 

Seguro ou cartão de saúde? O custo está geralmente na base da decisão quando opta por um cartão em detrimento de um seguro de saúde. Por norma, os primeiros são quase sempre mais baratos; no entanto, não substituem os seguros. “Além disso, arrisca-se a comprar um e verificar, mais tarde, que pouca utilização lhe pode dar, por não haver médicos nem serviços na sua zona de residência com os quais o cartão tenha acordo”, alerta a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (Deco).

No entanto, para a entidade, o seguro também não é a melhor solução para todos os casos. “Mesmo que o preço não seja um entrave para si, se pretende apenas fazer tratamentos dentários, subscrever um seguro de saúde pode não compensar”. Ainda assim, admite que, no caso de não ter restrições orçamentais, o cliente fica “à partida mais bem servido com um seguro. Os cartões são uma alternativa mais barata para quem quer ir ao privado, mas poucos cobrem internamento e a sua utilidade é reduzida se vive fora dos grandes centros urbanos”.

 

ADSE vs. seguros A ADSE corresponde, de certa forma, a um plano de saúde que é facultado aos funcionários públicos, pelo qual estes pagam uma quantia que, atualmente, equivale a 3,5% do seu vencimento.

No entanto,  já este ano entrou em vigor uma nova tabela para o regime convencionado, decidida pelo Governo e pelo Conselho Diretivo, com aumentos transversais na ordem dos 5%, em que sobe os valores suportados por beneficiários em várias consultas de especialidade e retira também os travões a que os prestadores de saúde passem a cobrar em regime livre após a desvinculação de médicos.

A nova tabela prevê, por exemplo, aumentos nas consultas de obstetrícia, ginecologia, psiquiatria, psiquiatria da infância e da adolescência, reumatologia ou dermato-venereologia. Em todos estes casos o beneficiário passa a pagar 7,6 euros (em vez dos anteriores cinco euros) e a ADSE 30,40 euros (em vez de 20 euros). O custo para o beneficiário sobe 52%, tal como o custo para a ADSE.

Vantagens

•  Geralmente há uma linha telefónica disponível para o ajudar na eventualidade de surgir algum problema

•  Reduz o tempo de espera característico do SNS

•  Tem acesso a um conjunto de possibilidades bastante mais amplo que as alternativas públicas

•  Algumas apólices apresentam uma certa flexibilidade na escolha dos profissionais e dos estabelecimentos

Desvantagens

•  Elevado custo das apólices

•  Franquias dos seguros

•  Períodos de carência

•  Limitações impostas através da exclusão de doenças comuns não abrangidas pela esmagadora maioria das apólices

•  Determinadas zonas do país não estão propriamente bem localizadas em relação aos estabelecimentos que compõem a rede de cuidados das seguradoras

Critérios a ter em conta

Identificar necessidades

Antes de escolher o seguro de saúde deve analisar muito bem a oferta e identificar quanto gasta por ano e qual o orçamento que tem disponível anualmente só para esta área. Outro critério a ter em conta é se tem filhos ou, no caso de ser mulher, se está a pensar engravidar.

Forma de pagamento

O valor do seguro poderá ser pago mensal, trimestral, semestral ou mesmo anualmente. A forma de pagamento é estipulada na altura da subscrição da apólice. Analise as diferenças de preço entre as modalidades e escolha a que mais lhe convém.

Descontos

A maioria das seguradoras costumam aplicar um desconto pela inclusão do agregado familiar no seguro, diminuindo o montante do prémio. A desvantagem é que o seguro terá de ser igual para todos, o que nem sempre é o ideal, uma vez que há necessidades diferentes até por causa da idade. Subscrever o seguro numa seguradora onde já tenha outros produtos pode fazê-lo beneficiar de um desconto.

Coberturas

Os seguros de saúde dispõem de várias opções de cobertura, das mais simples às mais completas. 

Período de carência

Já existem no mercado algumas opções sem período de carência mas, geralmente, quando existe, é de 90 dias. Isto significa que, até ter decorrido esse período, o seguro não pode ser utilizado. No entanto, por exemplo para o parto,o período pode ir até um ano e meio.

Idade

A maioria das companhias de seguros não aceitam novas adesões de quem tem mais de 55 anos e não renovam o seguro quando se chega aos 65. Informe-se sobre as condições de cada apólice.

Escolha o melhor seguro

Seguro de reembolso

Se a sua intenção é escolher os médicos, os hospitais e as clínicas onde é assistido, opte por um seguro de reembolso. É válido para quem mora longe dos grandes centros urbanos, onde o número de prestadores de serviços associados à rede de cuidados da seguradora é mais limitado. Primeiro, o consumidor paga tudo do seu bolso mas, mais tarde, pode reaver uma boa parte se apresentar à companhia os recibos ou faturas.

Seguro de assistência

Se mora na cidade ou nos arredores, pode optar por um seguro de assistência. Caso recorra aos profissionais e às instituições da rede de cuidados médicos da companhia, esta paga quase a totalidade das despesas abrangidas pelo seguro, até ao limite de capital contratado. Se tiver de ir a outras zonas do país, fica limitado na escolha dos médicos ou pode correr o risco de não encontrar nenhum da companhia.

Seguro misto

Estes são mais flexíveis, pois permitem optar pela rede de cuidados médicos da seguradora ou por serviços fora da rede. É o segurado quem decide o que mais lhe convém em cada momento.