África terá, ainda neste século, mais de um terço da população mundial e a explicação é simples: sete em cada dez africanos têm menos de trinta anos. As Nações Unidas já avisaram que o continente africano vai moldar a distribuição da população mundial já nas próximas décadas e os especialistas acreditam que tal causará mudanças profundas no mundo como hoje o conhecemos.
Na África subsariana a taxa de nascimentos é de 4,7 crianças por mulher em idade fértil, o dobro do índice mundial. François Sudan, editor do semanário Jeune Afrique, escreveu que o futuro da humanidade «será menos branco e cada vez mais africano» e que a Nigéria ultrapassará a China em população, tornando-se o segundo maior país depois da Índia.
Na projeção do Institute for Health Metrics and Evaluations, da Universidade de Washington, publicada na revista científica The Lancet, até ao final do século, 183 dos 195 países do mundo terão uma taxa de fecundidade abaixo do necessário para manter a sua população, ou seja, 2,1 por cada mulher. Portugal está com pouco mais de metade, 1,3 no índice sintético de fecundidade e já temos mais portugueses acima dos 65 anos do que abaixo dos 15 anos.
Três milhões e meio de nós vivem fora do país. Vimos partir quase um milhão de portugueses nos últimos vinte anos e somos agora os europeus que têm mais emigrantes em percentagem da população. Se nada for feito, daqui a trinta anos seremos metade, tal como Espanha, Itália e Japão. E mesmo que consigamos um saldo nulo nas próximas duas décadas, Portugal vai perder vinte por cento da população ativa.
Nos últimos dez anos de UE, o crescimento da economia portuguesa foi deprimente – consideram-nos o quinto país menos produtivo; somos dos que mais recorrem a trabalho temporário, estamos entre os três piores; a carga fiscal de um casal com dois filhos é das mais altas, só os cinco países mais ricos pagam mais; nos últimos dez anos duplicaram os licenciados que emigram, são agora cinco em cada dez e o desemprego jovem está muito acima da média europeia.
Podemos saber pouco do que Luís Montenegro pensa para o país, mas o líder do PSD foi o único a ter coragem de propor que procuremos pelo mundo as comunidades que interajam melhor com os portugueses. Tem razão quando diz que não devemos ser uma ‘porta escancarada’ e que os imigrantes não devem ser olhados como mera mão de obra, antes como pessoas com acesso a habitação, saúde e educação.
Mas gostávamos de saber se o candidato a primeiro-ministro tem opinião sobre se quer católicos, muçulmanos ou hindus; se quer que falem português de África e do Brasil, ou se também podem falar árabe e mandarim; se os quer no litoral ou no interior; se vão deixar de lhes complicar as equivalências académicas e profissionais; se os quer reformados ou em idade fértil e ativa e se vai promover o reagrupamento familiar.
Luís Montenegro tem um sonho, grande, confessa, que os jovens qualificados que saíram nos últimos anos voltem para o ajudar a ser alternativa e construir um Portugal moderno. Seria importante sabermos o que tem para oferecer a um jovem licenciado que se cansou de ganhar mil euros, ao fim de um mês a viver numa roulotte na Suíça foi contratado a ganhar sete vezes mais, desconta vinte e cinco por cento em impostos, já lhe deram permissão de residência, já tem a namorada a viver com ele, paga oitocentos euros por um apartamento e diz que no supermercado de lá os preços não são muito diferentes dos de cá.
Talvez Luís Montenegro possa começar por cumprir o que prometeu: discutir com a sociedade civil, independente e fora da bolha mediática, um projeto para o país em que os portugueses acreditem – se ainda for a tempo.