por António Maria Coelho
OCA reformado
Em dezembro de 2022, na primeira página do Expresso em letras garrafais, a notícia alarmante de dois erros graves dos controladores de tráfego aéreo em Portugal. Nas páginas interiores, um pretenso diálogo entre um controlador da torre e o condutor do jeep que assegurava a segurança da pista e que teria corrido sério risco de acidente grave, devido a um esquecimento do controlador.
Pedro Nuno Santos, (PNS), ao tempo ministro das infraestruturas, considerou graves os incidentes, mas sossegou os portugueses, anunciando que o controlador já tinha sido castigado e corrigidas as anomalias detetadas. As conclusões dos processos disciplinares seriam divulgadas até ao final de 2022 o que julgo ainda não ter acontecido.
Poucos dias depois, reparei com espanto que a notícia do Expresso se referia a dois incidentes ocorridos, um em 2021, no Porto e o outro nos Açores, em maio de 2022 !
Alguém estava a querer tramar os controladores.
Para perceber melhor o que se passava pedi ajuda a um velho amigo, que eu sabia ter sido controlador militar e trabalhado em Beja e no Montijo.
Escreveu-me a dizer que o Montijo tinha muitos problemas mas que o pior era a proximidade da reserva de aves que, aos milhares, ali nidificam e descansam nas suas migrações. Recordava-se de dois acidentes provocados por aves, felizmente sem consequências muito graves. Já na altura em que lá trabalhou as pistas estavam em mau estado e que tudo terá que ser destruído, para depois se construir o aeroporto. Também o tráfego aéreo será difícil de gerir devido à proximidade com a Portela. Para ele Montijo seria a pior opção.
Beja não seria apenas um aeroporto ligado a Lisboa, mas sim o centro de um eixo que ligaria Beja a Lisboa, a Sines, a Faro, a Évora e, principalmente através de ferrovia, a Espanha. Todas as regiões do Alentejo seriam altamente beneficiadas na criação de emprego e riqueza.
Reconhece que são assuntos complicados para serem estudados por especialistas mas que para ele Beja seria a melhor opção e a que tem uma vantagem indiscutível e fundamental, já está construído e operacional.
Pedro Nuno Santos ao anunciar, intempestivamente, a decisão do Governo de juntar Montijo ao NAL, garantiu aos portugueses que nada iriam pagar pelo novinho aeroporto, pois seria a ANA a construi-lo e a suportar os custos. Foi desautorizado por António Costa, mas manteve-se no cargo, até ser envolvido na trapalhada da TAP e pedir a demissão.
No meu tempo de controlador não existia ANA nenhuma. A Direção-Geral de Aeronáutica Civil, (DGAC) geria tanto o controle de tráfego aéreo como as operações nos Aeroportos e os serviços acessórios. A primeira ANA, criada em 1998 como empresa pública, foi comprada pela VINCI (uma gigante internacional) em 2013, juntando os seus 10 Aeroportos a mais de 20 aeroportos que a VINCI administra em vários países do mundo.
Pedro Nuno Santos, cujas qualidades, inteligência e ambição parecem ser semelhantes às de José Sócrates, terá pensado que fomentando a construção de um novo aeroporto à custa da Vinci (e não do erário público), ganharia prestígio suficiente para ganhar a corrida à liderança do PS e trunfos para a sua carreira política.
Mas havia um grande obstáculo a transpor neste projeto: o aeroporto de Beja já estava feito e operativo, era preciso que a comissão que ia estudar a localização do NAL fosse só ‘técnica’ e não se preocupasse com aspetos económico financeiros…
Por artes maquiavélicas, a gestão do aeroporto de Beja, foi tão condenada que se criou a ideia de que o aeroporto não ajudaria em nada o desenvolvimento do Alentejo. Essa ideia foi sendo reforçada ao longo dos anos pelos governos de António Costa, ao ignorarem a necessidade de dotarem o aeroporto de serviços essenciais e de, na prática, nada fazerem para criarem os acessos indispensáveis, não aproveitarem a sua localização em relação a Sines, nem fazerem junto das companhias de aviação e das empresas de turismo uma indispensável campanha de promoção do aeroporto de Beja.
E os problemas dos controladores de circulação aérea?
Esses só poderão ser explicado à luz dos princípios de Goebells, bem conhecidos do Governo de António Costa e eu não quero ir por aí.