Nove pontos estão ainda em jogo para todas as equipas do campeonato nacional e é sobre esses nove pontos que alimentam os seus sonhos ou carpem as suas mágoas. hoje, pelas 18h00, o Benfica entra em campo em Portimão e sabe que apesar de ainda lhe ser permitido um deslize (uma derrota se ganhar em seguida ao Sporting, em Alvalade e na última jornada ao Santa Clara, em casa ou mesmo dois empates que o deixariam com os mesmos pontos do que o seu único perseguidor, o FC Porto – se este ganhar os seus nove pontos –, e como a diferença teria de ser feita através de goal average só uma vitória do estilo da do Monção ao Benavente em futsal – 60-0 – tiraria a vantagem aos encarnados) mas convém que tanto o alemão Roger Schmidt e os seus jogadores não pensem muito nas escorregadelas a que têm direito e escolham o caminho bem mais honroso e firme de quererem ganhar os três jogos restantes, assumindo-se campeões a toda a largura e comprimento da palavra.
Tenho para mim que o recente abanão do Benfica, com as duas derrotas consecutivas face a FC Porto e a Chaves, se ficou a dever a um estado de ansiedade provocado pelo sonho impossível da Liga dos Campeões. Ao contrário do que sucedeu na época passada, quando o empate (3-3) em Anfield catapultou a equipa para uma fase de maior confiança (ou de menor desconfiança) e de crença em si própria – não tardaria a ir vencer a Alvalade -, o recente 3-3 de San Siro foi muito mal digerido por muitos que consideravam o Inter um adversário absolutamente ultrapassável. Não caiamos em exageros. O Benfica fez uma Liga dos Campeões que nos saudosos anos 60 serviria para levar para casa o troféu, tantos foram os jogos consecutivos sem conhecer a derrota. Mas no confronto frente aos milaneses algo saltou aos olhos de quem observou com atenção o que se passou – a dimensão física do Inter era muito superior à dos encarnados, de tal ordem que dei por mim a pensar no jeitão que Darwin teria feito num embate daquela envergadura.
Tão estranha leveza
As grandes exibições do Benfica durante esta época, tanto em Portugal como na Liga dos Campeões, foram curiosamente assentes num futebol dinâmico, ofensivo, criativo e bastas vezes espetacular como há muito não víamos numa equipa portuguesa, mas assente numa estranha leveza que fazia com que os seus jogadores parecessem etéreos, fantasmas atravessando adversários confusos com tais movimentos mais próprios do Bolshoi do que do Estádio da Luz. Enquanto os pulmões estiveram a bombear ao máximo tivemos aquele que foi o Benfica Invencível que atingiu dez pontos de avanço à cabeça do campeonato e se apurou com uma perna às costas para os quartos-de-final da Champions League. Não se pode dizer assim de caras que o plantel do Benfica é curto e que a saída de Enzo Fernández destruiu a ideia tática de Schmidt porque estaríamos a contornar a verdade. Enzo foi desaparecer para o Chelsea, onde agora muitos lamentam os 126 milhões desperdiçados, não entrou ninguém claramente para o seu lugar, o treinador abriu portas a jogadores como Chiquinho ou João Neves e transformou Aursnes o maior camaleão de todos os jogadores que atuam em Portugal.
Na altura em que o coração começou a bombear com mais esforço ficou nítido que o Benfica necessita de mais poder físico para contrariar adversários que usam e abusam dele (FC Porto e Inter, por exemplo) e que enquanto Aursnes se sacrifica com um profissionalismo notável que já o atirou para o lugar de defesa direito falta músculo num meio campo que disfarça essa ausência com um ritmo típico de uma máquina de costura cerzindo lances que obrigam os adversários a correr mais quilómetros do que desejariam.
A três jornadas do fim e com os tais nove pontos para jogar não vale mais a pena falar agora de falta de peito que diminui o Benfica tanto no meio campo como no ataque. Esse será problema para resolver no verão. Depois de bater por um resultado caridoso um Braga que continua a ter muita garganta mas não tem estrutura mental para jogos de dificuldade acrescida e, dessa forma, continua quanto muito a ser o melhor dos piores, o Benfica parece ter recuperado mental e fisicamente do tal choque bruto que o afastou da Liga dos Campeões, um sonho bonito, sim senhor, mas que neste momento carece de estrutura como se viu no tremendo desgaste físico provocado e que levou a equipa de Schmidt a cometer erros que não cometera até aí. Erros que estão agora proibido quando as águias estão a dois passos de conquistarem o seu título 38. Ficam à beira de exibir a quarta estrela nas camisolas.