Euro 2024. Energia nova na ‘Terra do Gelo’

A caminhada de Portugal para o Euro 2024 prossegue hoje na Islândia. A seleção mostrou um futebol de fraca qualidade frente à Bósnia, espera-se atitude diferente perante a equipa nórdica, que não tem margem de erro.

por João Sena

Portugal precisa de mais energia para conseguir a quarta vitória consecutiva na fase de apuramento para o Campeonato da Europa do próximo ano e tornar ainda mais especial a 200.ª internacionalização de Cristiano Ronaldo. Para o jogo de hoje (19h45) contra a Islândia vai haver mudanças na equipa, embora o núcleo duro de Roberto Martínez se mantenha. “O jogo contra a Bósnia foi intenso e nós temos dois jogadores por posição. Vamos avaliar cada jogador. Não vou mudar por mudar. Devo fazer as mudanças que sejam necessárias. Só depois do treino irei decidir”, afirmou o técnico espanhol. O líder da equipa referiu ainda que “o balneário atravessa um bom momento e tenho sensações muito positivas depois do jogo com a Bósnia”. Roberto Martínez falou depois de Ronaldo: “Nunca digo o onze inicial, mas  vai ser um dia muito especial. É o primeiro jogador a ter possibilidade de disputar 200 partidas. Vai jogar”. Sobre o adversário de hoje, afirmou: “Espero uma equipa compacta, agressiva e organizada, que vai defender muitas vezes na sua área. Vai ser um jogo complicado”.

A seleção islandesa nada tem a ver com a equipa que surpreendeu no Euro 2016. Espera-se uma Islândia a jogar de forma ofensiva e com o apoio dos seus adeptos, mas o cenário mais provável é que seja Portugal a controlar a partida devido à sua maior qualidade. Nos últimos cinco jogos oficiais, a Islândia apenas venceu um (Liechtenstein), ao passo que Portugal apenas perdeu um (Marrocos, no Mundial de 2022). Curiosamente, a seleção islandesa tem feito melhores resultado fora de casa. Na jornada anterior perdeu em casa (1-2) com a Eslováquia, está no penúltimo lugar do grupo, com apenas três pontos, e nova derrota pode ser o adeus ao Euro 2024. A vitória de Portugal deixa a seleção muito perto do apuramento para a fase final a realizar na Alemanha.

O dia fica também marcado pelo 200.º jogo de Cristiano Ronaldo com a camisola das quinas. “Fico muito orgulhoso. Representar a seleção sempre foi um sonho para mim. É uma longa história, mas tenho muito mais internacionalizações para fazer. A minha motivação para continuar a jogar ao mais alto nível por Portugal é grande. Ficarei cá até achar que devo, não abdicarei de qualquer forma”, avisou o capitão da seleção. O treinador da Islândia, Age Hareide, que conhece CR7 do tempo do Manchester United, deixou elogios: “É um jogador fantástico. Vai alcançar um número incrível”. Mas avisou: “Nós estamos cá para estragar esse dia”.

 

Festa na Luz

O ambiente era excelente, estádio cheio e muita animação nas bancadas, com famílias inteiras preparadas para a festa, e festejaram por três vezes, só que pelo meio tiveram longos períodos de bocejo perante o futebol lento, desligado e sem ponta de beleza praticado pela seleção portuguesa, que está muito acima da Bósnia e Herzegovina no ranking mundial.

A primeira parte foi muito pobre e antes de Bernardo Silva fazer o 1-0 a Bósnia teve duas boas oportunidades para marcar. O segundo tempo foi mais conseguido, mas longe de entusiasmar. Na falta de bom futebol, o público agitava-se sempre que CR7 tinha a bola e pediu repetidas vezes: “Só mais um, só mais um”. Fizeram-lhe a vontade com dois golos de Bruno Fernandes. O público saiu feliz e deixou feliz o selecionador. “Cada vez sou mais português”, disse Roberto Martínez.

A vitória não tem discussão, mas o resultado (3-0) foi simpático, pois Portugal não jogou para ganhar por três golos de diferença. Uma equipa deste gabarito, que entra em campo com dois recentes campeões europeus, tinha de mostrar mais qualidade frente à Bósnia, que chegou a Lisboa com um plano de jogo que impediu os anfitriões de dominarem a partida e golearem como aconteceu nos jogos anteriores. Salvou-se o resultado e a liderança do grupo J, com dois pontos de vantagem sobre a Eslováquia, que é cada vez mais a candidata-surpresa ao segundo lugar e ao apuramento direto para o Euro 2024. Com este triunfo, Roberto Martínez mantém um registo 100% vitorioso nos 13 jogos de qualificação realizados como selecionador da Bélgica e agora de Portugal.

A seleção está a aproveitar bem o facto de estar num grupo favorável (Bósnia e Herzegovina, Islândia, Luxemburgo, Eslováquia e Liechtenstein) e consegue alguns registos interessantes: com três vitórias consecutivas igualou o melhor registo de uma fase de qualificação (Euro 1996); é primeira vez que a seleção nacional não sofre golos nas três primeiras jornadas de um apuramento e tem o melhor ataque de sempre com 13 golos em três jogos (o anterior registo era 12 golos para o Mundial de 2018).

 

Falta de ideias

Roberto Martínez foi honesto, o que nem sempre acontece com outros técnicos que veem jogos que mais ninguém vê. “Foi um típico encontro de estágio de junho, no qual há fadiga mental. Não tivemos a ideia de jogo que normalmente mostramos”, admitiu.

O que se passou então para Portugal ter feito um jogo tão fraco? Foi a mensagem de Roberto Martínez que não passou ou foram os craques portugueses que entraram em modo de férias sem avisar o selecionador? É que ainda há um jogo para realizar hoje, em Reykjavik.

O selecionador deu a explicação para a exibição sem chama: “O nosso jogo com bola não foi ao nível do que precisamos. Foi bom vencer por 3-0, mas temos de melhorar em muitos aspetos. Foi um bom jogo para aprender e melhorar”. O técnico nacional avaliou: “Foi um jogo difícil contra uma equipa muito competitiva. A Bósnia tem muita qualidade e fez um bom trabalho defensivo. Os nossos jogadores estiveram a um alto nível fisicamente, mas precisamos de estar juntos e de jogar como equipa. O jogo de Portugal sem bola mereceu a vitória”.

Portugal jogou sempre a um ritmo lento e sem criar muitas oportunidades de golo, teve decisões erradas, perdeu a bola em zonas onde não devia, “mastigou” o jogo a meio-campo e o ataque foi um vazio. Cristiano Ronaldo e João Félix continuam sem se encontrarem em campo, e não foi por culpa do capitão da seleção. A ideia de que os dois não podem jogar ao mesmo tempo ganha cada vez mais força.