As cinco maiores instituições financeiras – Caixa Geral de Depósitos, Santander, BCP, novobanco e BPI – lucraram cerca de 920 milhões só nos três primeiros meses do ano, o que dá uma média de mais de 10 milhões de euros por dia, um número praticamente equivalente à população portuguesa. E apesar de continuarem a ver os seus resultados a engordar foram confrontados com uma nova realidade: a reestruturação de créditos, essencialmente nos empréstimos à habitação face ao aumento galopante das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE) que levou a um aumento das prestações dos clientes a pagar aos bancos.
Mais uma vez, o campeão do lucros foi a Caixa Geral de Depósitos ao apresentar um aumento dos resultados em 95% para 285 milhões, quase o dobro dos 146 milhões dos primeiros três meses registados em período do ano passado. A ajudar os lucros esteve a margem financeira consolidada, que mais do que duplicou para 611 milhões.
Os depósitos de clientes alcançaram os 80 mil milhões a nível consolidado e 69 mil milhões na atividade doméstica. Já o crédito a clientes atingiu os 53 mil milhões em termos consolidados, dos quais 45 mil milhões em Portugal. Por seu lado, a margem financeira registou um aumento de 345 milhões e o banco justifica esta subida como «reflexo da subida das taxas de juro nas operações de retalho e do impacto positivo relativo às operações de tesouraria e da carteira de títulos».
A entidade liderada por Paulo Macedo revelou que já foram reestruturados oito mil créditos à habitação – de acordo com as suas contas, menos de 3% da carteira de crédito e 900 ao abrigo do decreto-lei criado pelo Governo que força os bancos a reestruturar a dívida de clientes em dificuldades – e prometeu que está a estudar medidas para que mais famílias que entrem em dificuldades consigam pagar os seus empréstimos.
Logo a seguir surge o BCP que foi o último a apresentar resultados, acenando com 215 milhões de euros, um valor que compara com os 112,9 milhões registados em igual período do ano passado, «apesar dos efeitos adversos relacionados com o Bank Millennium».
A margem financeira do banco beneficiou da «normalização das taxas de juro desde julho do ano passado» e do «aumento da base de clientes», disparando quase 43%, para 664,6 milhões de euros. Já o produto bancário totalizou os 999 milhões, o que corresponde a uma subida homóloga de 42%, enquanto o crédito caiu 2% para 57,3 mil milhões de euros, com apenas o crédito pessoal a crescer, contrariando a restante tendência.
O banco liderado por Miguel Maya reestruturou 6.500 créditos, dos quais 650 ao abrigo do decreto-lei. Quanto ao futuro, o CEO disse apenas que «analisando cada caso, há clientes com dificuldades e que é com esses que tenta evitar incumprimentos dos empréstimos».
No terceiro lugar do ranking surge o Santander Totta com um lucro líquido de 185,9 milhões de euros, um aumento de 19,6% face aos 155,4 milhões registados no período homólogo.
O crédito a clientes ascendeu a 42,6 mil milhões de euros, uma redução de 2,2% face ao valor do mesmo período de 2022, dinâmica largamente explicada pela amortização antecipada de créditos a empresas. Por seu lado, a carteira de crédito hipotecário, no montante de 22,7 mil milhões de euros, registou um crescimento homólogo de 1,8%.
Já a «imparidade líquida de ativos financeiros ao custo amortizado ascendeu a -17 milhões de euros, que compara com -3 milhões no mesmo período do ano passado. O contexto económico alterou-se face ao observado no período homólogo, com taxas de juro e taxa de desemprego mais elevadas», disse o banco liderado por Pedro Castro e Almeida.
Margens sobem
O novobanco surge a seguir e registou lucros de 148,4 milhões de euros no primeiro trimestre, mais 4% face ao mesmo trimestre de 2022. A margem financeira cresceu 85% para 246,3 milhões de euros, um aumento justificado pelo «ambiente favorável» das taxas de juro com efeitos na carteira de crédito, pois esta é «maioritariamente indexada à taxa de juro variável».
Já os custos operativos subiram 8% para 111,9 milhões, refletindo os efeitos da inflação e foram constituídas imparidades de 27,7 milhões de euros, das quais 26 milhões para fazer face a eventuais problemas com crédito. O banco liderado por Mark Bourke registou uma queda de 3,1% nos depósitos entre janeiro e abril face a dezembro do ano passado, baixando para os 27,5 mil milhões. Quanto ao crédito a clientes registou um ligeiro crescimento para 25,7 mil milhões.
A fechar a tabela está o BPI que apresentou lucros de 85 milhões, uma subida de 75% em comparação com os 49 milhões registados, em igual período do ano passado. Só a atividade em Portugal contribuiu com 73 milhões, um aumento de 164% relativamente ao primeiro trimestre de 2022 (28 milhões).
A instituição financeira registou um crescimento homólogo de 4% no crédito, enquanto os depósitos de clientes diminuíram 4%. Os proveitos da atividade comercial cresceram 50% o que, a par com um aumento de 11% dos custos e um custo do risco de 0,20%, se traduziu numa melhoria da rentabilidade dos capitais próprios tangíveis recorrentes em Portugal para 9,5% (+3.8 p.p. nos últimos 12 meses).
De acordo com João Pedro Oliveira e Costa, CEO do banco, «estes resultados representam uma fotografia deste momento, mas teremos de continuar a olhar com prudência, e com confiança, para o que será o filme de todo o ano».