A Amnistia Internacional alertou hoje que a educação de milhões de mulheres iranianas está em risco por causa dos envenenamentos em centros educativos femininos e enviou uma carta ao Procurador-Geral do Irão a exigir medidas urgentes.
"Os direitos à educação, saúde e vida de milhões de meninas em idade escolar estão ameaçados pelos ataques com gás em escolas femininas no Irão", denunciou a ONG num comunicado.
A organização internacional de defesa e promoção dos direitos humanos indicou que, desde novembro de 2022, mais de 100 centros educacionais para mulheres foram atacados, alguns deles por várias vezes, e que cerca de 13.000 estudantes receberam atendimento médico por envenenamento.
As alunas apresentaram sintomas como tosse, dificuldades respiratórias, irritação na garganta, dores de cabeça, náuseas ou vómitos, adiantou a Amnistia Internacional (AI).
Em março, as autoridades anunciaram a prisão de 118 pessoas por suspeitas de envolvimento nos envenenamentos, mas, apesar disso, os ataques continuam a ocorrer em todo o país.
Segundo vários grupos de ativistas, os casos mais recentes ocorreram hoje, com ataques a escolas na própria capital, Teerão, e também nas cidades de Hamedan e Dezful.
Na terça-feira, o grupo de oposição curdo-iraniano no exílio Hengaw registou ataques a 19 escolas nas cidades de Teerão, Kermanshah, Saqez, Ahvaz, Eslamshahr, Ardebil, Karaj e Urmia, que levaram à hospitalização de dezenas de estudantes.
Apesar destes registos, o ministro da Saúde iraniano, Bahram Einollahi, desvalorizou os factos, afirmando que "não existem evidências" de que as alunas tenham sido envenenadas e atribuindo "mais de 90% dos casos ao 'stress' e a travessuras".
Por esse motivo, a Amnistia Internacional decidiu enviar uma carta ao Procurador-Geral do país, Mohamad Jafar Montazeri, instando-o a iniciar uma "investigação independente, completa e eficaz" e a levar os responsáveis pelos ataques à justiça.
"As autoridades devem garantir que as meninas tenham acesso igual e seguro à educação e que sejam protegidas de qualquer forma de violência", defendeu a ONG, que pediu às autoridades iranianas que autorizem funcionários das Nações Unidas a entrar no país para ajudar a participar na investigação aos ataques.
No Irão, a educação feminina não foi questionada nos 43 anos de existência da República Islâmica e alguns pais relacionam os envenenamentos com os protestos com forte tom feminista registados nos últimos meses no país. Os protestos, que têm diminuído de intensidade, foram alvo de uma forte repressão estatal.
Os protestos desencadearam-se maioritariamente após a morte, em setembro passado, da jovem iraniana curda Mahsa Amini, de 22 anos, que morreu sob custódia policial depois de ser detida por alegado uso indevido do 'hijab' (véu islâmico).
Nos protestos participaram alunas das escolas e institutos, que tiraram os véus, gritaram palavras de ordem hostis ao regime teocrata e fizeram gestos de desprezo diante dos retratos do líder supremo do Irão, Ali Khamenei, e do fundador da República Islâmica, o 'ayatollah' Ruhollah Khomeini, em 1979.