Primavera Sound Dia 3 – Um dia para agradar a gregos e a troianos

Desde a música eletrónica dos Pet Shop Boys ou os Darkside, o rock dos My Morning Jacket ou os Wednesday ou até o reggaeton, da Tokischa, houve muita música diferente para ouvir no Primavera Sound.

Foi ao terceiro dia do Primavera Sound que a chuva finalmente acalmou e deixou os festivaleiros aproveitarem – sem grandes preocupações adicionais com as proteções contra a chuva – os concertos, num dia que ofereceu uma vasta panóplia de estilos musicais.

O certame ofereceu a oportunidade de ouvir desde diferentes gerações de artistas de música eletrónica, como os Pet Shop Boys ou os Darkside, o estridente som do rock, representado pelos My Morning Jacket ou os Wednesday, o punk feminista das Le Tigre, o hip-hop, de Pusha T, ou até o reggaeton, da Tokischa.

Comecemos pelos cabeças de cartaz deste dia, os Pet Shop Boys, que oferecerem um concerto recheado dos seus ‘greatest hits’ num autêntico encontro geracional, com fãs de várias idades a desfrutarem de êxitos intemporais como You Were Always on My Mind.

A experiência dos artistas falou mais alto na competência do concerto, oferecendo uma excelente experiência visual com as suas projeções, mas também com a qualidade do som do conjunto formado pelos britânicos Neil Tennant e Chris Lowe.

Mais cedo, também no Palco Porto, passaram, em estreia em Portugal, os My Morning Jacket, banda de Louisville, no Kentucky, para oferecer um dos mais apaixonantes concertos do festival.

Numa altura em que o conjunto tem deixado para trás a intenção de apresentar novos discos e focado em mostrar as principais músicas da sua discografia, a banda liderada por Jim James – o homem de barbas que parece uma encarnação de ‘The Dude’ de The Big Lebowski (1998) -passeou pelas mais diversas linguagens da música popular norte-americana, como o rock psicadélico, o country, folk, hard rock ou o funk, através de faixas icónicas como One Big Holyday, Touch Me I'm Going to Scream Pt. 2 (música que muitos descobriram através da série American Dad) ou Wordless Chorus.

Perante uma plateia liderada por fãs incondicionais desta banda de culto, que bem tentavam acompanhar os gritos (que se situam entre um Banshee e um anjo) do vocalista, ficou a sensação de que a espera pela estreia dos My Morning Jacket em Portugal foi demasiado grande e que o seu regresso, nomeadamente a uma sala própria e com mais tempo para interpretar outras músicas incontornáveis da sua discografia (como Run Thru ou It Beats For You, diz um fã de longa data), é mais que bem-vindo.

Ainda na estética do rock, apesar das “acrobacias” com a guitarra que Jim James e companhia conseguiram realizar, a maior “guitar hero” do terceiro dia do Primavera Sound foi St. Vicent, artista norte-americana, do Tulsa, no Oklahoma, que, depois de ter estado presente no ano passado no NOS Alive, voltou a realizar um grande concerto para todos os fãs fanáticos que a acompanham.

Numa estética de concerto e um som que parecem saídos de um filme pornográfico dos anos 1970, a cantora, aliada pela sua banda e uma back vocalista com demasiado talento para não estar a liderar o seu próprio projeto musical, Annie Clark veio mostrar porque é que conquistou o estatuto de uma das mais importantes artistas de música independente das últimas décadas e porque todos os anos deveria acontecer pelo menos um concerto de St. Vicent em Portugal.

Depois do espetáculo de Annie Clark, partimos para o palco Super Bock, onde conseguimos assistir a um concerto de lendas vivas da música, as Le Tigre, conjunto formado das “cinzas” de Bikini Kill, uma das maiores bandas do movimento riot grrrl, que se reuniram no ano passado e que estiveram no Porto apresentar o seu som de electro punk.

Com uma língua bem afiada e uma mensagem política impossível de associar às suas músicas (estas expuseram as suas letras nos ecrãs, não fossem surgir dúvidas sobre as suas inclinações políticas), aproveitaram para dedicar músicas a todas as mulheres que sofreram abusos sexuais e cantaram sobre a excessiva violência por parte da polícia na sua cidade natal, a cidade de Nova Iorque.

A banda de Kathleen Hanna e Johanna Fateman foi recebida com muita dança e entusiasmo por parte do público que parece ter compreendido a mensagem desta banda icónica.

No palco Plenitude, um dia depois do festival ter recebido Rosalía, que se tem assumido como uma das principais porta-bandeiras do Reggaeton, esteve Tokischa, que ofereceu um dos concertos mais quentes e sensuais do festival.

Entre batidas pulsantes, a cantora dominicana (que divide os créditos com Rosalía, e apresenta também nos seus concertos, as músicas Linda e LA COMBI VERSACE) entregou-se aos fãs com danças sedutoras e uma performance que a levou para a beira das grandes que separam o palco dos fãs para beijar alguns dos seus maiores fãs presentes neste evento.

Neste concerto cujas melhores palavras que poderiam ser utilizadas para o descrever seria o excesso, representado pela cantora que mostrou os seios a meio do concerto, mas também a diversão, tendo sido um dos espetáculos que recolheu uma das receções mais apoteóticas.

O final da noite (para quem não teve coragem de ir para o palco BITS) ficou encarregue aos Darkside, projeto criado por Nicolás Jaar e o multi-instrumentista Dave Harrington, que vieram apresentar o seu disco mais recente, Spiral (2021), mas deram asas à sua criatividade expandindo as músicas da sua discografia em autênticos delírios que reimaginaram as possibilidades da música eletrónica.

Entre os concertos que não conseguimos ver estão Pusha T, Built to Spill ou NxWORRIES.

Este sábado acontece o derradeiro dia do festival com atuações de grupos como Blur, New Order, Sparks ou Yves Tumor.