PORT-OF-SPAIN – Não era certamente pela qualidade do futebol praticado que lhe chamaram Paradise Cup. Mas, convenhamos, a Taça das Caraíbas, que se disputou entre 1989 e 2017, tinha os melhores postais do planeta. A última edição (substituída entretanto pela Liga das Nações) teve lugar na Martinica, um Departamento Ultramarino Insular da França, uma ilha com 1100 cerca de 70 mil habitantes, cheia de praias de areia branca e daquele mar azul-impossível ao qual a malta do pantone por vezes chama azul-caraíbas. Há muitos anos, havia um anúncio de objetos higiénicos para senhoras que afirmava: «Não é a melhor coisa do mundo… mas anda lá tão perto». Deixemos de lado o aspeto pícaro da coisa, nem estou aqui a comparar o futebol do Caribe a intimidades sejam de que qualidade forem. Agora que a competição se jogava tendo como pano de fundo paisagens de tirar o fôlego, aí não há como negá-lo. A primeira edição foi precisamente em Barbados, onde estive há dias com o selecionador nacional, o português Orlando Costa. As 19 Taças das Caraíbas foram assim distribuídas em termos de organizadores: Barbados (1989; 2005); Trindade e Tobago (1990, 1992. 1994, 1996, 1999, 2001, 2007); Jamaica (1991, 1993, 2008., 2014); Ilhas_Caimão (1995);_Antigua e Barbuda/Saint Kits & Nevis (1997); Jamaica/Trindade e Tobago (1998); Martinica (2010 , 2017);_Antígua e Barbuda (2012) – vamos e venhamos – ninguém pode dizer que não são sítios ideais para pelo menos um quinzena de férias. Já o futebol é outra coisa. Até porque na maior parte de todos estes países e territórios, o desporto preferido é o críquete. Como não haveria de ser se foram colónias carregadas de ingleses finórios.
História
As ilhas do Caribe são muitas e mesmo a maioria das que continuam a ser territórios ultramarinos da Inglaterra, da França e da Holanda têm uma espécie de independência futebolística, filiadas na FIFA e com seleções próprias. Por isso, em 1978, foi criada a Carabbean Football Union Cup com o objetivo de servir de filtro à Gold Cup, isto é, eliminatórias de acesso à prova mais importante da CONCACAF (Confederação da América do Norte Central e Caraíbas). A_CFU_Cup durou até ao início da tal taça dos postais, a Taça das Caraíbas, assunto que aqui nos trás. Martinica (2), Trindade e Tobago (2), Suriname e Haiti sagraram-se vencedores das seis edições da prova. E não estranhem ver aqui o Suriname porque a CONCACAF resolveu absorver alguns países continentais como Suriname, Guiana e Honduras, por exemplo.
Entretanto mete-se a companhia petrolífera Shell ao barulho. E, com um patrocinador de tal envergadura, havia forma de fazer da CFU_Cup algo de mais imponente. E daí para diante, Jack Warner, presidente da CONCACAF e vice-presidente da FIFA, um dos homens de mão de João Havelange e, depois, de Sepp Blatter, tratou de ir negociando o patrocínio da prova como quem gere um leilão, trocando a Shell pela Umbro, trocando a Umbro pelo_Asia Sport Group, depois pela Traffic, pela Digicel e por aí fora, enchendo cada vez mais os cofres da Confederação e os seus bolsos até acabar por ser preso, em Zurique; e condenado por fraude e lavagem de dinheiro.
A primeira edição da_Caribbean Cup foi disputada em Barbados a despeito de só haver na ilha um campo em condições. A vitória de Trindade e Tobago na final frente a Granada (2-1) marcaria o início da superioridade tobaguenha na competição, tendo acumulado oito títulos contra seis da Jamaica. Além destes dois só houve mais quatro vencedores, cada um com apenas um troféu – Cuba, Haiti, Martinica e Curaçau.
Hoje em dia, a Liga das Nações é que serve para decidir os finalistas da Golden Cup, o torneio mais importante da América do Norte e das Caraíbas que tem sempre a sua fase final marcada para os Estados Unidos, tendo sido duas vezes co-sediada pelo México (1983 e 2003) e uma vez pelo Canadá (2015). Um entendimento que conduziria à organização tripartida por estes países para a próxima fase final do Campeonato do Mundo em 2026.