Antilhas o mistério da velocidade

Os pequenos países do Caribe apresentam-se de há anos para cá com tremendos velocistas sempre candidatos ao ouro nos Jogos Olímpicos.

BRIDGETOWN – Esta pequenina ilha de Barbados, a mais a sul e todas as que formam aquilo que chamamos Antilhas, tem um heróis olímpico. O seu nome é Obadele Thompson, conhecido por Oba, atualmente advogado com carreira ligada à política mas que, nos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000, conquistou a medalha de bronze nos 100 metros, com um tempo de 10.04 segundos, atrás do americano Maurice Greene (9.87) e do tobaguenho Alto Boldon (9.99). Se formos consultar os canhenhos deparamos com o facto de Oba ser o único medalhado olímpico de Barbados. Ora isto não é inteiramente correto porque nos Jogos de Roma, em 1960, outro natural da ilha, James Wedderburn, também chegou ao bronze, embora inserido na equipa de estafeta das Índias Ocidentais Britânicas de 4X100 com três colegas jamaicanos.

Não ficamos propriamente espantados com a proeza de Obadele pela simples razão de estarmos desde há muito habituados a este facto indesmentível – os caribenhos têm dado ao atletismo mundial alguns dos maiores velocistas de todos os tempos. Um mistério? Talvez. Ou melhor, uma predisposição física e cultural para explorarem esse campo do atletismo.

É preciso começar por dizer que nem todos os territórios das Caraíbas têm comités olímpicos. Alguns deles, sendo territórios ultramarinos de França, Inglaterra e Holanda, não participam de forma independente. Ainda assim, outros há que fugiram a essa regra, como são os casos de Bermuda, Ilhas Virgens Britânicas e Caimão (Reino Unido), Porto Rico e Ilhas Virgens Americanas (EUA) e Aruba (Holanda). 

Haiti e Cuba foram os primeiros representantes do Caribe em Jogos Olímpicos – 1900, em Paris. Coletivamente, as Antilhas já somaram a ninharia de 391 medalhas olímpicas, sendo 129 de ouro, 124 de prata e 138 de bronze. Impressionante se nos debruçarmos sobre o tamanho e população destes territórios espalhados em fileira num mar azul-impossível. Cuba parte na frente com um total de 233 medalhas, seguida da Jamaica com 88.
As Bahamas, por exemplo, um grupo de mais de 700 ilhas que não vai além do total de 13.878 km2 com menos de 400 mil habitantes, tem por conta 16 medalhas olímpicas. Se uma de bronze e uma de ouro se ficaram a dever aos desempenhos de velejadores, todas as outras foram ganhas em provas de velocidade, destacando-se Steve Gardiner (ouro nos 400 metros de 2020, em Tóquio), Shaunae Miller-Uibo (ouro nos 400 metros femininos de 2020, em Tóquio), Pauline Davis-Thompson (ouro nos 200 metros femininos em Sidney, 2000), Tonique Williams-Darling (ouro nos 400 metros femininos de 2004, em Atenas), ou a equipas feminina de 4X100 (ouro em Sidney, 2000) e masculina de 4X400 (ouro em Londres, 2012).
Nos anos mais recentes, um jamaicano chamado Usain Bolt tornou-se numa das maiores figuras do atletismo de todos os tempos, colecionando uns quilos largos de ouros em Jogos Olímpicos e Campeonatos do Mundo. 

Os primórdios

A primeira medalha olímpica caribenha foi conquistada surpreendentemente por um cubano de 17 anos chamado Ramón Fonst, que se intitulava com protérvia El Nunca Segundo, em 1900 (Paris), na modalidade de esgrima. Os sprinters surgiriam um pouco mais tarde, a seguir a uma leva competitiva de boxeurs e de velejadores. Arthur Stanley Wint, nascido em maio de 1920, em Plowden, na Jamaica, foi o predecessor das dezenas de fantásticos velocistas das Antilhas que têm aparecido em todas as edições dos Jogos. Media 1,94 e era conhecido por The Gentle Giant. Em Londres 1948 foi ouro nos 400 metros e prata nos 800; em Helsínquia 1952 foi ouro na equipa dos 4X400 e prata nos 800. 

1976 Montreal, Canadá: havia muita gente que não conhecia sequer os países de vários dos medalhados de ouro que surgiram a torto e a direito. Hasely Crawford ganhou, nos 100 metros, a primeira medalha de ouro da história de Trindade e Tobago. Nos 200 metros o ouro foi para o jamaicano Don Quarrie – mas a Jamaica já toda a gente conhecia, não é à toa que soma 88 medalhas olímpicas, 26 delas de ouro (Portugal, por exemplo, tem 28 e só cinco de ouro) e revelou nomes como Marleno Ottey ou Asafa Powell.
 Londres 2012 trouxe-nos um fenómeno de Granada, Kirani James, que ganhou os 400 metros de forma explosiva, sendo seguido de Luguelín Santos que levou a prata para a República Dominicana. Nos últimos Jogos, em Tóquio, Flora Duffy ganhou o triatlo e fez das Bermudas o país menos populoso de todos a ganhar uma medalha de ouro. O mistério não é sinistro como o do sinistro Triângulo. Mas não deixa de ser admirável.