por Roberto Cavaleiro
Tomar é a minha cidade natal há mais de trinta e cinco anos, durante os quais assisti a oito destas históricas festas quadrienais, a última das quais terminou a 09 de junho. Durante oito dias, cerca de meio milhão de visitantes lotaram as estradas e vielas da nossa pequena cidade que é famosamente associada aos Cavaleiros Templários e seus sucessores – A Ordem de Cristo.
Os habitantes das estreitas ruas medievais do centro histórico competiram para apresentar a decoração mais inovadora, mas tradicional. Guirlandas coloridas cruzavam as varandas das quais estavam pendurados edredons exibindo todo tipo de decoração, enquanto abaixo homenagens florais estavam espalhadas pelos caminhos. Nas praças, parques e logradouros este desenho decorativo foi repetido para potenciar a apresentação de exposições de artesanato, feiras livres, jogos competitivos (como o cabo-de-guerra) e apresentações ao vivo de música popular.
Este festival da colheita remonta aos tempos pagãos, quando o solstício de verão e a deusa Ceres eram celebrados pela apresentação de produtos agrícolas e as virtudes de uma população local núbil. Distingue-se em Tomar por uma série de procissões e missas que culminam no oitavo dia com uma assembleia na grande praça de mais de mil participantes vestidos de branco e preto com bandeirolas e gravatas carmesim. Destas, seiscentas jovens carregam como adorno de cabeça uma bandeja de confeitaria desenhada individualmente, carregada de pãezinhos entrelaçados com feixes de trigo e flores de papel encimadas por uma coroa metálica. Cada um pesa cerca de 18 kg. e finalmente é abençoado pelo bispo diocesano antes que o pão “Pêza” seja distribuído com cestas de produtos aos necessitados locais.
A publicidade do turismo pode muito bem descrever este como um evento português único, mas para os tomarenses é essencialmente uma regeneração progressiva do orgulho local com pais e avós a verem os seus filhos e a recordarem os seus dias distantes de participação como figurantes. Viva Tomar e a sua Festa dos Tabuleiros.
Tomar 12 de julho de 2023