“Um Património para o Futuro”

por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó,                    

«Onde estavas no 25 de abril?». Foi uma expressão usada pelo Baptista-Bastos e imortalizada pelo Herman José.

Não te vou falar deste tema mas sim recordar onde estávamos há 25 anos.

Para os que nasceram neste Século, sempre viram o Parque das Nações semelhante ao que é hoje. Mas nós, que já andamos cá há uns anos, vimos nascer esta “nova Lisboa”.

O legado da “Expo 98” para a cidade foi enorme. Imaginar que aqueles cinco quilómetros de frente ribeirinha eram uma nojenta lixeira. Chegou a ter matadouros e industriais poluentes, estando deixada ao abandono.

Lembro-me de ir a eventos que aconteceram nos antigos contentores de mercadorias existentes no espaço antes deste começar a ser convertido naquilo que se tornou na grande exposição.

Perdi a conta ao número de vezes que fui à Expo 98. O espetáculo de encerramento foi inesquecível. Assim como os espetáculos diários, os “Olharapos” e muito mais.

O tema da exposição foi “Os Oceanos – Um Património para o Futuro”, Não podia ser um tema mais atual. Se não estou em erro os bilhetes custavam 5 contos (25 euros) / dia, uma pequena fortuna para muitos. Ainda assim o espaço esteve praticamente sempre esgotado. 

Daquele ano ficou para contar história a Torre Vasco da Gama, onde na exposição funcionou um restaurante de luxo e atualmente um hotel, o Teatro Camões, o pavilhão da Utopia (mais tarde conhecido como pavilhão Atlântico e atualmente Altice Arena), o teleférico, o Oceanário, o Pavilhão do Conhecimento, o Pavilhão do Futuro, convertido no Casino de Lisboa e o Pavilhão de Portugal (até agora com destino incerto).

Lisboa não voltou a ser a mesma e António Mega Ferreira será eternamente conhecido como o “Pai da Expo 98”.

À entrada, éramos recebidos de braços abertos pelo Gil, a mascote da Expo’98.

Conta-me tudo sobre as tuas idas à Expo 98.

Bjs

 

Querido neto,

A Expo-98 foi daqueles acontecimentos que nunca mais serão esquecidos. Mas, até ao dia da abertura, nunca ninguém pensou que aquilo iria abrir no dia marcado. À boa maneira portuguesa, tudo estava atrasadíssimo, a gente passava por lá, abanava a cabeça e dizia «isto nem daqui a um mês está pronto».

No dia marcado, à hora exata, as portas abriam. As filas eram enormes, por isso tínhamos de lá estar à porta com muita antecedência. É claro que havia quem pudesse entrar primeiro: pessoas com mais de 70 anos, pessoas em cadeira de rodas ou de muletas, e pessoas que levassem bebés ou miúdos pequenos. E logo ali se criou o negócio de ”empresta-me um miúdo que eu depois de entrar devolvo-te”- que funcionou sempre muito bem…

Eu fui à Expo todos os dia sem falhar um.

Vi todos os pavilhões mais de uma vez, andei no teleférico, assisti a todos os espetáculos, e fiz tudo o que lá havia para fazer – incluindo uma viagem de ida e volta a Cascais num barco a remos, para vermos como era difícil viajar nos tempos antigos – comi em todos os restaurantes, de países diferentes, que lá havia. Claro que era caro – mas também nunca mais iríamos estar ali. Tirei centenas e centenas de fotografias (a sério, de papel) que enchem seis álbuns.

E, para lá de tudo isto – o que já era muito! – havia uma organização impecável.

Nunca ninguém esperava à porta de uma casa de banho um momento que fosse, havia casas de banho que chegassem. Isto pode parecer uma palermice mas todos nós sabemos que, em acontecimentos como este, ir à casa de banho é muitas vezes um grande problema.

E agora quando estou em Lisboa, vou muitas vezes ao Parque das Nações matar saudades.

Pode ser que um dia destes tu e eu ainda nos encontremos por lá, a olhar para aquela vista lindíssima

Ah, e já agora, o meu livro “Praias de Portugal” que saiu nessa altura, foi-me pedido pelo meu editor, uma vez que o tema a Expo eram os oceanos…

Bjs