por Carlos Carreiras
No próximo dia 13 de junho, feriado municipal, recuperamos em Cascais a tradicional Procissão em Honra de Santo António, padroeiro da Vila de Cascais.
Durante séculos o litoral de Cascais foi conhecido como Costa de Santo António, cujo nome foi utilizado para batizar e proteger edifícios como a Torre de Santo António, mandada construir em Cascais por D. João II, c. 1490, que viria a ser integrada na Fortaleza de Nossa Senhora da Luz e depois na Cidadela de Cascais; ou a Igreja do Convento de Santo António do Estoril, pertença da Ordem dos Franciscanos, a que este santo aderiria e à qual ficou para sempre ligado. Edificada no século XVI, no local onde já existia uma ermida, foi praticamente destruída pelo terramoto de 1755. Aquando da sua reconstrução, seria aumentada, vindo a ser dotada de uma imagem de Santo António num nicho da fachada principal. É também neste templo que se preserva aquela que é considerada a mais antiga imagem de Santo António do concelho, não obstante existirem outras nas igrejas de Nossa Senhora da Assunção (Matriz), da Misericórdia e dos Navegantes, em Cascais; de Nossa Senhora dos Remédios, em Carcavelos e de Nossa Senhora de Fátima, na Parede. O seu nome seria igualmente associado ao Forte de Santo António da Barra, mandado construir por Filipe II de Espanha, em 1590, ou à Quinta de Santo António, em Carcavelos, hoje conhecida por Quinta dos Ingleses, que chegou a possuir uma capela com a sua invocação, arruinada pelo terramoto de 1755.
A evocação antonina no concelho de Cascais relaciona-se, pois, com um importante património cultural existente e com a nossa identidade, reforçada pela ligação à história militar deste Santo, que também se relaciona com no Regimento de Infantaria n.º 19 de Cascais, instalado no quartel da Cidadela.
Em 2018, o Coronel Aniceto Afonso, num estudo acerca das unidades militares de Cascais escreveu: «A ligação de Santo António a uma unidade militar começou no Regimento de Lagos, durante as guerras da Restauração, sendo após o tratado de paz de 1668, alistado como praça naquele Regimento por alvará de D. Pedro II, de 24 de maio de 1668». A 12 de setembro de 1683, D. Afonso VI promoveu-o a capitão. Só em 1777, o comandante do Regimento de Lagos fez proposta de promoção a major, através de um texto muito curioso: «Certifico que não existe alguma nota relativa a Santo António, de mau comportamento ou irregularidade praticada por ele: nem de ter sido em tempo algum açoitado, preso, ou de qualquer modo punido durante o tempo que serviu como soldado raso no regimento: Que durante todo o tempo, em que tem sido capitão, vai quase para cem anos, constantemente cumpriu o seu dever com o maior prazer à frente de sua companhia, em todas as ocasiões, em paz e em guerra».
Em 1807, por decisão de Junot, Santo António foi promovido a tenente-coronel pouco antes do seu Regimento deixar de existir, voltando a ser pago os seus vencimentos, interrompidos em 1779, por decisão do Marquês de Pombal. A crença transitou então para o Regimento de Infantaria de Cascais a propósito de um reencontro com tropas francesas no lugar de Santo António do Cântaro, no dia 27 de setembro de 1810, em que participaram tropas deste Regimento. A partir daqui a imagem de Santo António, a mesma que estivera em Lagos, acompanhou as tropas que participaram na Guerra Peninsular, mantendo-se depois no quartel de Cascais.
Instituído como padroeiro do Exército, Santo António acompanhava os militares portugueses, vindo, em 1810, as tropas do Regimento de Infantaria n.º 19 de Cascais a destacar-se na Batalha do Buçaco, numa vitória retumbante, que parece ter sido motivada pela liderança do seu comandante que os liderou, montado numa mula branca.
Caracterizam igualmente o concelho de Cascais todas as manifestações de caráter religioso e pagão que têm lugar no âmbito do património cultural imaterial e se realizam em várias localidades do concelho, como festas populares, marchas, atuações musicais, jogos e procissões.
A ideia da realização de uma procissão de evocação a Santo António em Cascais surgiu em meados do século passado por iniciativa de Joaquim Miguel de Serra e Moura, então presidente da Junta de Turismo da Costa do Sol. Um cortejo histórico com caráter religioso implícito, permitia a celebração e evocação ao Santo que acompanhou o Regimento da Infantaria n.º 19 de Cascais nas suas batalhas, tornando-o seu patrono.
É com grande satisfação que irei como devoto cumprir o percurso que percorrerá algumas das mais antigas vias da vila, terminando na Igreja Matriz, onde a imagem ficará exposta para veneração.
Santo António, neste ano, assume um especial significado por ser um dos 13 patronos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) que demonstraram que a vida de Cristo preenche e salva a juventude de sempre. Patrono é também São João Paulo II, a quem se deve a iniciativa das Jornadas, que tem reunido milhões de jovens dos cinco continentes. Padroeiros e padroeiras são também os santos e santas que se dedicaram ao serviço da juventude e em especial São João Basco, São Vicente, São Bartolomeu dos Mártires, São João de Brito, Beata Joana de Portugal, Beato João Fernandes, Beata Maria Clara do Menino Jesus, Beato Pedro Jorge Frassati, Beato Marcel Callo, Beata Chiara Badano e Beato Carlo Acutis.
A preparação da JMJ 2023 é também confiada a Patronos Diocesanos. Cada Diocese escolheu santas e santos que são referências para o contexto de cada realidade diocesana e, pelo seu exemplo e proteção, ajudarão a caminhar até à JMJ 2023.
Faltam menos de dois meses e, em Cascais, continuamos a preparar o acolhimento para mais de 60 mil jovens que vão pernoitar no concelho e para todos os peregrinos que nos visitem. Município e freguesias estão unidas para articular todos os esforços na preparação deste grande evento que está cada vez mais próximo.
Convido todos a participar nesta procissão singular no próximo dia 13 de Junho pelas 15h00, em especial os jovens que assim reforçam em alegria o espírito da JMJ e na preparação da Jornada Mundial da Juventude na semana que foi anunciada a agenda do Santo Padre e que nos encheu de grande alegria e gratidão pela presença em Cascais, pela primeira vez na história de um sucessor de Pedro.