por João Sena
A Serie A, também conhecida por Brasileirão, começou este fim de semana e vai prolongar-se até dezembro. Vai ser uma longa temporada com um ritmo de jogos intenso, num país imenso, com viagens de longas horas, onde os técnicos portugueses vão ser postos semanalmente à prova perante adversários dificeis, diretores com agendas paralelas, torcidas radicais e uma comunicação social preparada para fazer estalar o verniz até ao cidadão mais pacato.
Num primeiro momento, a chegada de treinadores nacionais levantou alguma desconfiança e criou inveja nos espíritos mais conservadores, mas os sucessos mudaram a forma de ver o trabalho dos treinadores portugueses. Houve dois momentos que contribuíram para isso. Em primeiro lugar, os títulos conquistados por Jorge Jesus ao comando do Flamengo e, logo a seguir, a forma de comunicar e de trabalhar de Abel Ferreira, que conseguiu ainda mais títulos do que Jesus. A chegada de Abel Ferreira foi, sem dúvida, uma lufada de ar fresco no ultrapassado futebol brasileiro, que vivia muito de técnicos de outra geração.
Atualmente, há sete técnicos portugueses no Brasileirão: Abel Ferreira (Palmeiras), Luís Castro (Botafogo), Renato Paiva (Bahia), Pepa (Cruzeiro), António Oliveira (Coritiba), Ivo Vieira (Cuiabá) e Pedro Caixinha (RB Bragantino), e podiam ser oito, caso Vitor Pereira não tivesse sido despedido pelo Flamengo uma semana antes da época começar naquilo que se pode considerar um verdadeiro fiasco, pois é dos planteis mais caros e com jogadores de grande qualidade, mas foi também a equipa que sofreu mais derrotas desde o começo da temporada (perdeu oito jogos em 22). A equipa do Rio de Janeiro ainda olhou para Jorge Jesus, mas como só fica livre do Fenerbahçe em junho, acabou por contratar o argentino Jorge Sampaoli até final de 2024. A facilidade com que os dirigentes brasileiros mudam de treinador vai ser a grande ameaça para os portugueses, sendo que a pressão do exterior (adeptos) é determinante para fazer cair um técnico, muito mais do que em outros países. O treinador do Liverpool, Jürgen Klopp, afirmou há poucos dias que no Brasil, troca-se mais facilmente de técnico do que de roupa interior.
Abel Ferreira e António Oliveira são repetentes, os outros cinco fazem a sua estreia neste campeonato. Os objetivos de cada técnico são, naturalmente, diferentes e dependem do poderio financeiro e desportivo dos clubes que representam. À exceção de Abel Ferreira, que tem todas as condições para lutar por títulos dentro e fora do Brasil, os outros treinadores vão lutar por um lugar na primeira metade da classificação e, em alguns casos, pela entrada na Taça dos Libertadores e na Taça Sul-Americana. Destaque para o Bahia que passou a fazer parte do City Football Group (mesmo grupo que comprou em 2008 o Manchester City), que adquiriu 90% do clube, com o compromisso de investir no reforço da equipa e dar maior estabilidade à equipa, que teve um início de temporada irregular, com seis derrotas, nada que preocupe Renato Paiva que afirmou estar “tranquilíssimo” com o trabalho que está a realizar no clube.
Mais competitivo
O Palmeira continua a ser a equipa referência, até porque já venceu este época a Supertaça brasileira ao derrotar na final o grande rival Flamengo e o campeonato paulista, mas o Fluminense, Atlético Mineiro, Grémio e Corinthians são outros potenciais candidatos a vencer a Série A, que é considerado por técnicos e jogadores como um dos campeonatos mais competitivos do mundo. Além disso, a plataforma Football Bechmark divulgou que o Brasileirão é o sexto campeonato do mundo com mais seguidores nas redes sociais. A metodologia contabiliza os seguidores do Facebook, Instagram, Twitter, Tiktok, Weibo e Youtube dos 10 clubes mais populares na internet de cada país. Quem lidera é a Premier League, com 856 milhões de seguidores, à frenta da liga espanhola, com 822 milhões, e da Serie A italiana e que tem 311 milhões, enquanto o campeonato brasileiro soma 156 milhões.
Os treinadores das equipas que têm melhores condições para lutar pelo título, e são muitos, afirmaram que o campeonato deste ano vai ser mais difícil. Abel Ferreira tinha dito algo semelhante no final da época passada, perspetivando que as principais equipas iriam reforçar-se para ganhar ao Palmeiras, que é visto como o adversário a abater.
A primeira fase do campeonato vai servir para as equipas estabilizarem, a partir de agosto já se consegue ter uma ideia precisa de quem vai lutar verdadeiramente pelo título e de quem fica na parte inferior da tabela classificativa.
Portugueses em destaque
Na primeira jornada, houve dois jogos entre treinadores portugueses. Abel Ferreira começou a defesa do título com uma expulsão antes do intervalo, e foi da bancada que viu a sua equipa vencer o Guiabá (2-1), treinado por Ivo Pereira, que tinha ganho o campeonato do estado de Mato Grosso. Na outra partida, Pedro Caixinha (RB Bragantino) venceu (2-1) Renato Paiva (Bahia), que fazia também a sua estreia no Brasileirão. Luís Castro conseguiu acalmar a torcida do Botafogo com a vitória (2-1) sobre o São Paulo, e mandou um recado aos adeptos: “Nos últimos 10 jogos, perdemos apenas. Isto é um facto. Uma equipa que joga mal como muitos dizem não teria esses resultados. Todas as equipas enfrentam instabilidade no começo da temporada”, lembrou o técnico.
Menos felizes estiveram António Oliveira, treinador do Coritiba, que perdeu com o Flamengo (0-3), equipa que joga para o título. Depois de um início de época medíocre, o ‘mengão’ voltou às vitórias, com o novo treinador Sampaoli a assistir na tribuna.
O Cruzeiro venceu a Série B em 2022 e regressou ao escalão principal, mas começou mal ao perder (1-2) com o Corinthians. A equipa de Belo Horizonte foi campeã por quatro vezes e agora que tem Ronaldo ‘Fenómeno’ como proprietário do clube espera recuperar o prestígio de outros tempos com o novo treinador Pepa.