Gérard Depardieu. A queda de um gigante

O aclamado ator francês foi acusado por 13 mulheres de violência sexual em várias filmagens. As controvérsias do ‘monumento do cinema francês’ são tão reconhecidas como o seu talento.

Outrora considerado um dos atores mais divisórios de França, atualmente, a reputação de Gérard Depardieu parece ter enfrentado estragos irreparáveis, depois de ter sido acusado por 13 mulheres diferentes de conduta sexualmente inapropriada. 

Esta investigação, que analisa o comportamento do ator francês ao longo dos últimos 20 anos, relata múltiplos incidentes, descritos por atrizes, maquilhadoras e outras profissionais de cinema, que incluem comentários obscenos, apalpões e atos inapropriados, como propostas indecentes e fazer «gemidos insistentes».

O ator francês é considerado um dos mais famosos atores do seu país natal, sendo um dos seus papéis mais famosos o poderoso gaulês, Obélix. Participou em quatro filmes diferentes da saga Astérix & Obélix, ou em filmes como La Vie en Rose (2007), O Homem da Máscara de Ferro (1998) ou o épico do realizador italiano, Bernardo Bertolucci, Novecento (1976).

Mas o seu percurso até se tornar um dos mais reconhecidos atores de França fez-se com pouco glamour. Depardieu nasceu no seio de uma família pobre, os seus pais eram imigrantes pobres, iletrados e alcoólicos, que, para além de Gérard, tinham outros quatro filhos (ajudou a sua mãe no parto dos irmãos e irmãs mais novas).  

Este abandonou a escola quando tinha 13 anos, optando por um caminho num sítio que lhe era bem mais familiar, a rua.

Para sobreviver, realizou uma série de atividades ilegais, roubando, vendendo mercadorias roubadas e servindo como guarda-costas para prostitutas em Paris. 

A vida de Depardieu parecia destinada a não sair deste circuito, contudo, em 1968, o seu melhor amigo de infância, Jacky Merveille, um mafioso de Châteauroux, morreu num acidente de carro, o que o motivou a procurar uma vida melhor. 

Aos 16 anos, mudou-se para Paris de forma a estudar para ser ator, focando-se, nos primeiros anos, a corrigir a sua gaguez e a trabalhar a sua memória. 

A comédia Les Valseuses (1974), de Bertrand Biller, marcou verdadeiramente o início da sua longa, condecorada e prolifica carreira.

Depardieu trabalhou com realizadores como Jean-Luc Godard, François Truffaut, Alain Resnais ou Ridley Scott, tornando-se o segundo ator francês a lucrar mais na bilheteira dos cinemas, sendo superado apenas por Louis de Funès, e chegou a ser nomeado para um Óscar de Melhor Ator Principal, no filme Cyrano de Bergerac (1990), onde interpreta o personagem homónimo do título.

«Maior que a vida, tanto na tela – com os belos e feios ângulos brutalistas capturados do seu rosto, um forte magnetismo da sua presença e com o peso absoluto do homem enquanto ele preenche o quadro – quanto fora, com seus notórios excessos e uma história de vida que parece como se pudesse ser matéria de literatura, Depardieu, de 73 anos, alcançou uma qualidade quase mítica», descreve, no Guardian, a jornalista Wendy Ide. 

«No seu melhor, ele é um ator emocionante, perturbador e quase perigoso, mas a lenda de Depardieu pode pesar muito num filme e desequilibrar toda uma produção se não for devidamente aproveitada», alerta a crítica de cinema.

As controvérsias

Tão reconhecido como os seus talentos são as controvérsias do ator francês, com diversos casos como quando foi acusado de urinar publicamente num avião, ou de demonstrar publicamente o seu apoio ao Presidente da Rússia, Vladimir Putin, tendo, inclusive, recebido a cidadania russa, em 2013. 

Os mais recentes casos de abusos sexuais não foram os primeiros em que o francês esteve envolvido, tendo, em 2018, sido acusado de violar uma atriz francesa de 22 anos, Charlotte Arnould.

Apesar do ator estar sob investigação em relação a este crime, continuou a ser contratado para diversos trabalhos e, no ano passado, participou em cinco filmes diferentes.

Uma das atrizes afirmou ter ficado chocada com o comportamento que as equipas dos filmes permitiam que o Depardieu tivesse. «Os adultos deixaram um ator acariciar os meus seios à frente de todas as pessoas», disse uma atriz, que tinha 17 anos na época, citada pela BBC.

A investigação levada a cabo pela Mediapart afirma que três mulheres prestaram depoimento à polícia, contudo, nenhuma apresentou queixa, com medo de que a «sua palavra tivesse pouco peso contra um monumento do cinema francês».

Até ao momento, o ator recusou-se a comentar este caso, mas os seus advogados negaram qualquer comportamento criminoso, com o escritório de advocacia, Cabinet Temime, a desvalorizar estas «avaliações muito subjetivas e/ou julgamentos morais».