por Luís Castro
Jornalista
O Financial Times diz que o Porto lidera as cidades europeias do futuro e o The New York Times avalia Lisboa como uma das capitais mais dinâmicas da Europa. Empresas portuguesas são premiadas pelo Wine & Travel Week e pelo Eventex-2023 com ouro, prata e bronze em experiências de marketing mundial.
Cinco escolas de gestão portuguesas estão entre as melhores do mundo e bolsas milionárias são atribuídas à Universidade do Porto. Portugal é o segundo país com mais finalistas nos prémios de sustentabilidade e inclusão Novo Bauhaus Europeu e a L’Oréal premeia cientistas portuguesas.
E alguém ouviu falar de Diana Madeira, Joana Caldeira, Joana Cabral, Patrícia Reis ou de Salomé Pinheiro? E de Rafaela Alves, Filipa Rocha, Diana Sousa, Inês Machado, Sofia Viana, Ana Cardoso ou Susana Santos – mais sete magníficas que por estes dias foram premiadas, mas muito pouco noticiadas? Todas elas reconhecidas pelos centros de investigação, lá fora, mas praticamente ignoradas por nós, cá dentro.
Pouco ouvimos falar de Ana Moniz, que venceu o Global Teacher Prize pelo trabalho com crianças autistas, e muito menos de Inês Neves, que é a Rising Star no Direito da Concorrência da Península Ibérica. O mesmo com a dentista Inês Guerra, que foi convidada para a prestigiada Omicron Kapp Upsilon, por ter sido a melhor aluna do curso na Universidade de Chicago, ou de Inês Laíns, uma oftalmologista que está em Boston é já é considerada nos Estados Unidos como uma das melhores na sua área.
E podíamos dizer o mesmo de Daniela Braga, conselheira para a Administração Biden na estratégia para a Inteligência Artificial e considerada como uma das cem empreendedoras mais intrigantes pela Goldman Sachs; de Catarina Pais, a quem chamam ‘a próxima Horta Osório’ e a primeira mulher portuguesa a receber o Henry Ford Prize, ou das fundadoras da Something in Hands, Helena Garcia e Andreia Valente, que desenvolvem novos medicamentos para cancros metastáticos.
Não sabemos quem são estas vinte mulheres e o que fizeram pela ciência, pelas artes ou no mundo dos negócios, mas sabemos quem é o assessor Frederico Pinheiro e a chefe de gabinete Eugénia Correia, quem chamou a PSP e o SIS, a que horas Costa devolveu a chamada a Galamba e quantas fotocópias foram tirar e quantos murros ficaram por dar. Valha-nos a paciência, que é a riqueza dos infelizes, como dizia Camilo Castelo Branco.
Horas a fio de televisão em direto com os deputados das comissões parlamentares a disputar a graçola do dia; políticos e governantes a confundirem servir o Estado com servirem-se do Estado; Ministério Público, que mais do que fonte já é um verdadeiro fontanário, a promover a condenação na praça pública do que não consegue na barra dos tribunais; moderados a promover ou copiar os populistas e comentadores ‘tudologistas’ a destilar veneno sobre tudo e sobre nada. Como dizem os brasileiros, começa a faltar pau para tanta cobra e quando nos passam o martelo para a mão, martelamos em todo o lado porque tudo nos parecem pregos.
Mas quando achamos que vemos tudo, há sempre um ponto morto que nos impede de ver o essencial. Estamos numa sala com reflexos côncavos e convexos, onde não há espelhos planos. Os governantes já não procuram soluções, eles gerem sentimentos e ressentimentos e nós, cidadãos, por vezes temos de escolher entre o que está certo e o que é mais fácil.