Sardinhas já vão na 2.ª geração nascida em cativeiro em Olhão

Espécie veio juntar-se a outras que já existiam na Estação Piloto de Piscicultura e responsável afirmou que se “adaptaram perfeitamente ao cativeiro”.

A produção de aquacultura já é uma realidade em Portugal. O projeto deu o tiro de partida na Estação Piloto de Piscicultura (EPPO), do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, em Olhão e veio juntar-se a outras espécies que já existiam nesse espaço, desde o robalo à dourada, passando pela corvina e linguado. Mas se ao início a ideia era estudar o stresse das sardinhas – depois de serem apanhadas, os investigadores tentavam perceber o seu comportamento após serem libertadas no mar e a sua taxa de sobrevivência – ganhou novo fôlego com o desafio de combater a escassez da sardinha.

Ao i, o responsável da EPPO, Pedro Pousão, diz que “a ideia é produzir experimentalmente para dominar o ciclo de vida e a nutrição da sardinha. Já vamos na segunda geração nascida em cativeiro, filhas de sardinhas que nunca viram o mar”. E referiu: “Já fizemos provas comparativas por duas vezes, com sardinhas selvagens e as nossa tiveram aprovação. Ainda temos de afinar porque estão sempre a comer e engordam demais, mas são saborosas e têm potencial para melhorar muito”.

No entanto lembra que “a sardinha não é prioridade, a prioridade são as que a indústria produz como a dourada, o linguado e o robalo, por isso, os financiamentos que temos vão dando para irmos fazendo alguns ensaios por ano e ir preparando o futuro para quando nos pedirem para ontem já termos o trabalho de casa avançado”.

O i fez uma reportagem, no final de 2020 e, na altura, Pedro Pousão garantiu que a espécie adaptava-se perfeitamente ao cativeiro. E para os mais desconfiados, o responsável da EPPO disse apenas que o único cuidado dizia respeito à forma como são transportadas, mas isso aplicava-se a todas as espécies. “As sardinhas adaptam-se perfeitamente ao cativeiro, é evidente que perdem um bocadinho de escama e tem de se manipular com mais cuidado. Mas manipular douradas e robalo é totalmente diferente. Se transportar para as gaiolas da mesma forma as douradas e os robalos, a minha taxa de mortalidade é de 80% no robalo e na dourada é zero. Têm de ser transportados consoante a especificidade da espécie”, acrescentou.

E nessa altura, o responsável da EPPO, defendia que se a sardinha é o ícone de Portugal e uma das espécies mais populares em termos de consumo então terá inevitavelmente de ser produzida em cativeiro, até para responder às quotas que são impostas em termos de captura. E face a esse cenário acreditava que Olhão poderá dar resposta.

Ainda assim, deixou um alerta: “Em aquacultura não resolvemos os problemas de produção de um animal num ano ou em dois. Precisamos de quatro, cinco ou seis anos para afinar técnicas, mesmo herdando técnicas de outras espécies. E quando o mercado precisa, exige sempre toneladas. Isto aplica-se também à sardinha”.

No seu site, o IPMA lembra que estas espécies são “alimentadas com ração comercial, têm apresentado um crescimento rápido e uma baixa taxa de mortalidade. Análises recentes mostram alterações ao nível do teor dos lípidos presentes na composição do tecido muscular, durante o primeiro ano de cativeiro, mas dentro dos parâmetros normais para a espécie”.

E acrescenta: “Trabalhos futuros pretendem obter mais informação acerca das necessidades nutritivas das sardinhas, compreender o ciclo reprodutivo e aprofundar os conhecimentos sobre o seu comportamento físico e fisiológico em cativeiro”.