O triunfo do marxismo

Sendo as mulheres ‘iguais’ aos homens, devem ter os mesmos direitos e poder fazer as mesmas coisas: ir à tropa, participar na política ou jogar futebol em plano de igualdade com os homens. E o que se diz para as mulheres vale para os negros e para as minorias sexuais.

António Costa dizia um dia destes que a direita quer derrubar o Governo antes que a chuva de milhões do PRR «chegue aos bolsos dos portugueses».
Os leitores sabem o que penso destas chuvas de dinheiro: nunca contribuíram para aumentar a capacidade produtiva do país. São, pois, fenómenos efémeros. Podem servir para uns apoios, para uns subsídios, para tapar uns buracos, mas não melhoram estruturalmente Portugal. Não o tornam mais forte.
Mas não é sobre isso que venho falar hoje. Cito o primeiro-ministro para ilustrar uma verdade: de há uns tempos para cá deixou de se falar de política para só se falar de dinheiro. O Governo acena com cheques às famílias e reduções do IVA; a oposição responde com críticas à inflação e à carestia de vida….

As discussões de ideias desapareceram. Os cidadãos são reduzidos à mais primária condição: tudo se resume aos ‘bolsos’ cheios ou vazios. Mesmo os comentadores supostamente ‘cultos’ deixaram de discutir ideias e imputam tudo à economia. 
E, entretanto, certas ideias vão fazendo o seu caminho, silenciosamente, subterraneamente, e moldando o futuro.
Julga-se que o marxismo ruiu com a implosão da URSS e a queda do Muro de Berlim. Mas se os ramos da árvore envelheceram e secaram, as suas raízes permanecem vivas e estendem-se por debaixo da terra. 
Se olharmos à volta, já não pega muito o discurso da luta dos trabalhadores contra os patrões, que foi substituída pela ‘concertação social’. Aqui, o corporativismo venceu a luta de classes. Mas esta transferiu-se para outros terrenos e ganha diariamente adeptos.
 
A lógica é sempre a mesma: a luta dos oprimidos contra os opressores. 
O que é o feminismo? Não é mais do que a luta das mulheres contra a opressão dos homens. O que é o racismo? É a opressão das ‘raças’ mais fracas pelas ‘raças’ mais fortes. O que é a homofobia? É a opressão das minorias homossexuais. E assim por diante.
Está sempre presente a ‘opressão’ – e a necessidade de a combater.
E combater em nome de quê? Da ideia de ‘igualdade’. 
Sendo as mulheres ‘iguais’ aos homens, devem ter os mesmos direitos e poder fazer as mesmas coisas: ir à tropa, participar na política ou jogar futebol em plano de igualdade com os homens. E o que se diz para as mulheres vale para os negros e para as minorias sexuais.

Nesta luta, a ideia geral é: ou vai ou racha. Se a igualdade não for alcançada a bem, de um modo natural, então impõe-se. Na política, estabelecem-se quotas para as mulheres. No desporto, impinge-se a toda a hora o futebol feminino (a MEO tem agora um canal, numa posição privilegiada, que transmite constantemente jogos entre equipas femininas). E um destes dias um comentador criticava o Benfica por não ter comemorado em paridade as conquistas dos títulos nacionais de futebol masculino e feminino.
O mesmo se observa nas relações entre brancos e negros. Sendo os negros iguais aos brancos, qualquer diferença que se aponte entre uns e outros é um crime. Quaisquer entraves às migrações de Sul para Norte são inadmissíveis e odiosos. E na sexualidade idem, aspas. Como esta não resulta de qualquer diferença mas de uma ‘opção’ – ou seja, um indivíduo chega a certa idade e pensa: «O que vou ser? Heterossexual? Homossexual? Bissexual?», e faz a sua opção… –, é completamente ilegítimo tentar encontrar características distintivas nas várias ‘opções’. 

Estamos num tempo em que, como não há diferenças, todos podem ser tudo e fazer tudo, independentemente do sexo, da raça, do comportamento sexual, etc.
Não se admite que uns possam ser melhores do que outros em certas funções. Não se tolera que haja atividades mais adequadas para uns do que para outros. Negam-se as próprias evidências. Mas elas acabam por se impor. Recentemente, num jogo de futebol entre uma equipa alemã e uma francesa, havia mais negros em campo do que brancos. Em várias modalidades desportivas, como o atletismo e o futebol, torna-se notório que os negros têm melhor performance. Já no ténis é raríssimo ver jogadores negros.
Mas não se pode falar nisto. Só se pode falar de ‘igualdade’. Quantas vezes por dia não ouvimos na TV a expressão «igualdade de género»? Só que a ideia de igualdade, bonita à superfície, quando levada às últimas consequências pode ter efeitos devastadores.
 
A ideia de igualdade é boa e mesmo indispensável quando se fala de ‘oportunidades’. É justo que todos tenham as mesmas oportunidades – sejam meninos ou meninas, brancos ou negros, homossexuais ou heterossexuais, pobres ou ricos. Mas a partir daí as pessoas devem ser livres. Devem desenvolver-se livremente. E, como todos somos diferentes uns dos outros, a desigualdade naturalmente instala-se. Uns são mais inteligentes, outros mais ágeis, outros mais fortes, etc. – e alcançam patamares distintos. 
Mas se o objetivo final for a igualdade, há que a impor ditatorialmente. Se uns crescerem mais do que outros, cortam-se-lhes as pernas para ficarem à mesma altura.
Foi isto que aconteceu na URSS: a ideia de igualdade conduziu inexoravelmente à ditadura. Uma ditadura implacável, porque visava contrariar a natureza.

O marxismo, que na política é repudiado, tem avançado silenciosamente na sociedade. Com a conivência dos partidos de direita – que, para não perderem votos, evitam estes temas. Sabe-se o que pensa o PSD dos assuntos aqui tratados? Não. O próprio Chega terá aprovado um diploma que impõe a construção de casas de banho ‘indiferenciadas’ nas escolas, destinadas a raparigas e rapazes que não se sintam bem no sexo que a natureza lhes atribuiu.
Os partidos deixaram a discussão de ideias. Ora, por muito que os bolsos sejam importantes, nem só de pão vive o homem. Também se alimenta de ideias – e o triunfo de certas ideias condiciona-lhe o futuro. 
Desapareceu a censura oficial mas instalou-se uma censura informal, uma polícia do pensamento, espécie de ditadura não regulada por ninguém, que impede a discussão de certos temas. 
Sobre eles caiu um manto silêncio que só meia dúzia de insubmissos, não dependendo de nenhum partido, nem de um patrão, e pensando pela sua própria cabeça, têm coragem de romper.