Zlatan Ibrahimovic. A fera indomável também chora

Sempre passou a imagem de duro, mas ao despedir-se do futebol Zlatan Ibrahimovic emocionou-se e chorou. O espetáculo continua, mas não será a mesma coisa.

Zlatan Ibrahimovic. A fera indomável também chora

Aos 41 anos, o avançado sueco, filho de pai bósnio muçulmano e de mãe croata católica, decidiu parar. A temporada que agora terminou foi demasiado frustrante para o azougado jogador que tem um ego do tamanho do mundo e adorava causar polémica com uma língua tão afiada quanto sua pontaria para o golo. Só as lesões, e foram muitas, fizeram parar aquele que foi considerado o maior jogador sueco de sempre. Achou por bem despedir-se dos fãs – sim, um personagem como “Ibra” tem seguidores em todo o mundo – em pleno Estádio Giuseppe Meazza, onde joga o AC Milan, o seu último clube. «Chegou o momento de dizer adeus ao futebol. Guardo muitas memórias e grandes emoções deste estádio, mas a partir de agora sou um homem livre. A primeira vez que cheguei a Milão senti-me feliz, na segunda vez senti amor. Foi uma longa carreira da qual me orgulho». Foi assim que o sueco se despediu dos adeptos no final da partida com o Verona. Três meses antes de anunciar a retirada entrou definitivamente na história do futebol italiano ao tornar-se o jogador mais velho a marcar (41 anos e 166 dias), na vitória sobre a Udinese. O sueco não pensa deixar o mundo do futebol, e afirmou: «Vou aproveitar o futuro, um novo capítulo começa», talvez como treinador ou dirigente.

Desde muito jovem que a rebeldia faz parte do seu caráter e o futebol o seu modo de vida. Passava grande parte do dia num campo perto de casa da sua mãe, e o seu primeiro ídolo foi Marco van Basten, era com ele que queria ser comparado.

Alguns anos mais tarde trocou de ídolo e converteu-se ao Ronaldo, o Fenómeno, com quem fez amizade apesar de jogar no Inter e o brasileiro ser a estrela do Milan.

Começou a jogar futebol profissional em 1999 no Malmö e deixou a sua marca e alguns ódios de estimação em grandes clubes como o Ajax, Juventus, Inter de Milão, Barcelona, Milan, PSG, Manchester United e LA Galaxy. Foi também a estrela na seleção sueca durante mais de duas décadas. Considerado um dos melhores avançados da história do futebol, Ibrahimovic disputou 988 jogos e marcou 573 golos. Ganhou quase tudo, faltou-lhe a Liga dos Campeões. Em 2013, recebeu o prémio Puskas para o melhor golo do ano, e foi considerado por 11 vezes o melhor jogador sueco. Foi campeão em Itália cinco vezes, quatro vezes em França, duas nos Países Baixos e uma em Espanha. Venceu a Liga Europa com o Manchester United, treinado por José Mourinho, um Mundial de Clubes e uma Supertaça Europeia com o Barcelona.
Marcou golos espetaculares com gestos acrobáticos, mas isso não aconteceu por acaso. Na sua juventude via muitos filmes de Bruce Lee e combates de boxe de Muhammad Ali, e praticou taekwondo onde foi cinturão negro.

Fora de campo

Ibrahimovic nuncafoi um sueco normal e devido à sua ascendência estrangeira tornou-se um símbolo da integração (ou falta dela) dos imigrantes, o que incomodou muitas pessoas de extrema-direita que chegaram a afirmar que «não é sueco, tem um modo de falar e uma linguagem corporal que não é típica dos suecos». Além disso, o seu temperamento, o individualismo e as regalias que tinha na seleção chocavam com a cultura sueca e, por isso, nunca reuniu consenso entre os adeptos.

Outra característica são as tatuagens em todo o corpo. Além do nome dos seus pais e dos dois filhos, tem tatuado o nome de 50 pessoas que passaram fome no mundo, associando-se à campanha do Programa Alimentar Mundial.