por José Maria Matias
Aluno do mestrado de Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Nova de Lisboa
Existem alguns critérios pelos quais podemos avaliar os partidos políticos. A representatividade, ou seja, se o partido representa uma franja do eleitorado que estava órfã de representação. Parece-me que ao cumprir este critério, está automaticamente justificada a sua existência. No entanto, penso que existe um outro que continua a ser muito relevante: a utilidade do partido político dentro do sistema que se insere. Ou seja, em que espetro político se encaixa, à direita ou à esquerda, conservador ou progressista ou em qualquer outra linha política que possa identificar-se. Todas essas linhas ajudam a compreender a utilidade de um partido para a governabilidade do país. Essa questão, inicialmente, colocou-se ao PAN em 2015, que afirmava não ser um partido de esquerda ou de direita. Mais tarde, alinhar-se-ia com o PS em oposição a qualquer força conservadora, mantendo até hoje essa posição. Tal dilema também se colocou, durante muitos anos, ao PCP que não servia para a governabilidade, mas que tinha um peso histórico preponderante para o sistema partidário. Posteriormente, colocar-se-ia ao BE, mas que também seria quebrado pela ‘gerigonça’.
Parece-me, cada vez mais, que essa questão colocar-se-á à Iniciativa Liberal. O ser ‘liberal em toda a linha’ tem custos e um dos quais poderá ser a sobrevivência política do partido. Há dois fatores a considerar: primeiro, cada vez mais a realidade política mundial tem mais peso na forma dos partidos atuarem do que a própria realidade nacional; o segundo, fruto do primeiro, é que a batalha cultural ganhará um protagonismo maior. Aliás, existe uma consciência clara de que a cultura influencia diretamente a economia, algo que durante muitos anos o centro-direita ocidental ignorou.
Nesse sentido, a IL tendo uma visão económica que a afasta do socialismo e da extrema-esquerda, tem uma mundividência cultural que a afasta inequivocamente do conservadorismo. Sendo um partido altamente ideológico, tem sempre o problema de ser absolutamente inflexível. Como tal, pela sua inflexibilidade e mundividência torna-se muito difícil contar com a IL quer à esquerda ou à direita. É legítimo perguntar: para que serve a IL? No limite, está mais agarrada à missão de provar que o liberalismo funciona, do que fazer o país funcionar. Reparem que as duas coisas até podem representar caminhos opostos. Isto é, a IL pode ficar numa posição, em que se sente imbuída a sobrepor a ideologia à realidade, sem compreender as consequências.
No quadro da discussão à direita sobre uma alternativa ao socialismo, num cenário de eleições antecipadas com possibilidade de mais do que um tipo de maioria no parlamento, o papel da IL parece-me próximo da inutilidade, mas não deixa de ser curiosa a posição do PSD. Por um lado, as elites do partido, desejam fazer da IL um novo CDS, o que não é. Por outro, as suas bases repudiam a IL e sentem-se mais próximas do CHEGA. Ironicamente, contra todas as previsões, o CHEGA oferece mais perspetivas para uma estabilidade governativa à direita do que a IL, quer pela sua base eleitoral alargada, quer pela mundividência próxima daquilo que tem oferecido a estabilidade governativa em vários países europeus. Aliás, viu-se agora no caso das eleições municipais em Espanha, onde o VOX ofereceu a possibilidade de formar maiorias estáveis à direita juntamente com o PP e afastando o PSOE.
Não tendo certezas, mas parece-me que se fosse hoje, a IL não contaria para qualquer diálogo construtivo à direita que nos permitisse afastar o principal problema do país: o PS.