“Não é provável um default norte-americano”

Secretária do Tesouro alertou para risco de default da dívida dos EUA. Especialistas ouvidos pelo Nascer do SOL acham pouco provável mas lembram momentos de tensão semelhantes.

Os alertas chegam de todos os lados e desta vez foi a própria secretária do Tesouro dos Estados Unidos a alertar que levar as negociações da dívida pública do país ao limite «pode causar custos económicos significativos». Esta posição surge depois de o antigo presidente, Donald Trump, ter pedido aos republicanos que adotem uma estratégia rígida no que a este tema diz respeito.

Janet Yellen foi clara: «Não devemos permitir o incumprimento, sob nenhuma circunstância», defendeu, alertando que o debate sobre os limites da dívida norte-americana requer «uma ação urgente» e que a suspensão dos pagamentos «poderia produzir uma catástrofe económica e financeira que levaria à perda de milhares de postos de trabalho, quedas nas poupanças das famílias e à deterioração dos créditos que ‘atirariam por terra’ os esforços do país para se recompor dos efeitos da pandemia, assim como poderia minar a liderança económica dos Estados Unidos».

E acrescentou: «Não existem razões para se gerar uma crise criada por nós», pedindo ao Congresso dos Estados Unidos para «atuar rapidamente» com o objetivo de elevar ou suspender outra vez o teto da dívida, como «aconteceu cerca de 80 vezes desde 1960».

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos já avisou que começou a tomar medidas para evitar o risco de não cumprimento da dívida. Sobre este assunto, Henrique Tomé e Vítor Madeira, analistas da XTB, esperam que «a situação seja resolvida com o aumento do teto da dívida, tal como já aconteceu no passado», mas admitem que «tudo pode acontecer, embora outros cenários sejam menos prováveis».

Já Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, defende que «o mais provável é um entendimento de última hora». E explica: «Como o teto da dívida pública norte-americana é um valor absoluto, e não uma percentagem do PIB, o aumento da população, a inflação e o crescimento económico vão sempre ditar que as necessidades do Governo cresçam em termos nominais e, assim, atinjam constantemente esse limite, tendo que ser elevado periodicamente».

O economista lembra que, em 1939, o Congresso norte-americano «estabeleceu o teto da dívida num limite de 65 mil milhões de dólares. Ainda no passado dia 19 de janeiro foi aumentado para 31,4 biliões de dólares, ou seja, 483 vezes superior ao valor de 1939».

No início deste mês, o Departamento do Tesouro dos EUA alertou que provavelmente o Governo iria entrar em default – quando se entra em incumprimento para pagar as dívidas – da sua dívida até ao início de junho se o chamado limite do Congresso para o serviço da dívida do país não aumentar até essa data.

Os analistas da XTB alertam que «um default para os EUA seria muito grave porque poderia causar desconfiança e enfraquecimento do dólar», acrescentando que «sendo a moeda com as maiores reservas mundiais, poderia mudar totalmente o rumo das economias ocidentais». Mas há mais: «Para além disso, todas as instituições e pessoas poderiam ficar sem pagamentos».

O economista do Banco Carregosa não tem dúvidas: «Não é provável um default norte-americano», recordando, ainda assim, que em 2011, «e num momento também muito tenso entre as duas principais forças políticas dos EUA, a agência de classificação de crédito Standard & Poor’s baixou para AA+ o rating de crédito dos Estados Unidos, despojando pela primeira vez a maior economia do mundo do seu premiado status AAA».