Por Luís Castro, Jornalista
Descansar – arma! À – vontade!». Pronto, o aguçado comandante supremo já pode ir, à vontadinha, beber o seu copo de vinho do Douro e encher os microfones com inutilidades, enquanto os soldados ensaiam à chuva. Como o pai o safou da tropa, não aprendeu que chuva civil não molha militares. Já estão habituados a marchar sozinhos e não precisam de um populista disponível para apanhar dois ou três pingos e fazer de conta que se preocupa com eles. E pode trocar as piedosas intenções por dignidade, reconhecimento e memória. Que deixe os pingos cá fora e aproveite a pinga lá dentro – que é da boa. E teve boa poda, porque a seu tempo alguém lhe aparou os galhos mortos.
E por falar em memória, onde estava Marcelo Rebelo de Sousa em 1998, quando os nossos valorosos militares resgatavam portugueses da guerra na Guiné-Bissau? Ah, era líder do PSD e fazia campanha contra o Aborto e a Regionalização. E em 1999, quando os destemidos soldados portugueses, em Timor, entravam em combate pela primeira vez depois da guerra do Ultramar? Ah, estava entretido a fritar Paulo Portas em lume brando depois do parceiro de coligação AD ter dito que ele era «o filho do Deus e do Diabo», já que Deus lhe dera a inteligência e o Diabo a maldade. Percebe-se.
Com Marcelo em Belém, passaram vinte anos da ‘Operação Cobra’, em Timor, e vinte e cinco anos da ‘Operação Crocodilo’, na Guiné. E do comandante supremo, só bulhufas. Nem deve saber que foram as duas maiores operações das nossas Forças Armadas depois de 1974. Missões reconhecidas pelas Nações Unidas, mas atiradas para as memórias perdidas. Memória já não é o forte de políticos, militares e jornalistas. Porque já não dão votos, porque foram outros e porque já não têm polémica. Que mesmice. Que mortório.
No Tejo a Marinha dá-se bem, mas para o mar, já só há dois decrépitos – bons para ferro velho. Já nem se lhes aproveita a madeira. Talvez por isso o único submarino tenha fugido para lá do Cabo das Tormentas. Na Esperança, o Arpão bem atira, mas a baleia não esguicha. E se um destes dias precisarmos de salvar portugueses, como fizemos na Guiné, que venham a nado até às Berlengas que os apanhamos por lá. O comandante supremo já não berra e o Bérrio também não. Apodreceu-lhe o fundo.
E se for necessário empenhar forças especiais, dos que tomam as velhas armas da Pátria e vão combater e morrer longe dos filhos e das mães, pode ser que estejam por lá daqueles que acham que os treinos deviam ser mais fofinhos. Talvez tenham de vir a pé. E se forem necessários aviões, até são novos, mas não têm pilotos. Resta a piroga para voar baixinho. Mas cuidado com as cobras e os crocodilos.
Por cá, o praça foi trabalhar para o ‘Mercadona’, que ganha mais e não tem de aturar o sargento. E os almirantes e generais só deram conta quando já não tinham quem lhes tirasse o café. Agora, tiram à sorte. Ou alinha o mais marreta. E o oficial, não foi na cantilena e arribou. Farto de cacarecos, largou o panamá, apanhou mar chão e levaram-no noutros ventos de feição. E enquanto a ministra fica a cismar no género, os soldados – ou as soldadas -, de tanga e na flecha, continuam a debandar.
Na Bíblia, o Supremo diz que corta o ramo que não dá fruto. Para Ele, quem nada acrescenta, subtraído está. E se Deus fez o crocodilo com boca grande e à cobra deu-lhe a capacidade de mudar de pele; já o Diabo quis que os dois rastejassem – entre os galhos caídos do purgatório. Rastejar já não se pode e o silêncio é um amigo que nunca trai. Mas o comandante não consegue estar calado. É uma poda!