Por Luís Castro, Jornalista
Giorgia Meloni quer os italianos em primeiro lugar; Marine Le Pen promete defender os franceses dos muçulmanos; Viktor Orbán não quer que os húngaros se tornem mestiços; Andrzej Duda considera a ideologia LGBT destrutiva para os polacos e Santiago Abascal quer varrer da sociedade espanhola as feministas e a ideologia de género. Por isso, Angela Merkel pedia luta contra o nacionalismo que avança na Europa e Emmanuel Macron quer mais patriotismo e menos nacionalismo. Regressamos ao mesmo: a extrema-direita, ou a direita extremada, continua a dar mau nome ao nacionalismo.
Embora Mussolini afirmasse que o orgulho nacional não necessitava de um delírio racial, a verdade é que o fascismo e o nazismo vieram deturpar o sentido dado ao nacionalismo pelos iluministas, projetando-o para a ideia de uma Pátria superior, da pureza e de superioridade da raça. O mesmo aconteceu com Salazar, onde o Estado Novo lhe atribuiu um cunho imperialista e étnico, com o dez de junho a ser chamado do ‘Dia da Raça: a raça portuguesa ou os portugueses’.
Em Portugal, se alguém foi nacionalista foram os republicanos, aquando do ultimato inglês que causou um movimento político e social de exaltação patriótica contra a Monarquia, face às cedências do rei D. Carlos nas pretensões africanas. As lojas de Lisboa não vendiam a ingleses, nas docas os barcos voltavam para Londres porque ninguém os descarregava, os alfaiates recusavam costurar figurinos britânicos e os hotéis não alugavam quartos a ingleses.
Liberalismo e nacionalismo têm uma relação desde o século dezanove, quando os franceses começaram a rejeitar o Estado absolutista, desejando um governo democrático em que os cidadãos deveriam estar em primeiro lugar e não a figura de um rei. Este sentimento espalhar-se-ia pela Europa, consolidando nações e influenciando a unificação alemã e a italiana.
O Nacionalismo nasce do amor à sua Pátria, à sua terra, à sua cultura e à sua História – o que não é mau – é, até bom. As línguas, as bandeiras e os hinos nacionais são disso exemplo. Mas, a identidade coletiva não tem de ser excludente ou impositiva de uma Nação como valor primordial ou único. Foi assim que nasceram e evoluíram muitos dos Estados-Nação da Europa, tal como os Estados Unidos a seguir à segunda guerra mundial, através de um nacionalismo civil que não é contrário às políticas liberais e ao pluralismo.
Os portugueses têm uma ligação muito forte com a Pátria e cantam o hino com a mão no peito, mas continuam complexados. Ter amor à Pátria e à sua Cultura não é um sentimento errado e contrário à Democracia. O nacionalismo cívico é aquele que no Europeu de 2004 colocou bandeiras de Portugal nas janelas pelo amor à sua seleção, ou panos brancos quando Timor lutava pela independência, em 1999. É verdade que não deixa de ser um ‘nós coletivo’ – nacional, regional, cultural ou grupal – e não um liberalismo individual, mas é aquele que mais capital social constrói para a sua comunidade e se empenha na redução das desigualdades.
A extrema-direita apropriou-se do nacionalismo para o travestir de xenófobo, homofóbico, racista e excludente, num entrincheiramento do ‘nós’ nacionais contra os ‘outros’ estrangeiros. Sabemos como os discursos emocionais geram mais capacidade de mobilização que os discursos racionais. Por isso, também em Portugal, procuram-se líderes moderados, mas firmes e carismáticos, aqueles que unem pelos princípios e valores e combatem os extremos. Líderes fracos deixam demasiado espaço para o culto da personalidade e para populistas e demagogos, para aqueles que polarizam com narrativas e discursos divisionista e redutores.
O nacionalista cívico, ou o nacionalista liberal, não tem de estar em rutura com a sociedade e com a Democracia. Ao contrário do que dizia o general de Gaulle, o patriota até pode ser o que ama o seu povo em primeiro lugar, mas o nacionalista não tem de ser o que odeia os outros povos em primeiro lugar. Esse é o fascista, o nazista, o extremista – e contra ele, só há uma atitude: avançar e nunca recuar, porque a democracia vive dias perigosos.