A pose é tudo?

Na CPI, Pedro Nuno Santos disse que nunca sentiu falta de solidariedade por parte de António Costa. Ora, talvez António Costa não diga o mesmo.

Todos os comentadores, quase sem exceção, acharam que Pedro Nuno Santos esteve muito bem na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP.

Dizem que se defendeu com mestria e não saiu minimamente beliscado – mantendo intactas as suas aspirações à liderança do PS.

Mais: viu mesmo essas pretensões reforçadas.
Tive um colega que costumava dizer: «A pose é tudo».
E esta frase aplica-se como uma luva a Pedro Nuno Santos. 
Nunca ninguém o ouviu dizer nada de extraordinário; a sua ação como ministro deixou muito a desejar; fez afirmações disparatadas e cometeu deslealdades; mas a pose mantém-no à tona.

Na CPI, Pedro Nuno Santos disse que nunca sentiu falta de solidariedade por parte de António Costa.
Ora, talvez António Costa não diga o mesmo.
Basta lembrarmo-nos do episódio do novo aeroporto – e de como Pedro Nuno Santos aproveitou o facto de o primeiro-ministro estar fora do país para anunciar a suposta escolha da sua localização.
Como quem diz: «Eu tenho uma solução para isto, o Governo é que não anda nem desanda».
Não foi leal nem solidário com Costa e com os seus colegas de Executivo.

Também na CPI, Pedro Nuno Santos disse que, quando surgiu o caso Alexandra Reis, se demitiu, ponto final.
Era uma decisão sua, de mais ninguém.
Tratava-se de uma óbvia referência a João Galamba, que pediu a demissão mas voltou com a palavra atrás, depois de Costa dizer que não a aceitava.
Pedro Nuno Santos mostrava-se feito de outra louça.
Ao contrário de Galamba, que se colocara nas mãos de Costa, ele revelara-se senhor do seu destino, saindo sem esperar pela autorização do primeiro-ministro. 

Ao ouvir isto, fiquei pasmado.————— Quem não se lembra do que aconteceu depois do tal anúncio do local do novo aeroporto?
Pedro Nuno Santos foi desmentido em público por António Costa, que lhe exigiu que se retratasse perante os portugueses e lhes pedisse desculpa; e ele sujeitou-se a tudo, num mea culpa deprimente e patético.
Aí, já não era o homem decidido, autónomo, cheio de personalidade, que agora fingiu ser. 
Fora do poder, vestiu a pele do lobo; nesse episódio, para não perder o lugar, comportou-se como um cordeiro. 
E como esquecer as suas ameaças antes de ser ministro, dizendo com voz grossa que Portugal não devia pagar as dívidas aos credores, fazendo « tremer as pernas» dos banqueiros alemães? 
Mas depois de se tornar ministro, pagou tudo e mais alguma coisa. 
Aprovou o pagamento dos juros da dívida, aprovou o pagamento a Neeleman para sair da TAP, aprovou o pagamento da indemnização milionária a Alexandra Reis (e possivelmente muitas outras).
E neste último caso o seu comportamento também foi tudo menos sério. 
Começou por dizer que desconhecia o assunto, que não tinha autorizado nada, e acabou a dar o dito por não dito, com uma explicação que não convenceu ninguém. 
Como não convenceu ninguém quando, uns tempos antes, tentou explicar por que razão nunca disse que era sócio de uma empresa da qual o seu pai era o principal acionista, e que se viu envolvida num caso de subsídios indevidos ou pouco transparentes. 

O que fica escrito é suficiente para termos muitas dúvidas acerca deste homem.
Tem uma pose arrogante, de quem não tem medo de nada nem de ninguém, parece frontal e corajoso, pessoa de uma só palavra, incapaz de se envolver em habilidades políticas ou situações menos claras – mas o seu percurso aponta no sentido exatamente contrário: revela um homem pronto a fazer o que for preciso para ter poder, capaz de se desdizer, de se humilhar em público, de omitir com o maior à vontade factos inconvenientes. 
A pose de Pedro Nuno Santos não tem nada que ver com o seu conteúdo. 
É um homem sinuoso e dissimulado – e por isso mesmo perigoso. 

Diz-se que depois do Verão começará a fazer comentário político num canal televisivo.
É mais um facto revelador das suas ambições: ele viu como se salta facilmente do papel de comentador para os lugares de topo da política: recordem-se Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, Fernando Medina, Pedro Adão e Silva… 
E, antes, José Sócrates e Pedro Santana Lopes.
E agora alguns que estão à espreita, como Marques Mendes ou Sérgio Sousa Pinto…
À partida, eu diria que Pedro Nuno Santos dificilmente se adaptará à análise política.
É mentalmente muito rígido, pensa de forma dogmática e pouco analítica, tem um modo brusco de falar.
O papel que agora vai desempenhar comporta, pois, sérios riscos: tanto pode catapultá-lo para cima como cortar-lhe irremediavelmente as pernas.
Vamos ver.