por Ester Amorim
Professora Universitária de Gestão e Economia
Se fizermos uma avaliação do que representa Portugal no mundo, ficamos orgulhosos com o reconhecimento. Se um cientista, um investigador, um empresário, um desportista, um banqueiro, um político e tantos outros que tem sucesso lá fora o nosso contentamento é demonstrado com o nosso maior símbolo, a nossa bandeira a unanimidade e reconhecimento de uma Nação.
Mas se reportarmos essas manifestações de alegria lá fora e se compararmos com o que se passa cá dentro tudo muda e chegamos à conclusão que Portugal está dividido em dois países. Lá fora os portugueses que se distinguem são reconhecidos e apreciados, cá dentro quem se distingue é motivo de inveja e intriga.
Apesar de sermos um país bem localizado estrategicamente na Europa, com segurança, clima e todas as infraestruturas para um desenvolvimento sustentável, é difícil perceber o nosso atraso e estarmos a ser ultrapassados na qualidade de vida e na economia por países que não eram independentes, subjugados à URSS, há poucos anos e viviam na maior miséria. Se o nosso talento é tão reconhecido lá fora porque é tão ignorado cá dentro?
Se estudarmos a nossa situação social, política e administrativa, chegamos facilmente ao problema da nossa decadência. Um país que exporta a inteligência sem qualquer retorno no custo da sua formação e importa mão-de-obra não qualificada, não pensa em criar riqueza mas sim viver á custa dos subsídios daqueles que a produzem. Quando as forças políticas andam á meses entretidos com um computador para saber quem contactou o SIS é na realidade um país do terceiro mundo. Quando os políticos e os sindicatos se manifestam com a falta de polícias, de médicos, de professores, de juízes, de procuradores e de outras profissões, não estão a pensar nessas falhas, mas sim ludibriar o povo com as suas incompetências.
O que preocupa os portugueses segundo a última sondagem do ICS/ISCTE é saber que se vive um enorme descrédito de confiança nas instituições políticas, 79% não confiam nos políticos, 64% não confiam no Governo, 59% não confiam nos deputados, 51% não confia nos tribunais. Será assim tão difícil perceber porque estamos na cauda da Europa?
O que preocupa os portugueses é saber que os mais habilitados emigram porque cá são ultrapassados por meros dirigentes partidários sem qualquer formação ou competência para os lugares que ocupam. O que preocupa os portugueses é saber que o Senhor primeiro-ministro mantém ministros que já não existem e outros que nunca existiram. Quem é a ministra da Justiça, a ministra da Agricultura, a ministra da Defesa, a ministra dos Assuntos Parlamentares, a ministra da Coesão Territorial, o ministro das Infraestruturas, o ministro da Educação e outros? O que preocupa os portugueses é o Senhor primeiro-ministro confundir Governo com Estado e o seu partido PS ser dono de todas as instituições. O que preocupa os portugueses, segundo as sondagens, é a inação do Governo e o Senhor primeiro-ministro continuar como se só ele está certo e 64% dos portugueses estão errados. O que preocupa os portugueses é saber que 79% não confiam nos partidos nem nos políticos. O que preocupa os portugueses é termos um Governo incompetente e uma oposição sem credibilidade.
As preocupações dos portugueses são as mesmas que o Senhor Presidente da República vem manifestando nas suas intervenções com 69% de confiança elevada. Senhor primeiro-ministro e Senhor líder da Oposição leiam e interpretem as preocupações dos portugueses.