Por Anabela Cruces, Diretora da Licenciatura em Engenharia do Ambiente – Faculdade de Engenharia do Centro Universitário de Lisboa da Universidade Lusófona
O Tejo, o rio mais comprido da Península Ibérica, constitui uma veia de água, com cerca de 1000km que alimenta o coração da Ibéria antes de se lançar nas águas cristalinas e salgadas do Atlântico, que é a fonte de vida para inúmeras espécies que habitam a região central desta jangada de pedra, como Saramago lhe chamou.
Desde tempos imemoriais descrito por geógrafos, ilustrado por cartógrafos, apreciado por escritores e compositores que lhes dedicaram poemas e prosas, cantado por vozes únicas, pintado de tantas cores e estudado por numerosos especialistas de áreas distintas, é, sem sombra de dúvida, um rio que desde a sua formação, há cerca de 30 milhões de anos, foi e continua a ser vital para as comunidades ribeirinhas que dele dependem.
Em abril, nos dias 15 e 16, decorreu em Vila Franca de Xira o 4.º Fórum Ibérico do Tejo, organizado pela Confraria Ibérica do Tejo (CIT) e pelo Município de Vila Franca de Xira, com o apoio da Faculdade de Engenharia do Centro Universitário de Lisboa da Universidade Lusófona.
No âmbito deste evento foi prestado tributo, como reconhecimento da obra realizada a seis individualidades: Prof. Doutor Jorge Paiva, Doutora Maria Adelaide Neto Salvado, Prof. Doutor Filipe Duarte Santos, Prof. Doutor Carvalho Rodrigues, Prof. Doutor António Galopim de Carvalho e Doutor Miguel Mendez-Cabeza.
No âmbito deste Fórum promoveu-se o debate aberto e plural sobre o passado, o presente e os desafios futuros da gestão integrada deste grande rio. Um sistema fluvial (rio e afluentes) outrora livre, vê-se hoje ‘garroteado’ por centenas de barragens/açudes, vê-se hoje ‘esvaziado’ por transvases, situações que comprometem a continuidade hidráulica deste sistema e interferem nos caudais naturais sazonais que controlam a dinâmica fluvial e os ecossistemas. Durante dois dias os especialistas espanhóis e portugueses apresentaram e debateram o atual (mau) estado do rio Tejo (transvases, caudais, qualidade da água, conectividade hidráulica) e o futuro perante os cenários previstos de subida do nível médio do mar e de alterações climáticas.
Todas as ‘vozes’ foram ouvidas, mesmo que em contraditório, pois só apresentando, ouvindo, discutindo, debatendo e refletindo em conjunto se pode chegar a uma melhor proposta que integre a vontade de uns, sem comprometer a sobrevivência de outros. Só assim poderemos ajudar os governantes numa decisão que a todos afetará num futuro próximo.
É tempo de olhar o rio com um olhar holístico, integrando todas as áreas do saber!
Todos dependemos da vitalidade e da saúde do maior rio ibérico.
Um rio é um bem comum e o seu futuro não pode ser decido apenas por alguns. É tempo de unir vozes, conhecimento e contribuirmos para uma decisão acertada que irá condicionar gerações futuras.