Um ano depois, e apesar da perigosa degradação do governo, as sondagens sobre as intenções de voto dos portugueses, não vão além de um empate técnico entre o PS e o PSD, para desespero de quem gostaria de acreditar que o pesadelo socialista tem os dias contados.
Poderá parecer estranho que o resultado das sondagens aponte para um impasse, quando está diagnosticada uma evolução anémica na economia do país (é a 13.ª mais lenta do mundo, segundo o Expresso), e o Programa de Estabilidade, anunciado com a habitual ‘pompa e circunstância’ soube a campanha eleitoral, sem que se vislumbrasse uma correção de trajetória ou um mea culpa de António Costa.
Será isto revelador de que o mesmo eleitorado que entregou a segunda maioria absoluta ao PS, se encontra em estado de profunda apatia? Ou quererá apenas significar que esse eleitorado está rendido ao ‘assistencialismo’ do Estado e teme comprometê-lo?
A segunda maioria, poderia ter aconselhado o PS a não incorrer nos mesmo vícios que caracterizaram o consulado de Sócrates. Mas não.
A influência de Sócrates não só viceja na paisagem socialista, como ele continua sem julgamento marcado e a divertir-se à custa do imobilismo do Ministério Público e dos tribunais.
Se um dia se escrever a história deste período em que o PS deteve e manipulou as ‘chaves do poder’, talvez salte à vista, sem filtros, o declínio do país, relegado para a ‘liga dos últimos’. Uma tristeza.
O ranking não engana. Fomos ultrapassados até por novos membros recém-chegados ao clube europeu, cujo ponto de partida era bem mais modesto do que o nosso.
Com a cumplicidade de boa parte dos media, o país espreguiça-se anestesiado, enquanto os sindicatos mais reivindicativos ganham força, e somam greves nas escolas e hospitais públicos, na ferrovia ou nos tribunais, com absoluto desprezo pelos danos causados.
Perante este estado de coisas, como têm reagido as oposições?
À esquerda, a nova liderança do PCP confirmou que a escolha do Comité Central foi um erro de casting – ou de cálculo -, e que Paulo Raimundo nunca será mais do que um apagado funcionário do partido, a quem ofereceram um fato novo que não é o seu número.
Curiosamente, o mesmo se passa no Bloco de Esquerda, onde Mariana Mortágua – a indigitada candidata a líder -, se mostra pouco à-vontade no papel que lhe querem atribuir, de animadora da agremiação, para ‘limpar’ as asneiras praticadas por Catarina Martins.
À direita, o PSD tarda em libertar-se do ónus de ter sido pastoreado por Rui Rio, durante tempo demais, enquanto Luís Montenegro procura impor-se aos delírios do Chega, ‘escolhido’ pelos gurus do PS como ‘cavalo de Troia’ para minar o terreno.
Numa recente entrevista televisiva, Montenegro espalhou recados com destinatário óbvio, o qual, aliás, ‘enfiou a carapuça’.
Ao perceber que o PSD não o queria para ‘dançar o tango’, André Ventura não foi de meias medidas e ‘ameaçou’ ganhar as eleições. É uma utopia, mas embeleza o discurso.
O PS é tão mau a governar como hábil a gerir a intriga. E intuiu há muito, que, quanto mais contribuir para o crescimento do Chega – sem excluir os préstimos dos liberais – mais dificuldades terá o PSD em fazer-lhe ‘sombra’.
Ao agitar o espantalho da ‘extrema-direita’, António Costa não é ingénuo e sabe o que faz, enquanto procura fidelizar o voto do funcionalismo e dos pensionistas.
Em contrapartida, Montenegro elevou o tom, assumindo-se como ‘candidato’ a primeiro-ministro, apostado em ganhar as próximas legislativas, sem ir «à boleia ou com a ajuda do Presidente da República». Fez bem em dizê-lo, sem deixar de criticar Marcelo por ter questionado a existência de alternativa.
A incompetência de Costa para governar em maioria está provada, tal como a sua incapacidade de escolher ministros ou ‘ajudantes’ fora do estrito círculo partidário onde se move.
Costa vai soçobrar, por ter imitado as artimanhas políticas de Sócrates. O Programa de Estabilidade foi revelador. O Governo decidiu atuar cautelarmente, e levar a sério a possibilidade de eleições antecipadas. Serve-se da fanfarra e da espuma mediática enquanto o país empobrece…
Nota em rodapé: Confirma-se a presença de Lula da Silva, a 25 de Abril, no Parlamento, em sessão antecipada à solenidade do dia. É uma habilidade canhestra, tomando os portugueses por tolos. Uma coisa é receber bem o Presidente do Brasil, seja ele quem for. Outra, é dar palco a quem esteve no epicentro da Operação Lava Jato, cantou loas a Sócrates, gosta de se dar com ditadores latino-americanos e comporta-se como um aliado de Putin. Afinal, Lula nunca condenou a invasão russa da Ucrânia e, após visitar Xi Jinping, ainda teve o topete de confundir o invasor com o invadido e de acusar Washington de ‘encorajar a guerra’. O PCP não diria melhor. Lamentável.