A segunda maioria de Sócrates…

O Estado de Direito arrisca-se a ser uma ficção. A segunda maioria absoluta socialista imita muito bem a de Sócrates… Acudam!…

Muito menos triunfal do que o regresso à bancada parlamentar de Pedro Nuno Santos – o ex-ministro que quis poupar o Governo à maçada da localização do novo aeroporto de Lisboa -, foi a exoneração de mais um obscuro ‘ajudante’ socialista, suspeito de ganhar uns ‘trocos’ em negócios na Defesa.

Ao contrário de Pedro Nuno, que não conseguiu ser demitido à primeira, nem do ‘ex-ajudante’ João Galamba, que ainda está à espera que o deixem demitir-se, este Capitão Ferreira não teve a mesma sorte. 

Em duas penadas, e no mesmo dia em que as polícias lhe bateram à porta, manhã cedo, com um mandado de busca, o ex-governante viu-se constituído arguido e demitido, com carimbo lesto de Belém, a lembrar um outro caso que ficou célebre. 

Quem já esqueceu o adjunto, Miguel Alves, uma escolha pessoal de António Costa, que, num ápice, ficou também ‘fora de jogo’, ‘expulso de campo’ com a trouxa às costas, de volta às origens em Caminha, onde ainda se espera pelo lançamento da primeira pedra do pavilhão multiusos para o qual a respetiva Câmara, sob a sua presidência, adiantou uma choruda maquia.

Se alguém ainda duvidar da capacidade empreendedora das gentes do PS, basta lembrar a sucessão de ‘casos e casinhos’, pelo menos desde que José Sócrates deu o seu superior exemplo, em nome do qual continua a ser ‘perseguido’ pela Justiça que, há quase uma década, o obriga a derreter as melhores poupanças, para pagar as elevadas remunerações dos seus advogados e as custas judiciais de dezenas de recursos, sem conseguir, até hoje, o almejado arquivamento da totalidade do rol das acusações.

É certo que a lista ficou bastante aliviada, graças à boa vontade do juiz (agora desembargador) Ivo Rosa, outra ‘estrela’ em ascensão no firmamento da magistratura portuguesa. Mas as esquisitices da Justiça ainda não o livraram das apresentações regulares na esquadra da Ericeira. 

 

Foi para evitar, aliás, mais surpresas, que o primeiro-ministro se lembrou de sujeitar futuros convidados para o executivo a um exigente questionário, antes de serem admitidos ao serviço da Nação.

Sucede que, apesar do novíssimo escrutínio, a demissão abrupta de Capitão Ferreira na Defesa veio por em causa esse desiderato, perfazendo treze renuncias forçadas em 15 meses de governação, entre ministros e ‘ajudantes’. Não há memória de nada parecido.

Por tudo isto, percebe-se bem que tanto a Entidade da Transparência como o Mecanismo Nacional Anticorrupção continuem a ‘marcar passo’, respetivamente, desde 2019 e 2021, quando foram criados por lei, sem as condições mínimas para funcionar, algo que não ‘tira o sono’ a António Costa, a quem falta o tempo para tais minudências. 

O primeiro-ministro tem, de resto, uma atitude sui generis, quer em relação a ex-governantes a contas com a Justiça, quer no tocante ao fenómeno da corrupção que mina a democracia, quer ainda sobre as conclusões do relatório da CPI da TAP, do qual se incumbiu uma zelosa deputada socialista, com resultados surpreendentes. 

A indignação perante o branqueamento do relatório prêt-à-porter da CPI da TAP – elaborado como se fosse uma encomenda do Governo, ‘esquecendo’ Pedro Nuno Santos e João Galamba – foi ‘sol de pouca dura’. 

Em defesa do Governo saiu logo o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, um reconhecido surfista e ex-comentador, que tratou, com fina elegância, os deputados da CPI como «uma espécie de procuradores do cinema americano de série B da década de 80». Um cinéfilo da escola dos ‘piolhos’ de Lisboa…

Por estranho que pareça, o presidente da Comissão, Lacerda Sales, não gostou e, embora socialista também, teve a decência de defender os trabalhos dos deputados, e de reprovar a conduta imprópria do ministro, considerando-a uma «falta de respeito» e instando-o a que «se retrate destas declarações». Sabe-se já que pode esperar sentado…

É claro que há quem teime, por pirraça, em não validar os méritos deste Governo, preferindo criticar a relatora da CPI, que se limitou a costurar o que viu e ouviu – não podendo ser culpada por tudo aquilo a que ficou surda e lhe passou ao lado.

Pedro Nuno pôde, assim, reocupar o seu lugar de deputado, para «apoiar o Governo» – acolhido em êxtase por Marta Temido -, isentado de quaisquer pecadilhos enquanto ministro com a tutela da TAP, não obstante as vergonhas a que se submeteu para não sair do Executivo, depois de decidir o aeroporto nas costas do chefe…

E Galamba soma e segue como ministro, mesmo contra a vontade expressa de Marcelo, que alvitrou, em vão, que Costa cortasse os ‘ramos mortos’, antes que estes contaminassem toda a árvore. 

Pedra a pedra o edifício autoritário vai ganhando forma em Portugal. O Estado de Direito arrisca-se a ser uma ficção. A segunda maioria absoluta socialista imita muito bem a de Sócrates…. Acudam!…