Bernardo Theotónio-Pereira
Especialista em Estratégia Nacional e ex-doutorando do Professor Adriano Moreira
A História de um país é a alma do país. É a soma de muitas gerações, de muitas
decisões e de muito tempo.
A História de um país não pode, por isso, ser apagada, rasurada, adjetivada ou esquecida.
É o que é.
E, se há país no mundo atual que tem História, somos nós. É Portugal.
Temos o dever e a obrigação de conhecer e de respeitar a própria História.
Nestes últimos quase 50 anos, temos vivido Portugal, esquecendo, muitas vezes, a História. Temos vivido como se apenas existíssemos há menos de 50 anos. Como se, tudo o que fora feito e construído antes, incluindo por isso a época do Estado Novo, não tivesse existido, não tivesse tido qualquer importância, fosse erro, fosse indiferente ou, até, fosse um tabu.
Não pode ser. Aliás, a implantação da Democracia em Portugal ousava exatamente a liberdade, o respeito, a dignidade, o compromisso e a união.
Apesar dos meus, quase, 38 anos, estou farto de ‘amadorismos’ e de falta de cultura histórica.
Vejamos a História como foi, é e será. Tenhamos a capacidade de contextualizar a História e o rasgo de prever a História, cujo segundo que acaba de passar já representa.
Não esqueçamos o país monárquico que fomos, a República e a Democracia que temos sido. Mas sem adjetivações. Devemos valorizar e maximizar todos os nossos tempos. Mas, devemos estar cientes de que, com enorme probabilidade, os tempos de hoje podem não ser, efetivamente, melhores que os tempos de outrora.
Porém, Portugal é um país de e com História. E este ADN tem e deve ser sempre realçado e lembrado com enorme amor, honra e responsabilidade. Independentemente de tudo, paremos com este auto-ataque ‘estúpido’, a lembrar o filósofo Carlo Maria Cipolla.
Sejamos mais e não matemos mais a nossa própria História porque hoje dá jeito ou é mais aceite. Não dá.
Saibamos o que fomos e somos enquanto Pátria! E a sorte de vivermos e termos nascido onde nascemos.
Tenhamos a vontade e a coragem de viver do que fomos e do que somos.
Tenhamos a lealdade e a responsabilidade do legado recebido. Pois, só isto é liberdade.
Sejamos livres para discordar com o que não é óbvio e concordar com o que, muitas vezes, menos óbvio é ou possa parecer.
Que possamos ouvir, sem preconceitos Amália, Ary dos Santos, Tozé Brito, Zeca Afonso, Vitorino, Carlos do Carmo, Paulo de Carvalho, Rui Veloso, José Cid e Jorge Palma; ou, agora, Pedro Abrunhosa, Resistência, Delfins, Paulo Gonzo, Ana Bacalhau, Agir, António Zambujo, Miguel Araújo e Carminho, entre tantos outros…
Larguem-nos. Deixem-nos viver em plena Liberdade convictos na História que temos e somos. Sem entraves e preconceitos.
E o mesmo se aplica à política.
Que mal pode ter o dar valor a políticos como o Professor Adriano Moreira, Professor Diogo Freitas do Amaral, Francisco Sá Carneiro, Nuno Krus Abecasis, Adelino Amaro da Costa, Álvaro Cunhal e Mário Soares; ou General António Ramalho Eanes, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, Professor Cavaco Silva, Eng. António Guterres, António Vitorino, António Costa, Paulo Portas, Pedro Passos Coelho, Sérgio Sousa Pinto, João Cotrim Figueiredo, Pedro Santana Lopes, Jaime Nogueira Pinto, Henrique Neto, Mariana Mortágua e André Ventura, entre tantos outros…
Porque é que tem de ser uma avaliação clubística?
A política não se pode avaliar assim…
Porque não uma avaliação pessoal, própria, valorizando os méritos, conhecendo e reforçando os erros, mas respeitando o pensamento e a lógica política de cada um?
Porque não deixarmo-nos do que nos divide, quando há tanto que nos une, independentemente das cores? Porquê?
A liberdade e a inteligência não nos possibilitam amplitude?
E conseguir contextualizar a História? Ou respeitar a História aos dias de hoje?
Precisamos de todos. E muito mais, de todos aqueles que nas respetivas vidas pensam e querem o melhor de Portugal.
Apesar de poder discordar com muitos, não óbvios para um conservador, jurista, gestor, pseudo-académico, empresário e pai de família numerosa como eu, tenho muitas dúvidas, mas esperança.
Porque o futuro depende de nós. E somos muitos com vida e, por isso, com História.
Basta ousar, querer e contar connosco. Com a Sociedade Civil, crucial na mudança.
O que é que este regime precisa mais se tantos querem e podem servir?
Basta querer.
Vamos a isso?