por Alexandre Faria
Escritor, advogado e presidente do Estoril Praia
Enquanto alguns arautos permanecem absorvidos nas discussões sobre temas desinteressantes à população, o comissário europeu para a Economia elogiou Portugal pelo seu sentido ascendente económico e pela eficiente gestão das suas contas públicas, destacando-nos pela positiva em relação aos restantes países da União Europeia.
Ao contrário de 14 Estados-membros onde se estimam défices acima de 3%, o nosso país apresenta um crescimento expectável para 2023 a rondar o dobro da média europeia e um saldo orçamental acima da generalidade. Sendo dos que mais cresceram neste primeiro trimestre segundo os dados do Eurostat, esta perspetiva de uma significativa melhoria económica e de contas equilibradas não pode deixar de merecer a nossa satisfação, registando-se uma subida de 1,6% neste período face ao trimestre anterior de acordo com o Instituto Nacional de Estatística.
Diversas instituições europeias alertam, contudo, para a perda de poder de compra das famílias na esmagadora maioria da Zona Euro e advertem para a necessidade de uma subida dos salários, a concretizar apenas no próximo ano de modo a evitar uma espiral inflacionista, tornando-se indispensável gerir a previsível contradição entre as expetativas e a realidade sentida diariamente pelas famílias.
Numa altura em que os bancos e sociedades financeiras concederam quase 2.000 milhões de euros em crédito ao consumo nestes precisos meses, um recorde nacional quando as taxas de juro disparam e se nota um abrandamento na procura pelo crédito à habitação, o grande desafio para os próximos tempos governativos reside no aproveitamento dos bons momentos económicos para incrementar medidas fundamentais em diversos setores da sociedade, porque os bons indicadores na área do Turismo não são suficientemente estruturantes para o objetivo desejado.
Pelo último estudo do Democracy Index, publicado recentemente pela divisão de investigação e análise do Grupo The Economist, a rota a percorrer por Portugal parece ser clara, existindo falhas internas carentes de uma resolução urgente face à estagnação aí identificada. Observando o estado da democracia em 167 países, onde mais de um terço da população mundial continua a viver sob regimes autoritários, Portugal mantém-se no 28.º lugar do ranking, catalogado como uma democracia com falhas, assentando as principais debilidades na baixa participação política e numa reduzida cultura política.
Mediante estes dados, a estabilidade institucional portuguesa obriga a uma destemida ferocidade no combate a quem pretende denegrir os órgãos democráticos e o regime em geral, à qual se deve juntar um ímpeto reformista sem precedentes, tirando partido do impulso económico favorável, em setores decisivos como a Justiça, a Educação e a Cultura, a par da necessária concessão de apoios fundamentais para a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Porque só conseguiremos superar os maiores desafios deste século com uma população preparada, envolvida em valores humanistas e solidários, crente no seu papel na sociedade e ao lado de uma eficiente estruturação administrativa.