A destruição da Barragem de Nova Kakhovka, na Ucrânia, seja quem for o responsável, é um hediondo crime contra a humanidade.
Como é possível ter-se chegado a este ponto?
Só um louco varrido pode ordenar e cometer tão devastador ataque, com milhares de vítimas e incalculáveis danos a todos os níveis.
Por menos, muito menos eclodiram no século XX as duas grandes guerras mundiais.
Esperemos que no meio de tanta loucura acabe por imperar o bom senso.
Mas esta escalada de atrocidades faz temer o pior.
A destruição da Barragem de Nova Kakhovka, como disse Volodomyr Zelensky, é um ecocídio. É mais do que isso, mas os efeitos ambientais são devastadores.
Mais ainda se considerarmos que – embora esse risco pareça estar afastado no imediato (como fez saber a Agência Internacional de Energia Atómica) por soluções alternativas entretanto já acionadas – era dali que provinha o abastecimento de água para o arrefecimento dos reatores da gigantesca central nuclear de Zaporíjia.
Uma loucura!
Aliás, os deuses estão mesmo loucos, ou não tivesse entrado novamente em erupção o vulcão Kilauea, no Hawai – que esteve 61 dias em atividade entre janeiro e março deste ano –, com os especialistas a alertarem para a extrema perigosidade da inalação dos gases libertados com a lava, qualificando-os como uma ameaça para a vida humana.
E, enquanto isso, na outra costa dos Estados Unidos, Nova Iorque regista os piores níveis de qualidade do ar, coberta por fumos provenientes dos infernais incêndios que estão a devastar a floresta do Canadá, aconselhando os nova-iorquinos a fecharem as janelas e a permanecerem em casa na medida do possível.
O Canadá chegou a contar mais de 400 incêndios ativos em simultâneo, muitos dos quais considerados completamente descontrolados.
Uma catástrofe que levou as autoridades canadianas a desencadearem os mecanismos de auxílio externo, pedindo apoio inclusivamente à União Europeia – tendo Portugal imediatamente transmitido a disponibilidade para enviar uma equipa de bombeiros e especialistas em proteção civil composta por 120 elementos (a depressão Óscar, até ver, não provocou danos de maior e a chuva que caiu no continente nos últimos dias não podia ser mais bem vinda em plena época de fogos).
Nestes tempos de insanidade global, em França, um homem de nacionalidade síria lançou um ataque indiscriminado num parque infantil, esfaqueando seis pessoas. Segundo as testemunhas citadas pelos meios de comunicação social, o atacante avançou de faca em punho contra as crianças, atingindo quatro delas, com idades a rondar os três anos, e feriu também dois adultos que o tentaram imobilizar. Duas das crianças e um dos adultos estão hospitalizados em estado considerado muito grave.
Por cá, continua a saga parlamentar dos inconcebíveis acontecimentos no Ministério das Infraestruturas que envolvem o ministro João Galamba, a chefe do seu gabinete, o seu ex-assessor Frederico Pinheiro e outras assessoras ou adjuntas e que acabou por envolver mais uma série de ministros e o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro e o próprio chefe do Governo, e ainda a PSP, a PJ, o SIRP e o SIS e, agora, também o MP. Além, claro, do omnipresente Presidente Marcelo.
Já toda a gente percebeu o que parece que todos continuam a não querer perceber, porque todos sacodem a água do capote e fingem não saber o que obviamente os compromete, enquanto os outros se fazem desapercebidos para obrigar aqueles a dizerem o que não querem nem vão dizer.
Um triste e já demasiado arrastado espetáculo de desresponsabilização e encapotamento de uma inenarrável realidade.
Uma loucura que se completa com o texto de arrependimento de Boaventura Sousa Santos, que admite ter tido comportamentos impróprios mas consegue justificá-los pela cultura e hábitos da sociedade em que nasceu, cresceu e se tornou um reputado professor e sociólogo: «Nem sempre é facil perceber conscientemente que se está a ter comportamentos que antigamente não eram vistos como inapropriados».
Pois, pois. Assim, ninguém é responsável por coisa alguma. Com certeza, os deuses é que ensandeceram de vez.