Por Luís Castro Jornalista
O secretismo é poderoso, forja lealdades, mas atrai problemas.
Súbditos de ninguém, sempre se disseram não políticos, mas nunca um conspirador deixou de o ser. Penetraram na sociedade, pensaram-na pela Liberdade e Igualdade, pela Democracia e pela Tolerância com Fraternidade. Não foram secretos, antes discretos. Havia cidadãos de terra nenhuma e usavam luvas para que não se distinguissem pelas mãos.
Mas Portugal mergulhou a consciência no nevoeiro. A política ficou chata; os políticos são comentadores – as mesmas vozes e as mesmas escritas. Não se ouvem escritores, poetas ou pintores e os generais envaideceram-se e teimam em não voltar aos quartéis. O jornalista Adelino Gomes dizia-me que se houvesse quatro televisões a transmitir todo o dia, o PREC ainda hoje não teria acabado.
Temos uma democracia com baixo grau de cidadania; a crítica descamba para o insulto pessoal; o espaço público não ultrapassa as opiniões e falta-lhe ideias – opiniões não são conhecimento. Os media que deviam abrir-lhe espaço, fecham-no. José Gil diz-nos que a Televisão é uma pura miséria e que nos Jornais restam poucas brechas por onde corra um pouco de ar fresco.
Temos mais informação, mas menos sabedoria e conhecimento.
Facilmente tropeçamos na escuridade da ilusão e da ignorância. Por isso, não precisamos de mais informação, mas de mais profundidade. E já não se ouve, julga-se. Juízes investigam para jornalistas e jornalistas julgam pelos juízes. São júris e carrascos.
Ser diferente tornou-se indecente e as almas vulgares impõem a vulgaridade. Há icebergues à deriva; espreitam os aspirantes a ditadores e a velhacaria habitual sequestrou a sociedade civil. E nós, as bestas, que tropeçamos na escuridade da ilusão e da ignorância, não sabemos para onde vamos, porque simplesmente não vamos.
Não se lê nos livros mais do que os títulos; os absurdos são mais eficazes do que as verdades e as mentiras capturam os medos. Extremistas piscam os olhos aos violentos e os populistas, esses grandes estranguladores das civilizações, introduzem novas ordens e apagam-nos as luzes para que todos sejamos pardos.
A mensalidade da casa dobrou, pessoas morrem à porta dos hospitais, os velhos continuam a ser abandonados ou despejados em lares e temos impostos que nos sugam até à medula, mas o mais importante é onde se vão plantar canas-de-açúcar ou marchar pelo orgulho. O horizonte encolheu terrivelmente e já não se abalam os espíritos.
A Europa agoniza. O velho continente mergulhou na mediocridade intelectual e os liberais europeus já não se concentram na Liberdade, antes no politicamente correto. A extrema-direita avança e estes líderes da União, que preferiram a guerra à diplomacia, acabarão todos apeados pela direita ou extrema-direita, não tarda nada.
De Bruxelas, os ocos – aqueles e aquelas que não têm ideias, quanto mais Ideais -, querem-nos mais pobres e até que percamos a casa, mas Ursula von der Leyen, Charles Michel e Christine Lagarde ganham num só dia o dobro do salário mínimo português. Devíamos estar ocupados a fazer-lhes perguntas – afinal onde está o maior risco, no Estado ou no Mercado?
Os liberais graduaram-se no capitalismo e a maioria das crises vieram da banca e do sistema financeiro, apadrinhados que foram por governos fofinhos. Mas isso não se discute porque, quando for necessário salvá-los, vão buscar dinheiro ao bolso contribuinte. Na tradição judaico-cristã há que atribuir a culpa, por isso o norte da Europa olha-nos como o marido que trabalha e o sedutor que é vadio.
Magalhães Lima, há cem anos, já refletia sobre a luta do velho mundo que quer manter os dogmas e os privilégios perante uma nova sociedade que quer justiça para todos; e alertava para a necessária condenação e repulsa aos traficantes dos bons princípios para fins pessoais. Para os que permanecem, o combate será doloroso e prolongado. Mas quantos restam?
Este Portugal democrático de hoje é, ainda, uma sociedade com medo, o que Salazar que nos deixou – ele não se vê mas ainda se sente. E para nos tornarem ainda mais estúpidos, alimentam-nos a resignação para nos levar à impotência e a passividade para que nos entreguemos nos braços da inércia.
O espaço público essencial à democracia está-nos a ser roubado. Vieram os tecnocratas, os ‘tudologistas’ e os ‘vulgarólogos’, caíram as elites e o país desabou; mataram a classe média e o país deslaçou; esqueceram os pobres e o país lamuriou; não deixaram que os jovens vivessem a sua juventude e o país sangrou; esqueceram os velhos e o país insensibilizou. Ganharam os medíocres, o país celebrou e no ‘bairro alto’ se bocejou.