Certificados de aforro: Corrida abranda em abril

Apesar do abrandamento ainda foram investidos 1,7 mil milhões em abril. Governo já admitiu que poderá rever as regras deste produto de poupança.

Com os bancos a não refletirem a subida das taxas de juro nos depósitos a prazo que continuam a remunerar os depositantes a ponto pequeno – e mesmo aqueles que oferecem taxas de 2% é mediante a apresentação de um cartão de crédito, um seguro, etc. – os Certificados de Aforro têm vindo a ganhar terreno. Isto porque, para novas subscrições a remuneração paga este mês foi fixada em 3,5%. Ainda assim, de acordo com os últimos dados divulgados pelo Banco de Portugal (BdP) a corrida abrandou em abril.

De acordo com os números avançados pelo regulador, nesse mês foram investidos 1,7 mil milhões de euros, longe dos 3,6 mil milhões aplicados em março. Trata-se do montante mais baixo registado em sete meses. Mas feitas as contas, este produto de poupança já captou mais de 30 mil milhões das famílias portuguesas, ou seja, 10% da dívida pública portuguesa.

É certo que a popularidade dos Certificados de Aforro acabou por surpreender o próprio Governo que já se viu obrigado a aumentar por duas vezes a emissão destes títulos: na última revisão, o montante máximo de financiamento com estes certificados mais do que duplicou dos sete mil milhões de euros para 16,6 mil milhões.

Uma situação que já levou o ministro das Finanças a admitir que poderá vir a rever as regras deste produto de poupança. De acordo com Fernando Medina, tudo vai depender de como evoluírem as subscrições nos próximos meses. Na conferência de apresentação do Programa de Estabilidade, o governante reconheceu que a corrida aos Certificados de Aforro decorre da «livre escolha que os portugueses têm feito por não encontrarem no mercado uma oferta do ponto de vista da poupança, que seja compatível com uma remuneração adequada» àquilo que esperam.

 

‘Péssimo sinal’

Estas possíveis alterações já levaram o especialista em produtos de poupança e analista financeiro, António Ribeiro da Proteste a dizer que é um «péssimo sinal para quem aplica as poupanças nos títulos do Estado». E acrescenta: «Apesar de, em dezembro, ter assegurado que não haveria alterações, o Governo foi surpreendido com uma corrida a estes títulos do Estado devido à subida das taxas. Em março, a taxa-base dos Certificados de Aforro atingiu o teto máximo de 3,5% brutos, ou seja, em termos líquidos rende 2,5%, superando a maioria dos depósitos que existem no mercado».

Segundo o especialista, «O Governo poderá avançar para alterações na taxa de rentabilidade de futuras subscrições dos Certificados de Aforro, mas também não está descartada a emissão de uma nova série, com outras condições e remuneração mais baixa. Algo que não nos surpreende dado ser recorrente o Estado alterar as regras a meio do jogo quando as condições deixam de ser favoráveis para o emitente».

Para o analista da Proteste Investe este facto surpreendente, «dado ser recorrente o Estado alterar as regras a meio do jogo quando as condições deixam de ser favoráveis para o emitente».

E dá como exemplo o que se verificou com os Certificados do Tesouro que «outrora proporcionavam taxas mais interessantes. Neste momento, as taxas anuais, crescentes, variam entre 0,7% e 1,6% brutas. Apesar de terem um prémio indexado ao crescimento do PIB, as previsões de evolução da economia não são, nos próximos anos, muito otimistas. Não surpreende, por isso, que o montante aplicado tenha recuado 24% em apenas 12 meses, enquanto os Certificados de Aforro aumentaram, entre abril de 2022 e março de 2023, 125%».

António Ribeiro aconselha a quem ainda tem Certificados do Tesouro a resgatar e a aplicar em Certificados de Aforro. «Além de ser o melhor produto de poupança com capital garantido do mercado, cujo rendimento é apenas superado por alguns depósitos, mas com prazos curtos, têm a vantagem de exercerem uma pressão sobre o mercado, obrigando a subir o rendimento de outros produtos bancários, como seguros de capitalização e planos mutualistas. São as regras do mercado a funcionar».

Quanto à remuneração da banca lembra que o excesso de liquidez dos bancos foi uma das razões para terem mantido durante anos as taxas dos depósitos próximas do zero. «Apenas os levantamentos maciços dos particulares em direção aos cofres do Estado os levaram a mudar recentemente a remuneração dos depósitos. Ainda assim, oferecem as taxas mais baixas da zona euro. Por isso, mudar as regras dos Certificados significa eliminar o estímulo à poupança. Um mau sinal para os aforradores portugueses».