Estado social de base local: um ator de primeira grandeza

Cascais teve de se afirmar como um ‘player’ local, com expressão nacional, assumindo a saúde como um ativo e um motor de um novo desenvolvimento social, dando uma resposta concreta aos enormes desafios atuais.

São em número muito significativo, na ordem das dezenas de milhar, os idosos que no nosso país residem nas Estruturas Residenciais Para Pessoas Idosas (ERPI`s), habitualmente conhecidas por Lares. A pandemia covid-19 veio evidenciar a grande fragilidade desta população e também das próprias instituições do sistema de saúde e social para assistir às necessidades destas pessoas. 

É certo que depois de muitos progressos a nível tecnológico, social e da saúde, ocorreu nas últimas décadas um aumento da longevidade. No entanto, é preciso ter em atenção que o aumento do número de anos vividos não é sempre acompanhado de anos com qualidade. 

Situações de fragilidade, multimorbilidade, dependência funcional e declínio cognitivo são frequentes e, apesar das recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que apontam para ser esta uma prioridade de Saúde Pública, o apoio aos idosos em fim de vida nem sempre é o mais adequado. Até porque os idosos em situação de fragilidade apresentam maior vulnerabilidade e carecem de mais cuidados de saúde. A fragilidade representa um estado inespecífico de risco aumentado de mortalidade e de eventos adversos de saúde, como a maior dependência de terceiros, a incapacidade, as quedas e lesões incapacitantes, as doenças agudas, a lenta recuperação de doenças, a necessidade mais frequente de hospitalização e a institucionalização mais prolongada. 

Num cenário de governação extremamente adverso, com uma crise pandémica com impacto económico e social significativo, o município de Cascais teve que se afirmar como um player local, com expressão nacional, assumindo a saúde como um ativo e um motor de um novo desenvolvimentos social, dando uma resposta concreta aos enormes desafios atuais, dos quais se destacam a pobreza, o acesso à habitação, o envelhecimento das populações, a desesperança dos jovens, a participação cívica e a crise no sistema de proteção social. 

Segundo a OMS, é a nível local, que podem ser definidas e desenvolvidas políticas públicas que promovem uma esperança de vida com melhor saúde, bem-estar e qualidade de vida, com incidência a nível individual e comunitário, em prol do bem-estar social. 

As autarquias, devido à proximidade que exercem junto dos cidadãos, têm uma especial preponderância, vocação, e agilidade institucional para a implementação estratégica de medidas políticas; ou seja, de transformar ideias em ação. Muitas destas medidas não decorrem exclusivamente de políticas oriundas do Governo Central e que careçam de uma imediata implementação por parte dos Governos Locais, mas são orientações estratégicas, medidas de softlaw emanadas de uma agenda global e de instituições internacionais, tais como a União Europeia (UE), Organização Mundial de Saúde (OMS, Organização para o Desenvolvimento Económico e Cooperação, Organização das Nações Unidas (ONU), entre outras. 

A implementação e apropriação destas medidas estão, na maioria das vezes, à mercê da motivação, criatividade e proatividade das instituições, podendo despoletar assimetrias no acesso aos direitos mais elementares. 

Em Cascais o tempo é de proximidade com os cidadãos. Uma saúde de qualidade e acessível é um dos pilares de desenvolvimento de qualquer comunidade, e Cascais assume estar empenhado em construir um moderno Estado Social Local, tendo a saúde como estratégia assente no Serviço Local de Saúde e Solidariedade Social (SL3S) com uma dupla dimensão: por um lado está atenta à mencionada agenda global, que vai ao encontro da atual estratégia das chamadas smart cities sempre coordenadas pelo futuro da democracia, e por outro lado tem uma permanente atenção na dimensão local e qualidade de vida das pessoas; e neste sentido esta política responde também ao conceito estratégico da gloCalização. A transformação social requer uma forte e concertada ação local e a definição de estratégias de âmbito territorial, pensadas de modo global, mas com atuação a nível local. 

Desta forma, o município assume a sua missão de contribuir para o desenvolvimento económico e social através da implementação de políticas cirúrgicas capazes de resolver de forma sistémica eficiente, eficaz e efetiva os problemas sociais, tendo como bússola orientadora a confiança e a esperança das pessoas. 

Deste ponto de vista, Cascais apropria-se da sua responsabilidade e compromisso de: (1) garantir a Proximidade dirimindo os constrangimentos de um Estado dependente dos ciclos políticos; (2) concretizar os Direitos Sociais, de forma universal e progressiva, dando resposta às situações de desigualdade sistémica; (3) ter por base uma abordagem global e intersetorial assente num processo participativo e colaborativo de responsabilidade multinível, coletiva e individual, promovendo o exercício fundamental de capacitação das pessoas e dos atores sociais. 

Esta consciência implicou uma mudança de paradigma na governação, fazendo do estado social de base local um ator de primeira grandeza na promoção das políticas de bem-estar e solidariedade que contribuirá para uma sociedade mais humanizada.