É extraordinária a história dos quatro irmãos colombianos que sobreviveram à queda da avioneta em que seguiam com a mãe e que andaram perdidos 40 dias e noites na floresta amazónica até serem resgatados por militares e indígenas.
Segundo os relatos das crianças mais velhas, a mãe ainda resistiu quatro dias após a aeronave se ter despenhado, acabando por sucumbir, tal como os outros dois adultos que também seguiam no aparelho (um deles o piloto), mas não sem antes lhes ter dito para fugirem dali e procurarem ajuda.
Lesly Mucutuy, de 13 anos, a irmã Soleiny (9 anos), o irmão Tien (5 anos) e a bebé Cristin (1 ano) – estes dois passaram os dias de aniversário na selva – conseguiram manter-se hidratados e alimentados (ainda que o bebé apresentasse sinais de fraqueza preocupantes no momento do resgate) e escapar a todos os perigos da floresta amazónica, já que se encontravam numa área em que abundam animais selvagens, como felinos e répteis, além de inúmeros insetos perigosos para o homem.
Indígenas, terão sobrevivido à conta da precavida irmã mais velha, Lesly, que não só soube orientá-los sobre o que podiam ou não comer como retirou dos destroços da avioneta e levou consigo dois sacos com roupa e uma pequena mochila com o que tinha à mão e achou que poderia ser-lhes útil: farinha de mandioca, uma lanterna a pilhas (já gastas quando foram encontrados), dois telemóveis (também já sem bateria e obviamente ali sem rede) uma garrafa de refrigerante e uma caixa de música (para a bebé).
Impressionante!
Mas não só. Os testemunhos da comunidade indígena de que são originários dão conta de uma tradição segundo a qual os mais velhos ensinam as crianças desde tenra idade – a partir dos três anos, dizem eles – a distinguir os frutos comestíveis dos venenosos, a aproveitar e a beber água da chuva, a protegerem-se em troncos de árvores e outros esconderijos para escapar a animais perigosos, enfim, as técnicas mais básicas de sobrevivência na selva para prevenir uma qualquer eventualidade.
Vejamos agora outro caso incrível a que o mundo tem estado a assistir com incredulidade e já muito pouca esperança: o misterioso desaparecimento do submersível Titan pilotado pelo multimilionário Stockton Rush no Atlântico Norte, a 700 quilómetros do Canadá, durante uma expedição ao que resta do naufragado cruzeiro Titanic, a 3,8 kms de profundidade.
O pequeno submarino tem a bordo, além do próprio Rush, fundador da empresa expedicionária, mais quatro aventureiros milionários: o empresário inglês Hamish Harding, o mergulhador francês Paul-Henri Nargeolet, o também empresário paquistanês Shahzada Dawood e o seu filho, Sulaiman.
É certo que esta já não era a primeira expedição do submersível da OceanGate aos destroços do Titanic, mas os riscos de segurança assumidamente elevados aconselhavam a que o apoio à superfície não se esgotasse num quebra-gelo sem os meios mínimos indispensáveis para responder a qualquer eventualidade.
Esse foi, desde logo, um dos principais problemas: a ausência total de capacidade de resposta a partir do momento em que o navio de apoio (Polar Prince) perdeu o contacto com o submersível Titan.
Cada bilhete para esta expedição terá custado 250 mil dólares.
E são vários os testemunhos – incluindo de um amigo de Hamish Harding, o também magnata Chris Brown, que desistiu da viagem mal viu o Titan – sobre a evidência da falta de garantias de segurança desta aventura.
As comunicações falharam 1 hora e 45 minutos após o início da viagem do Titan, na madrugada de domingo passado, sendo que o aparelho tinha reservas de oxigénio para 96 horas, que se esgotaram pouco depois do meio-dia de ontem.
Daí que tenha sido já sem surpresa que ontem ao final da tarde o mundo recebeu a triste notícia da morte dos cinco passageiros do Titan, confirmando-se o desfecho em tudo contrário ao do salvamento das crianças colombianas na floresta amazónica.
São várias as lições a retirar destes dois casos que emocionaram e prenderam a atenção do mundo.
A começar pela Educação que temos e pela diferença entre o investimento que fazemos no essencial e no fútil.
Não tem comparação, infelizmente.
E os exemplos são muito, mas mesmo muito mais.
Para mal dos nossos pecados.